Bolsa perde 1.400 milhões em quarta-feira negra para a banca europeia
Receios com o Credit Suisse alastraram-se ao setor financeiro e contagiaram bolsas europeias. PSI perdeu 1,4 mil milhões em market cap em apenas oito horas. BCP caiu 9%. Galp cedeu 7%.
Com o Credit Suisse em queda livre, as bolsas europeias tiveram uma sessão de nervosismo como há muito não viam. Por cá, o índice de referência nacional perdeu mais de 1,4 mil milhões de euros em capitalização bolsista em apenas oito horas e meia de negociação, com o BCP a tombar mais de 9% e a Galp a derrapar mais de 7%.
“O medo voltou a dominar os mercados, preocupados com a repetição de crises passadas – uma em particular, por razões óbvias – e as implicações para o sistema financeiro e para a economia global. Claro, isso é natural quando tão pouco se sabe sobre a situação [do Credit Suisse] e o que isso significa para a saúde do resto do sistema”, referiu Craig Erlam, analista da Oanda.
O PSI registou a pior sessão em seis meses, ao cair 2,77% para 5.812,87 pontos, arrastada pela maré vermelha que varreu toda a Europa. O Stoxx 600, o índice de referência europeu, caiu cerca de 3,0% e em pior situação fecharam as praças de Madrid (-4,2%), Paris (-3,8%) e Frankfurt (-3,3%), onde a banca tem mais peso.
Os bancos foram mesmo a principal vítima do dia. No rescaldo das falências do Silicon Valley Bank (SVB) e Signature Bank nos EUA, os holofotes dos mercados viraram-se hoje para o Credit Suisse, que não consegue afastar-se dos problemas. Esta terça-feira o banco suíço publicou as contas de 2022 onde deu conta de deficiências materiais no controlo. Agora foi o seu principal acionista, o Saudi National Bank, a rejeitar qualquer injeção de fundos adicionais na problemática instituição que deixa de contar agora com um forte apoio em caso de necessidade. As ações chegaram a afundar 30% para mínimos.
Credit Suisse afunda
Fonte: Reuters
Foi o rastilho suficiente para um autêntico incêndio no setor. O índice Euro Stoxx Banks tombou mais de 8%, no pior dia desde o 24 de fevereiro de 2022, que marcou o início da invasão russa da Ucrânia. Os franceses Société Générale e BNP Paribas e o espanhol Sabadell afundaram mais de 10%. Na banca alemã, o Deutsche Bank e o Commerzbank recuaram na ordem dos 9%. Na verdade, nenhum banco europeu escapou à pressão vendedora.
“A banca voltou a estar no epicentro. Depois do colapso do norte-americano SVB ter abalado o sentimento no setor, desta feita o tombo do Credit Suisse traz nova réplica, e até mais forte, que acaba por derrubar os principais índices. Isto porque depois de ontem o credor suíço ter referido que encontrou fraquezas materiais nos seus relatórios e contas dos últimos dois anos, cuja correção implica custos significativos”, explicam os analistas da sala de mercados do BCP numa nota de fecho da bolsa.
“O seu maior acionista, o Saudi National Bank, terá descartado qualquer aumento de posição acima do limite dos 10%, o que é visto como uma dificuldade a potenciais injeções de capital”, acrescentaram.
Em Lisboa, o BCP foi o maior perdedor, com uma queda de 9,05% para 0,193 euros, não resistindo à desconfiança dos investidores em relação ao setor financeiro. Com este desempenho perdeu quase 300 milhões na bolsa. Mas não foi o pior, porque a Galp “encolheu” 600 milhões, após cair 7,42% — num dia em que os preços do petróleo cederem mais de 6% para mínimos de 2021. Na energia, a EDP Renováveis caiu 1,51%, o equivalente a 297 milhões do seu valor em bolsa, enquanto a casa-mãe EDP perdeu 0,90% (menos 170 milhões em market cap).
Biggest losers no PSI
Fonte: Reuters
A turbulência nos mercados é um aviso para os bancos centrais, nomeadamente quanto às repercussões das subidas agressivas das taxas de juro no sistema financeiro. O Banco Central Europeu (BCE) tem reunião agendada para esta quinta-feira e os analistas põem em cima da mesa está um novo aperto da política monetária com um aumento de 25 ou 50 pontos base nas taxas de referência, apesar da situação de caos nas bolsas.
“Diante deste cenário, ninguém sabe o que o BCE fará amanhã. Os mercados estão atualmente a antecipar um aumento de 25 pontos base, mas vimos o quanto as expectativas de taxa mudaram na última semana. A pergunta é: o que exatamente aliviaria o nervosismo do mercado? Nenhuma mudança? Ou isso sugere que algo profundamente preocupante está a acontecer? Ou ficar com 50 e fingir que nada aconteceu? Eu simplesmente não sei neste momento”, atirou Erlam.
(Notícia atualizada às 17h45)
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