Mais de 40% dos bancos da Zona Euro afasta aumento dos juros dos depósitos

Há cada vez mais instituições financeiras que preveem melhorar a remuneração dos depósitos, mas muitas ainda resistem. Centeno mantém pressão sobre a banca portuguesa.

A discussão em torno dos juros dos depósitos não se restringe a Portugal. Na Zona Euro, ainda há um número considerável de bancos que resiste (pelo menos, para já) a aumentar as remunerações das poupanças das famílias, isto apesar das taxas de referência do banco central terem subido 2,5% desde o verão passado. Por cá, o governador do Banco de Portugal manteve esta semana a pressão alta sobre o setor, que têm de compensar melhor a confiança dos seus pequenos aforradores.

Dados de um inquérito da Autoridade Bancária Europeia (EBA) publicado esta quinta-feira dão conta de que um número crescente de instituições prevê aumentar os juros dos depósitos das famílias: eram 22% na edição de primavera do Questionário de Avaliação de Risco realizada pelo supervisor europeu e são 57% na edição de outubro que acabou de ser divulgada.

Mas os mesmos dados ajudam a mostrar outra realidade menos positiva: mais de quatro em cada dez bancos (43%) não vê razões para remunerar melhor os seus depositantes, que nos últimos anos estiveram altamente pressionado por causa da política de juros baixos do Banco Central Europeu (BCE) e continuam hoje em dia sem grandes motivos para sorrir, apesar de o cenário de taxas mínimas ter terminado no verão passado.

Perante a escalada da inflação na região, o banco central liderado por Christine Lagarde foi obrigado a subir as suas taxas de referência, incluindo a sua taxa de depósitos, que saltou dos -0,50% em julho para os 2,00% atuais. Supostamente, era o que seria preciso para os bancos mexerem nas taxas com que remuneram os depósitos dos seus clientes. Isso aconteceu apenas parcialmente e, sobretudo, lá fora.

Depósitos portugueses pagam 3,5 vezes menos

Fonte: Banco de Portugal

Os bancos da Zona Euro já pagam mais de 1% pelos novos depósitos a prazo até um ano (1,12%), uma subida de 0,9 pontos percentuais em relação a junho (dados do Banco de Portugal a novembro. Em Portugal, o ritmo de subida tem sido muito mais lento do que os pares europeus: as instituições portuguesas ainda só pagavam 0,31% aos depositantes (mais 0,24 p.p.), o que é 3,5 vezes menos do que a média da Zona Euro.

Conferência "O Impacto da Nova Ordem Mundial na Economia Europeia" no CCB - 27SET22

Centeno pede paciência, mas mantém pressão alta

Mário Centeno, que já por mais do que uma vez chamou a atenção dos bancos para a sua “função social” de remunerar as poupanças das famílias, voltou a fazer alta pressão junto do setor esta semana, embora tenha pedido aos portugueses “alguma paciência”.

Falando no Parlamento, o governador do Banco de Portugal ouviu reclamações dos deputados de todos os grupos parlamentares em relação a este tema. Centeno concordou com eles, afirmou que os bancos já começaram esse caminho de subida dos juros dos depósitos, mas ainda é insuficiente.

“É verdade que as taxas de juro nos depósitos têm e devem acompanhar a evolução das taxas de juro. Já começaram a fazê-lo. Se me pergunta se a dimensão é suficiente, a resposta é clara: não”, afirmou o governador.

Segundo Centeno, este processo de subida dos juros dos depósitos “está em curso” e ele próprio gostaria que continuasse nos próximos meses.

Questionados sobre este tema, os bancos têm escondido o jogo, sobretudo por questões de reserva em relação à política comercial que seguem, embora tenham sinalizado que contam subir, mas para níveis não muito expressivos.

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