Uma cidade sustentável, mas inclusiva

  • Inês Pinto da Costa
  • 7 Fevereiro 2023

A eletrificação da frota tem vantagens ambientais óbvias, mas não resolverá o problema a montante: o crescente congestionamento. A solução implica um investimento adicional e simultâneo.

As viagens de carro são uma parte essencial da nossa rotina. Também os impactos delas resultantes afetam o nosso dia-a-dia. E se por um lado, o trânsito influencia a nossa capacidade de cumprir horários, aceder a serviços ou visitar amigos e família, por outro, os transportes são a espinha dorsal da economia global moderna, permitindo o movimento de mercadorias, serviços, capitais e pessoas entre países. A liberdade de movimento de pessoas e mercadorias não é possível sem infraestruturas e sem transportes (que cada vez mais se pretendem eficientes e sustentáveis).

Os transportes são o setor que mais contribui para a emissão de gases com efeito de estufa na União Europeia, tendo representado cerca de 31% do total de emissões em 2019. As desvantagens do atual sistema de transportes urbanos são amplamente conhecidas: não só os carros a combustíveis fósseis causam poluição e consequentes gases com efeito de estufa, como ainda têm efeitos na saúde (física e mental) de todos os que habitam ou trabalham nas cidades. A tudo isto acresce o facto de o tempo passado no trânsito afetar – cada vez mais – a qualidade de vida e tempo disponível dos seus utilizadores.

A redução do impacto deste setor tornou-se uma preocupação central para governos e empresas – e, nesse sentido, pretende-se incentivar a inovação para o desenvolvimento de novas soluções de mobilidade que são, não só economicamente acessíveis, mas também eficientes e pouco (ou nada) poluentes.

As medidas potencialmente implementáveis no curto/médio prazo estão já bem identificadas há muito: eletrificação da frota automóvel, mudança na forma de transporte (mode shift) e mecanismos de redução na procura por viagens motorizadas.

A eletrificação da frota tem vantagens ambientais óbvias, mas não resolverá o problema a montante: o crescente congestionamento. A solução implica um investimento adicional e simultâneo que permita e incentive a mudança de mentalidade no que toca ao transporte individual – um investimento no aumento da oferta de autocarros, comboios e metropolitano, e a simultânea criação de políticas urbanas e urbanísticas de proximidade (ciclovias, acessos para pessoas de mobilidade condicionada e promoção de serviços de bairro) e transporte não motorizado (permitindo também alcançar outros benefícios a nível de saúde). Só a implementação conjunta destas medidas poderá levar efetivamente a uma redução dos veículos em movimento dentro da cidade, bem como à redução dos custos individuais com a propriedade e combustível dos veículos e das emissões de gases com efeito de estufa, com a consequente diminuição do congestionamento e do tempo de deslocação.

A urgência e importância da interligação entre três medidas – carros elétricos mais eficientes, mudança de mentalidade acerca da forma de transporte e redução da procura por transporte motorizado – é bastante evidente e tem o potencial de gerar elevadas sinergias. Mas uma mudança não se faz apenas de declarações de intenções e de objetivos acordados em cimeiras e encontros nacionais e internacionais. E uma cidade existe para servir e dar qualidade de vida aos seus cidadãos. Não havendo dúvidas dos benefícios implícitos destas medidas, haverá que as adotar com urgência, mas, também, com alguma cautela… porque uma cidade existe e vive com todos os seus habitantes e todos os que a visitam durante os dias e as noites.

  • Inês Pinto da Costa
  • Sócia da área de Energia da PLMJ

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