BCE procura todos os trunfos para combater a inflação sem afundar a economia
Com o fim do ciclo de subida das taxas de juro perto do fim, Christine Lagarde procura no Fórum anual do BCE soluções capazes de estabilizar a inflação sem ter de afundar a Zona Euro numa recessão.
O Banco Central Europeu (BCE) vive atualmente num dilema. Se, por um lado, a política monetária de subida das taxas de juro que tem colocado em prática ao longo do último ano está a abrandar a taxa de inflação na Zona Euro, por outro, essa mesma política monetária está a pressionar em demasia a economia da moeda única.
Segundo os últimos dados do Eurostat, a Zona Euro está em recessão técnica, após registar taxas de crescimento negativas do PIB nos últimos dois trimestres (-0,1% em ambos os períodos). “Outro trimestre de crescimento negativo do PIB não é inimaginável, embora a queda atual claramente permaneça leve o suficiente para que o BCE não mude de rumo com os aumentos das taxas”, referiu Bert Colijn, analista do ING à Reuters.
No entanto, o risco de as coisas se agravarem na Zona Euro está bem presente. “Se as taxas de juros chegarem aos níveis de meados da década de 1990, o ónus geral do serviço da dívida para as principais economias será, considerando tudo o resto constante (ceteris paribus), o mais alto da história”, escreve Claudio Borio, responsável da unidade monetária e económica do Banco de Compensações Internacionais (BIS) no relatório anual da instituição, publicado no domingo.
É sobre estes dois pratos da balança (controlar a inflação e evitar uma recessão) que esta terça-feira, no Fórum anual do BCE, em Sintra, governadores de bancos centrais, académicos, decisores políticos e especialistas do mercado financeiro centrarão as suas intervenções.
Choque da oferta e má afetação de recursos
Como ponto de partida para a discussão das várias sessões de trabalho programadas para esta terça-feira está sobre a mesa dois papers com abordagens distintas para o controlo de preços por parte dos bancos centrais.
O primeiro trabalho académico a ser apresentado e discutido é da autoria de Silvana Tenreyro, que aborda como deverá a política monetária atuar perante um choque da oferta. “A resposta ótima da política monetária a um único choque de oferta depende da natureza e da duração do choque, da intensidade dos efeitos de segunda ordem e do impacto do choque nos rendimentos reais, bem como de considerações de eficiência”, refere Tenreyro.
Além disso, a professora de Economia da London Business School sublinha que a força relativa destes fatores determina se a política monetária deve ser mais atenta, mais restritiva ou menos restritiva e em que medida.
Como corolário da sua investigação, Tenreyro recomenda “cautela na utilização das expectativas de inflação por parte de empresas e famílias como metas intermédias na condução das decisões dos bancos centrais.”
O segundo paper a ser apresentado esta terça-feira no Fórum anual do BCE, que tem como autor Francesco Lippio, tem o foco no paradigma do “novo-keynesiano”, que parte do princípio de que os preços das empresas são algo rígidos e que não reagem a choques fundamentais, pelo menos temporariamente.
A análise de Lippio assenta numa metodologia para calcular os custos de bem-estar para o período antes de 2022 e durante o período subsequente de inflação elevada, desencadeado por choques energéticos substanciais na Europa. “As nossas conclusões revelam custos de bem-estar significativos para a área do euro”, refere Lippio.
O professor de economia da Luiss University revela que, no ambiente de baixa inflação que prevaleceu antes de 2022, o custo de eficiência ascende a cerca de 2% do PIB. “Cerca de três quartos destes custos em estado estacionário resultam de uma má afetação, enquanto o restante um quarto é atribuído à dispendiosa atividade de gestão dos preços.”
Além disso, Lippo destaca que os recentes choques energéticos conduziram a um aumento acima da média da atividade dispendiosa de reavaliação de preços, contribuindo cumulativamente para um custo de cerca de 1,5% do PIB.
As conclusões de Lippo serão particularmente úteis para a mesa redonda que encerra o primeiro dia do Fórum que terá como tema as “mudanças estruturais nos mercados energéticos e implicações para a inflação.”
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