Exclusivo Cinco agendas mobilizadoras já perderam empresas
Os consórcios liderados pela Altri, Granvinhos, Impetus, Defined.ai e Palbit já apresentaram pedidos de ajuste por alteração de copromotores. IAPMEI desdramatiza saída de empresas.
São já cinco as agendas mobilizadoras, financiadas pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que perderam empresas. Os consórcios liderados pela Altri, Gran Cruz, Impetus, Defined.ai (ex-DefinedCrowd) e Palbit já apresentaram pedidos de ajuste por alteração de copromotores, avançou ao ECO fonte oficial do IAPMEI.
“Neste enquadramento, e até ao momento, só temos registo de cinco agendas com pedidos de ajuste por alteração de copromotores”, explicou fonte oficial do IAPMEI.
O alerta foi dado pelo presidente da AEP. Em entrevista ao ECO, Luís Miguel Ribeiro, avançou que “há várias empresas que saíram dos consórcios” das agendas mobilizadoras, “porque já não têm interesse”. “Algumas até por outras razões que entenderam que aquela candidatura em que estavam envolvidas já não era importante para elas, porque, entretanto, decidiram apostar noutro setor, noutra área ou ter outros parceiros”, justificou.
O responsável, que vê com “preocupação” os atrasos nos pagamentos dos apoios às empresas, sublinha que “as empresas fazem investimentos, os planos de negócios, e depois falha o timing”. “Um projeto que é importante agora, daqui a três, quatro, cinco ou seis meses, a importância é relativa, ou pode até já não ter”, acrescenta.
O IAPMEI desdramatiza a situação e explica que, “em processos com a dimensão das agendas mobilizadoras para a inovação empresarial, é natural que se possam registar alguns ajustes na composição dos consórcios”.
“Estes ajustes ocorrem por alteração de opções estratégicas de investimento de algumas empresas, em resultado de processos de fusão ou entrada no Programa Especial de Revitalização (PER)”, explica a mesma fonte oficial.
O ECO questionou se estas alterações têm impacto em termos de libertação de verbas, mas a resposta é negativa porque “há sempre acomodação dos investimentos previstos em projeto por parte de outra entidade, já existente ou que entra no consórcio, de forma a garantir o cumprimento dos objetivos da agenda”.
A Accelerat.AI, liderada pela Defined.ai, perdeu a Talkdesk, que está atualmente a braços com um processo de despedimentos, por mútuo acordo, que deverá afetar cerca de 200 pessoas em Portugal, de um total de 800.
“Em período prévio à assinatura da agenda mobilizadora Accelerate.ai, liderada pela Defined.ai, existiu a saída da empresa Talkdesk, outrora Vox.ai”, avançou ao ECO fonte oficial da empresa liderada por Daniela Braga.
O ECO tentou contactar o unicórnio nacional Talkdesk para saber as razões desta saída, mas até à publicação deste artigo não obteve respostas.
A Defined.ai lidera uma agenda que pretende criar, de forma pioneira, uma plataforma de serviços cognitivos em português europeu (nos diversos sotaques e faixas etárias) com efeito completamente transformador na experiência do utilizador na interação com produtos ou serviços. O investimento global é de 47 milhões de euros, dos quais 25,42 milhões são financiados pelo PRR, dos quais já foram pagos 5,85 milhões aos beneficiários finais, de acordo com o Portal da Transparência. Esta agenda verde tem dez copromotores.
Antes da assinatura formal da agenda Vine and Wine Portugal – Driving Sustainable Growth Through Smart Innovation, liderada pela Gran Cruz, que quer investir 91,6 milhões de euros para aumentar a competitividade e a resiliência do setor vinícola, também a José Maria da Fonseca desistiu do consórcio, avançou ao ECO o diretor-geral da Gran Cruz. Recorde-se que decorreram largos meses desde o anúncio da escolha de 51 consórcios neste programa, em junho de 2022, e as primeiras contratualizações.
Jorge Dias acrescentou ainda que as alterações de composição desta agenda — que reunia 52 copromotores que atuam em 3 áreas de competitividade chave – Sustentabilidade; Automação, Inovação e eficiência produtiva e novos processos e produtos — resulta também do facto do seu grupo ter apresentados “projetos em duas empresas que foram em janeiro deste ano objeto de uma fusão por incorporação”. O PRR financia em 40,98 milhões de euros esta agenda de inovação e já pagou 9,43 milhões de euros.
Já a Altri explicou ao ECO que o pedido de ajuste surgiu na sequência das “mudanças das dinâmicas dos grupos que ocorrem depois do momento em que é feita a candidatura”, explicou ao ECO Carlos van Zeller. “Não vamos mudar a nossa estratégia”, garantiu o administrador executivo e vice-CEO da Altri, que esta sexta-feira teve uma reunião no IAPMEI para analisar esta questão.
A Transform – Transformação Digital do Setor Florestal para uma Economia Resiliente e Hipocarbónica, liderada pela Altri Florestal é composta por 59 entidades, entre empresas do setor florestal e produtoras de equipamentos e tecnologias, associações empresariais, instituições do ensino superior e do sistema de investigação e científico. Tem implícito um investimento total de 150 milhões de euros, dos quais mais de 63 milhões de incentivo público. Destes, já foram pagos mais de 14 milhões de euros. A agenda materializa-se em 28 projetos “colaborativos, mobilizadores e complementares entre si, dos quais irão resultar novos produtos, processos e serviços, suportados em tecnologias digitais, com elevado grau de inovação, que irão contribuir para uma gestão florestal mais sustentável e melhoria da eficiência das empresas, garantindo uma maior ligação aos mercados e consumidores”.
Já a Hi-rEV – Recuperação do Setor de Componentes Automóveis, a agenda liderada pela Palbit, perdeu a Schmidt Light Metal. Uma saída “essencialmente motivada por uma reorientação estratégica de setores internos da empresa, que não estão relacionados com o consórcio”, explicou ao ECO Hugo Bastos Oliveira. O diretor de marketing da Palbit acrescentou que esta agenda de inovação, que tem previsto um investimento global de 49,6 milhões de euros, contou com “a inclusão recente no consórcio da Adamastor e a Eurocast”, que trarão “competências diferenciadas que permitirão consolidar a proposta de valor do projeto ao nível das motivações inicias, alargando o âmbito tecnológico na área dos componentes automóveis”.
As 23 empresas e organizações que participam em vários projetos, para reposicionar as suas capacidades de fabrico em resposta às exigências da indústria/consumidor, contam com um financiamento não reembolsável do PRR de 20,42 milhões de euros, dos quais já foram pagos 4,7 milhões.
Finalmente, a TEXP@CT – Pacto de Inovação para a Digitalização do Têxtil e Vestuário, liderada pela Impetus, conta com 40 copromotores que, em conjunto se propõe investir 58,32 milhões de euros para aumentar o nível de digitalização das empresas do setor usando empresas de referência como âncora; potenciar o aumento de soluções e de tecnologias disponíveis e contribuir para o volume de exportações. O PRR financia com 29,16 milhões de euros estes objetivos que também visam torna o setor mais atrativo para os atuais e futuros recursos humanos, mais resiliente, mais sustentável e mais sofisticado. O ECO também contactou a Impetus para identificar quais as empresas que saíram, mas não obteve respostas.
Em entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios, o ministro da Economia também desdramatizou a saída de empresas dos consórcios por causa dos atrasos. António Costa Silva disse tratar-se de “uma gota de água”, e que em causa estão apenas de três empresas de pequena dimensão.
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