Impacto da crise política na economia deverá surgir “só a médio prazo”

Aprovação do Orçamento do Estado permite alguma estabilidade, mas impactos na economia vão depender do desfecho da crise política. Imagem do país no exterior pode sair prejudicada.

O turbilhão político tomou Portugal de surpresa, mas a economia não deverá ressentir-se, pelo menos para já. Economistas ouvidos pelo ECO sinalizam que a imagem do país poderá ser a mais prejudicada, mas ainda é cedo para perceber. Os efeitos deverão assim ser sentidos a médio prazo, consoante o desfecho desta crise que vai culminar em eleições antecipadas em março do próximo ano.

“No médio prazo, pode ter com certeza impactos na economia”, refere o economista João Reis, ao ECO, porque “estamos numa situação em que há uma certa convulsão da decisão política e da capacidade de decisão e isso também pelas razões que rodeiam toda esta crise que não são de ordem económica”.

Já “no curto prazo, dada a natureza da economia portuguesa, que é muito integrada na União Europeia e com uma certa estabilidade, boa ou má, dos mecanismos de relação com o exterior”, é menos provável registar-se um impacto grande, considera.

Ricardo Ferraz, investigador no ISEG e professor na Universidade Lusófona, também acredita que a economia não vai “crescer menos por causa desta questão, tanto em 2023 como 2024”, nota ao ECO. O ainda ministro das Finanças também assegurou no Parlamento, esta semana, que as previsões para o excedente e para a dívida se mantinham.

Já a Comissão Europeia divulgou esta semana as previsões de Outono, que mostram que a estimativa para este ano é igual à do Governo (2,2%), ainda que para o próximo ano fique ligeiramente abaixo: 1,3%, contra os 1,5% previstos pelo Executivo — ainda que o comissário europeu Paolo Gentiloni tenha desvalorizado as “pequenas diferenças”.

Aquilo que poderia eventualmente alterar as coisas seria a não aprovação do Orçamento do Estado e se o processo orçamental tivesse morrido”, mas ao colocar a dissolução após o desfecho orçamental, não se preveem grandes consequências para a economia, salienta Ricardo Ferraz. Há pouco tempo, recorda, “mesmo com um OE em duodécimos, o crescimento da economia não ficou em causa, pelo que não será agora que iremos deixar de crescer”. É de salientar ainda assim que nesse ano as eleições resultaram num Governo de maioria absoluta, pelo que houve maior facilidade em aprovar as políticas.

O economista admite ainda assim que esta crise pode ser má para a “credibilidade portuguesa”. A questão maior será mesmo a “imagem do país”, aponta, sendo que os “investidores poderão ficar desconfiados”. “Ainda é cedo”, ressalva, mas um caso como este pode “afetar a imagem lá fora”.

José Reis também destaca a “imagem que Portugal foi ganhando, de país com capacidade de encontrar boas soluções políticas e que resolveu bem alguns dos seus dramas principais: resolveu o melhor que pode o desastre da austeridade e politica da troika, resolveu bem questões da pandemia”. Mas agora, no ponto de vista político, estas circunstâncias que se vivem podem ser vistas como “interferência do judiciário na política isso tem efeitos”.

No entanto, é ainda incerto se essa ideia será apenas temporária ou se é algo que ficará ligado à imagem do país, algo que “depende sobretudo do que resultar da crise política e não da crise em si”.

Do lado europeu, o comissário para a Economia Paolo Gentiloni já disse acreditar que a situação política não teria impacto no investimento em Portugal, garantia dada também pelo vice-presidente do Banco Europeu de Investimentos, Ricardo Mourinho Félix.

O que se tem verificado também nos últimos tempos é que, depois de um primeiro embate em que se registou um sell-off na bolsa na sequência da demissão de António Costa, os investidores estão agora a ter uma atitude neutral perante a crise política que se está a viver em Portugal, de acordo com especialistas contactados pelo ECO.

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