FMI aconselha Portugal e outros países a estarem “vigilantes” sobre crise na habitação
O diretor do FMI para a Europa defende ser necessário acautelar "os riscos para a estabilidade financeira" e considera que "não se trata apenas de um problema do lado da procura".
O diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a Europa, Alfred Kammer, aconselha as autoridades de países europeus com problemas de habitação, como é o caso de Portugal, a estarem “vigilantes” sobre os riscos para a estabilidade financeira, propondo soluções no lado da oferta.
“Os preços das casas aumentaram bastante em vários países ao longo da última década e isso aconteceu em função das baixas taxas de juro durante um período relativamente longo e, depois, em vários países, tivemos outro impulso durante a pandemia porque as pessoas passaram para o teletrabalho”, contextualizou Alfred Kammer, em entrevista a agências de notícias europeias, incluindo a Lusa, em Estocolmo.
Confrontado pela Lusa com os atuais problemas de habitação verificados em Portugal, o responsável apontou ser necessário acautelar “os riscos para a estabilidade financeira”. “Os supervisores têm de ser vigilantes e realizar testes de ‘stress’”, sugeriu Alfred Kammer.
Ainda assim, o diretor do FMI para a Europa salvaguardou que “não se trata apenas de um problema do lado da procura“. “Tem havido na Europa, em muitos países, um problema do lado da oferta e isso tem de ser abordado, independentemente do que estamos a ver na frente dos preços da casa”, defendeu.
Segundo Alfred Kammer, este cenário no mercado habitacional “tem sido muito mau para o crescimento porque quando se olha para os jovens, eles não podem se mudar para os centros urbanos porque é muito caro”. “Essa é uma questão mais vasta fora das atuais correções a que estamos a assistir, que muitos governos europeus têm efetivamente de tratar.”
Os preços das casas aumentaram bastante em vários países ao longo da última década e isso aconteceu em função das baixas taxas de juro durante um período relativamente longo e, depois, em vários países, tivemos outro impulso durante a pandemia porque as pessoas passaram para o teletrabalho.
O diretor do FMI para a Europa defendeu ainda que o stress bancário global “não terminou”, dado que as taxas de juro continuam a subir. “Não [terminou], porque o ciclo de subida das taxas [de juro] em muitos países ainda não terminou. O que se vê também é um aumento da margem financeira de juros, [pelo que] os bancos estão a beneficiar do facto de podermos aumentar as taxas de juro dos empréstimos, mas as taxas dos depósitos não se moveram tão rapidamente”, argumentou.
Ainda assim, perante o recente colapso do banco norte-americano Silicon Valley Bank e a crise do Credit Suisse, Alfred Kammer salientou que o ponto de partida para os bancos da moeda única “é diferente do que se viu em 2008”, altura da crise financeira, havendo agora um “um sistema bancário sólido na Europa”. “Está bem capitalizado, é altamente líquido, bem regulado e bem supervisionado e, portanto, a nossa avaliação é que este sistema bancário deve ser capaz de lidar com o ‘stress’”, estimou o responsável.
Contudo, segundo Alfred Kammer, “é necessário fazer mais”, já que “quando se olha para a questão do Silicon Valley Bank ou para o Credit Suisse, o que significa é que os supervisores precisam intensificar a sua ação e realizar testes de esforço e identificar vulnerabilidades”.
Novas regras para “consolidação” de países endividados da UE são uma “boa proposta”
Já sobre a revisão das regras orçamentais da União Europeia (UE), o diretor do FMI para a Europa disse considerar ser uma “boa proposta”, permitindo a “consolidação orçamental” de países endividados como Portugal. Além disso, recordou que a proposta tem “muitos dos elementos” que o FMI tem vindo a propor.
Esta quarta-feira, a Comissão Europeia propôs regras orçamentais “baseadas no risco” aquando da sua retoma em 2024, sugerindo uma “trajetória técnica” para países endividados da UE, como Portugal, dando-lhes mais tempo para reduzir o défice e a dívida.
Na proposta está prevista uma maior diferenciação entre os países da UE, pelo que os Estados-membros com défice superior a 3% do Produto Interno Bruto (PIB) ou com uma dívida pública superior a 60% do PIB terão essa “trajetória técnica” negociada com Bruxelas com base em planos nacionais.
“É baseada no risco, é focada em cada país, […] contém planos de consolidação e a médio prazo” e prevê ainda uma “trajetória para a despesa”, tornando-se “mais fácil de entender face às regras anteriormente existentes”, elencou.
Para o diretor do FMI para a Europa, “o que poderia ser feito, mas não para agora, seria estabelecer conselho orçamental europeu, que poderia olhar para a metodologia, por exemplo, fora da Comissão“, podendo ainda ser criada “capacidade orçamental central”.
Além disso, para Alfred Kammer, a UE deveria apostar em salvaguardar “capacidade orçamental” para investimentos climáticos, como através de um fundo ambiental com “vantagens claras para ser usado para projetos transfronteiriços”.
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