“Claramente temos pela frente uma queda do mercado publicitário”, diz CEO da Media Capital
Dona da TVI pretende anunciar no próximo ano as primeiras produções em português para as grandes plataformas de "streaming". Vai também apostar em conteúdos vídeo para o telemóvel.
O mercado publicitário deverá encolher em 2023, prevê Pedro Morais Leitão, presidente executivo do Grupo Media Capital. O próximo ano irá trazer também novos projetos para a dona da TVI, que espera anunciar as primeiras parcerias para a elaboração de conteúdos em português para as grandes plataformas de streaming mundiais.
“Claramente temos pela frente uma queda do mercado publicitário. Vemos pela frente muita incerteza em relação às receitas”, afirmou Pedro Morais Leitão durante a Transatlantic Business Summit 2022, uma conferência da Câmara de Comércio dos EUA em Portugal, que decorreu esta terça-feira, na Culturgest, em Lisboa. “Agora em novembro e dezembro tivemos dificuldade em prever quais serão as vendas da próxima semana, e isto é raro num mercado que trabalha com seis principais clientes, que são as agências de meios”, acrescentou o presidente executivo da Media Capital, que ocupa o cargo desde final de junho.
Neste momento, todos nós temos dificuldade em prever o que vai acontecer, mas parece que as coisas vão no mau sentido.
A Media Capital teve receitas de 123,9 milhões no primeiro semestre de 2022, um número impulsionado pela venda das rádios do grupo à alemã Bauer por 69,6 milhões de euros. O CEO afirma que a dona da TVI “terá este ano cerca de 160 milhões de receitas e entre 11 e 12 milhões de euros de EBITDA”. “Desses 160 milhões, 100 milhões vêm das ditas seis agências de meios, que são os grandes distribuidores de publicidade a nível nacional”, diz também, aduzindo “que elas próprias têm dificuldade em prever o que vai acontecer” em 2023.
“Normalmente, a publicidade é um mercado muito reativo à evolução do PIB e, em particular, do consumo privado. Neste momento, todos nós temos dificuldade em prever o que vai acontecer, mas parece que as coisas vão no mau sentido. Muito provavelmente, juntamente com as consultoras e outras atividades do género, seremos os primeiros a saber que a economia está a correr mal“, disse também Pedro Morais Leitão na conferência da Amcham Portugal, de que a CNN e o ECO foram media partners.
Conteúdos para as grandes plataformas de streaming
O próximo ano não irá trazer apenas uma retração do mercado publicitário. O CEO da dona da TVI tem na calha projetos que vão ao encontro daquilo que considera serem as grandes tendências da indústria, como o peso crescente do streaming.
O conceito de televisão gratuita, sobre o qual foi fundada a televisão nos anos 70, morreu.
“Esta crise vai acelerar tendências que já estão em curso há vários anos, e que, em grande medida, provocaram a mudança que eu sinto no setor entre o momento em que saí dele, em 2008, e em que voltei a entrar, em 2022”, afirma Pedro Morais Leitão. A primeira tendência é o crescimento da televisão paga.
“Em 2007, mais de 50% dos agregados familiares portugueses recebiam em casa apenas quatro canais, que recebiam gratuitamente pela chamada televisão terrestre. No ano passado, 110% dos agregados familiares tinham televisão por subscrição. Isto quer dizer que não só a maioria dos lares está com televisão paga, como também a têm em segundas casas. O conceito de televisão gratuita, sobre o qual foi fundada a televisão nos anos 70, morreu“, considera o responsável.
A televisão digital terrestre (…) é um tema que para nós está morto, apesar de a Altice ainda advogar uma renovação de licença no final do próximo ano.
Mesmo a televisão digital terrestre (TDT) é um tema que para a Media Capital “está morto”, ainda que a Altice mantenha o interesse. A intenção de renovar a licença tem de ser comunicada pela Altice um ano antes de terminar, segundo noticiou o Dinheiro Vivo. Há um mês, o secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes, disse no Parlamento que “não há nenhum risco da TDT em Portugal acabar”, referindo que seria encontrada uma alternativa se a operadora não quisesse continuar.
Face ao “domínio que os operadores de telecomunicações têm sobre o setor da televisão”, Pedro Morais Leitão considera “importante continuar a desenvolver projetos de novos canais, novos conjuntos de conteúdos”, como aconteceu com a CNN, “um projeto que tem tido muito boa recetividade editorial” e para o qual espera “bons resultados financeiros”.
Gostaríamos de ao longo do próximo ano anunciar esforços que temos estado a fazer já há uns meses para começar a produzir conteúdos de língua portuguesa para as grandes plataformas mundiais.
Outra tendência que aponta é o streaming, cujas plataformas, como a Netflix ou a Amazon Prime, são agora concorrentes dos canais de televisão. O objetivo é que sejam também parceiras. “Gostaríamos de ao longo do próximo ano anunciar esforços que temos estado a fazer já há uns meses para começar a produzir conteúdos de língua portuguesa para as grandes plataformas mundiais“, revela o CEO da dona da TVI.
A terceira tendência é a “universalidade do smartphone“. “É raro, hoje em dia, algum de nós ver televisão em casa à noite sem ter um telemóvel na mão. A atenção que se dedica à televisão é, neste momento, dividida com a atenção que se dedica ao telemóvel e isso para o setor dos média é uma grande alteração”, aponta o gestor. Também neste caso a Media Capital está a desenhar uma resposta.
“Gostávamos de reinventar a televisão portuguesa para o contexto do pequeno ecrã. Isto é algo que é uma frente muito pioneira a nível mundial, mas começa-se a ver os primeiros esforços e os primeiros resultados desses esforços. Gostávamos de estar na onda da frente do que se pode fazer em conteúdos vídeo, em português, para o telemóvel“, afirma Pedro Morais Leitão.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
“Claramente temos pela frente uma queda do mercado publicitário”, diz CEO da Media Capital
{{ noCommentsLabel }}