Francesco Franco, professor da Nova SBE, defende que os apoios sociais não devem ser retirados, como sugere o BCE, mas sublinha a necessidade de o Governo apoiar as famílias de forma mais cirúrgica.
A economia nacional fechou o primeiro trimestre com um crescimento homólogo de 2,5% que colocou Portugal entre as economias mais pujantes da Zona Euro. Os números do mercado de trabalho mostram também um crescimento da população empregada para valores recorde.
O revês da moeda é dado por um novo abrandamento da economia no segundo trimestre, gerando em grande medida pelos efeitos da política monetária restritiva do Banco Central Europeu, ao mesmo tempo que, em junho, a taxa de desemprego voltou a aumentar, agora para 7,2%, o valor mais elevado dos últimos dois anos.
O estado da economia nacional pode assim ser visto mediante um copo “meio cheio” ou um copo “meio vazio”. Para Francesco Franco, doutorado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e professor da Nova SBE, o desafio da economia portuguesa não se contabiliza no curto prazo, mas numa perspetiva estrutural e de longo prazo.
Em 2024 podemos prever que os efeitos contracionistas sobre o lado da procura da política monetária vão ser muito mais fortes e vamos ter uma taxa de crescimento mais baixa.
Em entrevista ao ECO, Francesco Franco lembra que a economia nacional está, de facto, a abrandar há quatro trimestres consecutivos “porque, depois do colapso do PIB durante o Covid, houve uma recuperação muito forte que era expectável”, levando a que “a taxa de crescimento do PIB voltasse à média natural normal que nós, economistas, chamamos potencial de crescimento da economia.”
E, por essa razão, no centro das suas preocupações não está o que irá suceder no próximo trimestre ou mesmo este ano, mas no próximo ano. “Em 2024 podemos prever que os efeitos contracionistas sobre o lado da procura da política monetária vão ser muito mais fortes e vamos ter uma taxa de crescimento mais baixa”, vaticina.
Numa altura em que o Banco Central Europeu reforça a sua intenção de lutar a todo o custo contra a inflação, promovendo uma constante pressão sobre os governos europeus para que estes retirem os apoios concedidos durante a pandemia, Francesco Franco ressalva a necessidade de haver um equilíbrio das duas posições.
Os governos tenham a capacidade de pensar as políticas fiscais um pouco de forma mais inteligente [orientando] os apoios para “as pessoas que realmente necessitam.”
Se, por um lado, reconhece que a “política monetária fez o seu trabalho” e que “muita da inflação que vivemos foi causada, provavelmente, mais pelo lado da oferta do que do lado da procura”, salienta a necessidade de haver uma congregação da política fiscal e monetária para que o controlo da inflação seja bem sucessivo.
Para o professor da Nova SBE, isso significa que os governos não devem seguir cegamente as diretrizes dos bancos centrais, no sentido de retirarem por inteiro os apoios às famílias, mas que os “governos tenham a capacidade de pensar as políticas fiscais um pouco de forma mais inteligente”, passando, por exemplo, por orientar “os apoios para as pessoas que realmente necessitam” e “não adotar políticas fiscais de apoio transversais a toda a população”.
Segundo o Francesco Franco, “isso poderá passar pela concessão de subsídios às pessoas com rendimentos mais baixos e fazê-lo de forma mais progressiva.” Ao ECO, o professor alerta para a necessidade de “termos de ter a capacidade de atingir as pessoas que necessitam e não todas as outras.”
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“Não devemos adotar políticas de apoio fiscal transversais a toda a população”
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