O número do PIB é o mesmo. Mas há explicações para todos os gostos
Por causa do que o Governo fez. Ou pelo que não fez. Ou ainda pelo que parou de fazer -- as razões para o PIB crescer mais depressa são tão variadas quanto o papel de cada agente económico.
Cada cabeça, sua sentença — já dizia o ditado. E assim é com o crescimento do PIB. Porque é que nos primeiros três meses deste ano, o ritmo do crescimento económico acelerou para 2,8%? Há justificações para todos os gostos e o ECO conta-lhe todas.
INE: por causa das exportações e do investimento
“Esta aceleração resultou do maior contributo da procura externa líquida, que passou de negativo para positivo, refletindo a aceleração em volume mais acentuada das Exportações de Bens e Serviços que a das Importações de Bens e Serviços. A procura interna manteve um contributo positivo elevado, embora inferior ao do trimestre precedente, verificando-se uma desaceleração do consumo privado e uma aceleração do Investimento”, lê-se na nota que revela o resultado preliminar, de um crescimento de 2,8%.
Esta foi a informação que o INE divulgou esta segunda-feira sobre os motivos da aceleração do crescimento. Traduzindo, o INE adianta que as vendas ao exterior cresceram mais do que as compras. Ao mesmo tempo, o consumo privado desacelerou, mas o investimento aumentou.
Mário Centeno: porque o crescimento é sustentável
“Os dados publicados pelo INE indicam ainda que a aceleração do crescimento está fundamentalmente associada a um maior dinamismo das exportações e do investimento, atestando a natureza sustentável e equilibrada do atual padrão de crescimento da economia portuguesa”, sublinhou o Governo, numa nota enviada pelo gabinete de imprensa do ministro Mário Centeno, às redações.
Ou seja, o Ministério das Finanças não se limitou a ler a informação publicada pelo INE, acrescentou-lhe uma consideração importante: garante que esta aceleração demonstra que o padrão de crescimento é sustentável e equilibrado.
António Costa: por causa da ação do Governo
É preciso “continuar a crescer no emprego, aumentar o investimento, aumentar as exportações, continuar o aumento do consumo sustentado no rendimento e não no endividamento”, sublinhou o primeiro-ministro. “É assim que, de uma forma sustentada, queremos continuar a fazer” crescer a economia, acrescentou.
António Costa optou por destacar a ação do Governo para interpretar os resultados: “No ano passado estabilizámos o crescimento da dívida bruta, reduzimos a dívida líquida”, disse. No Twitter, somou mais contributos da ação política: primeiro nos efeitos da política de devolução de rendimentos…
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… E depois sobre o impacto das políticas de coesão.
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Oposição: por causa da ação do anterior Governo
“Estamos contentes com a recuperação do PIB [Produto Interno Bruto] neste trimestre que se deve às reformas realizadas pelo anterior Governo, à conjuntura internacional e na União Europeia mais favoráveis“, disse, à Lusa, a deputada social-democrata Inês Domingos. A deputada do PSD aproveitou ainda para defender que os resultados refletem “o esforço das empresas e das famílias que levaram a economia para a frente, apesar de o Governo ser inerte e ter revertido reformas.”
"[Os resultados refletem] o esforço das empresas e das famílias que levaram a economia para a frente, apesar de o Governo ser inerte e ter revertido reformas.”
Na mesma linha, a deputada do CDS Isabel Galriça Neto frisa que “é preciso apostar nas exportações e no investimento público” e que “não se comprometa o investimento público e não se inviabilizem reformas que permitiram que se chegasse aqui e que não são de agora.”
Esquerda: por causa do fim da ação do anterior Governo
Estes “dados [são] inseparáveis da inversão com o rumo imposto pelo Governo PSD/CDS e das medidas, ainda que limitadas, de reposição e conquista de direitos e rendimentos”, frisam os comunistas, numa nota enviada às redações. O PCP sublinha também a “conjuntura internacional favorável” e argumenta que o caminho não pode ainda ser dado como sustentável porque Portugal ainda não está “liberto dos constrangimentos que se colocam à soberania nacional”.
Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda, frisou também a importância do fim das políticas do anterior Executivo, liderado por Pedro Passos Coelho. “O projeto político de PSD e CDS faliu, está provado que não funciona, e compreende-se assim algum desespero nas reações destes dois partidos”, disse, em declarações à Lusa. E argumentou que “a cada mês que passa [há] mais provas de que devolvendo rendimentos e respeitando direitos o país cresce de forma mais forte e sustentada.”
Economistas: teve pouco a ver com qualquer Governo
“A explicação reside muito mais nos fatores externos do que nas políticas deste ou do anterior Governo. Desvalorizaria bastante as ações governativas“, defende Filipe Garcia, economista do IMF – Instituto de Mercados Financeiros, ao ECO.
O economista considera “normal que os partidos puxem a si o mérito do crescimento”, mas frisa que Portugal é uma economia bastante aberta ao exterior e que da mesma forma que é bastante penalizada quando a conjuntura se degrada, também sai beneficiada se o contexto for favorável. Frisa o impacto da política monetária do Banco Central Europeu, que diminui o risco-país e dos preços do petróleo contidos, bem como do euro.
"Desvalorizaria bastante as ações governativas.”
Outro economista contactado pelo ECO, mas que pediu para não ser identificado, corroborou a leitura de Filipe Garcia. “As políticas económicas levam muito tempo a surtir efeito, décadas”, garantiu, defendendo que o crescimento do presente resulta da ação política de governos anteriores, nomeadamente ao de Passos Coelho.
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