Seguradora do Montepio perde 3,4 milhões com dívida da Gazprom
Apesar dos lucros de 7,5 milhões, o ano passado foi tenso na Lusitania Vida após turbulência nas bolsas, com o regulador a pressionar seguradora a tomar medidas para reforçar almofadas financeiras.
A Lusitania Vida perdeu 3,4 milhões de euros com a venda da dívida da Gazprom. A alienação desta exposição ocorreu já no início deste ano e permitiu à seguradora do grupo Montepio, ainda assim, anular 4,8 milhões em imparidades que havia constituído para as obrigações da estatal russa de gás.
Ainda tinha uma exposição avaliada em 2,8 milhões de euros a outra companhia russa, a empresa de metalomecânica Novolipetsk Steel, em relação à qual haverá uma imparidade de cerca de dois milhões. Estas obrigações também estão à venda pela companhia seguradora, de acordo com o relatório e contas referente a 2022.
Apesar dos lucros de 7,5 milhões de euros, 2022 foi um ano complicado para a seguradora do ramo vida que é detida pela Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG), que está entre as dez maiores do mercado naquele segmento. A instabilidade registada nos mercados financeiros, na sequência do início da invasão russa na Ucrânia e das sanções a Moscovo, colocou todo o setor segurador mundial sob pressão devido aos seus investimentos na bolsa, e o setor português não escapou.
Por causa das perdas no balanço, a Lusitania Vida chegou mesmo a entrar em situação de incumprimento do requisito de capital de solvência em fevereiro do ano passado, quando baixou para os 80%, aquém dos 100% de exigência regulamentar, e isto depois de ter registado uma “diminuição relevante dos capitais próprios contabilísticos”, que afetou os fundos próprios, como notou o auditor na apreciação às contas. O problema fez soar os alarmes do supervisor.
Na sequência desse evento, a Autoridade de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) determinou à companhia seguradora o envio de reportes semanais sobre a evolução dos indicadores e ainda que avançasse com planos de recuperação financeira e de redução do risco (derisking) para responder à insuficiência do nível de fundos próprios e controlar os riscos da sua operação.
Cumpre rácio, mas regulador continua atento
Spoiler alert: as medidas permitiram à Lusitania Vida fechar 2022 já com um nível de solvência acima das exigências regulatórias, atingindo um rácio de 154%, mas a evolução da situação financeira da companhia continua a ser acompanhada de perto pelo revisor oficial de contas (PwC) e pela ASF.
Como o ECO avançou em novembro, uma das medidas adotadas para reforçar a almofada financeira da Lusitania Vida passou pela transformação de um empréstimo subordinado no valor de 7,5 milhões de euros em prestações acessórias de capital – isto no âmbito de uma intervenção que envolveu ainda a outra seguradora da mutualista, a Lusitania Seguros, do ramo não vida.
A volatilidade nas bolsas mundiais com o desencadear da guerra impactou na carteira de ativos da Lusitania Vida ao ponto de, em setembro, a seguradora apresentar no seu balanço capitais próprios negativos. Esta situação de desequilíbrio levou a administração a iniciar “um processo de adequação entre as durations das responsabilidades e dos ativos no sentido de salvaguardar o interesse dos tomadores de seguros”.
Para isso, procedeu-se a uma alteração na gestão dos ativos financeiros afetos aos produtos com taxa garantida, com reclassificação de uma carteira de 460 milhões de euros: estava contabilizada ao justo valor (que implicava avaliá-la ao valor do mercado) e passou a estar classificada, ao abrigo das normas de contabilidade, ao custo amortizado (evitando as oscilações do mercado ao avaliar os títulos na maturidade). Medida que contribuiu também para reforçar os níveis de solvência.
Sem dividendos
Em relação aos resultados positivos no ano passado, uma subida de 38% face a 2021, e “dada a necessidade de reforçar a sua solvência”, não haverá lugar à distribuição de dividendos, com a Lusitania Vida a seguir as recomendações de prudência do supervisor europeu e nacional.
Nessa medida, os 7,5 milhões de lucros foram destinados ao reforço da reserva legal (750 mil euros) e à reserva livre (6,8 milhões), de acordo com a proposta da administração da seguradora.
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