Bruxelas revê em alta crescimento e inflação na Zona Euro

Um arranque de ano melhor do que o esperado e um mercado de trabalho forte explicam a revisão em alta do crescimento da Zona Euro para 1,1%. Mas as previsões para a inflação também são mais altas.

A Comissão Europeia está mais otimista. Um arranque de ano melhor do que o esperado levou a uma ligeira revisão em alta das previsões de crescimento para este ano: 1% na União Europeia e 1,1% na Zona Euro. Mas Bruxelas também reviu em alta as previsões para inflação face às previsões de inverno. Na Zona Euro, a taxa deverá ser de 5,8% este ano, desacelerando para 2,8% em 2024, ainda acima da fasquia de 2% protagonizada pelo Banco Central Europeu (BCE), que deverá continuar a subir as taxas de juro.

Nas previsões de inverno, em fevereiro, a Comissão antecipava que a Europa iria escapa por um triz à recessão técnica este ano, já que a economia europeia entrara em 2023 mais forte do que o antecipado. As previsões apontavam para um crescimento 0,8% e na Zona Euro 0,9%, após um crescimento de 3,5% em 2022. As previsões de evolução da inflação também sugeriam que depois do pico em 2022 iriam desacelerar para 6,4% e 5,6%, respetivamente.

Fonte: Comissão Europeia

“Não haverá recessão, mas o crescimento é moderado”, resumiu o comissário europeu para os Assuntos Económicos, na conferência de imprensa de apresentação das previsões económicas da primavera. Paolo Gentiloni frisou que quase todas as economias europeias deverão registar este ano uma expansão e que é o setor dos serviços o maior motor do crescimento já que a indústria ainda luta para superar os choques provocados pelos elevados preços da energia — que entretanto estão a normalizar — e as perturbações nas cadeias de abastecimento.

Mas apesar da revisão em alta das previsões, algo de que as economias se deveriam “orgulhar”, segundo Gentiloni, o comissário sublinhou que os riscos negativos são agora maiores.

“Uma inflação subjacente mais persistente poderá continuar a restringir o poder de compra das famílias e forçar uma resposta mais forte da política monetária, com amplas ramificações macrofinanceiras”, explicou Gentiloni. Além disso, acrescentou, que entre os riscos que pesam negativamente nas previsões estão os novos episódios de stress financeiro e de perturbações no setor bancário, nomeadamente nos Estados Unidos e na Suíça, que podem levar a um novo aumento da aversão ao risco, o que poderá levar a uma maior restrição nos critérios de atribuição de crédito do que os assumidos nesta previsão.

Entre os riscos estão sempre as tensões geopolíticas relacionadas com a guerra na Ucrânia, que, pela primeira vez, tem um capítulo específico nestas previsões.

do lado positivo estão os “desenvolvimentos mais benignos nos preços da energia que levaram a uma descida mais rápida da inflação, o que teve um efeito positivo na procura interna”.

No entanto, a inflação subjacente (a que exclui energia e os produtos alimentares não transformados) foi revista em alta porque tem-se revelado “mais persistente”. Em março atingiu o máximo histórico de 7,6% — que a Comissão considera ter sido “o pico”, segundo Gentiloni –, mas depois deverá “desacelerar gradualmente, à medida que “as margens de lucro absorvem as pressões de aumentos salariais e as condições financeiras se tornam mais apertadas”, lê-se no relatório. O comissário sublinhou que a “estimativa rápida da inflação de abril mostra uma pequena redução da inflação subjacente de 7,5% para 7,3%”. “Daí considerar o caminho de redução da inflação subjacente muito lento”, acrescentou.

As previsões de primavera apontam para uma inflação subjacente anual de 6,1% este ano, antes de desacelerar para 3,2% em 2024, “permanecendo acima da inflação total nos dois anos”. Mas se a inflação subjacente persistir, isso forçará as autoridades monetárias a agir, ou seja, a agravar mais o aumento dos juros, o que tem terá sempre impacto negativo nas famílias. Aliás, as previsões reconhecem que a apostas das famílias no mercado imobiliário já estão a sofrer, assim como o consumo, já que a inflação continua a erodir o poder de compra.

Bruxelas prevê que os salários reais vão continuar a descer este ano, embora seja de “esperar uma ligeira retoma no final do ano”. Mas, em termos de mercado de trabalho, a Comissão sublinha que “o mercado de trabalho tem superado as expectativas”. “A taxa de desemprego atingiu um valor historicamente baixo enquanto o emprego continuou a crescer e as horas trabalhadas estão lentamente a regressar a níveis pré-pandemia”, diz o relatório. A taxa de desemprego deverá permanecer nos 6,8% tal como em 2022, na zoa euro, mas o crescimento do emprego deverá abrandar.

Gentiloni fez questão de sublinhar que o “arrefecimento do mercado do crédito” se deve a uma “transmissão eficaz da normalização da política monetária e não a uma fragilidade do setor bancário”. “Os bancos europeus têm posições de capital sólidas, uma qualidade de ativos robusta e almofadas de liquidez suficientes”, referiu. O relatório sublinha ainda que os bancos “parecem ter capacidade para absorver o impacto de uma redução da qualidade do crédito”.

(Notícia atualizada com mais informação)

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