Turbulência política afunda bolsa brasileira

Temer garante que não comprou silêncio de ninguém e que não renuncia. Ainda assim, as bolsas não escaparam à maré vermelha.

O furacão que varre o Brasil fez-se sentir na bolsa. Depois de abrir a perder mais de 10%, o que obrigou a acionar mecanismos de travão para evitar quedas ainda mais abruptas, o Ibovespa fechou a resvalar 8,8%, para 61.597 pontos e com um movimento histórico de 20,4 milhões de reais (5,44 milhões de euros).

O real também não escapou e estava a valer 0,29 dólares. Já os juros sofreram uma forte aceleração no mercado de futuros.

Os analistas esperam agora que os próximos dias sejam marcados por grande volatilidade nos mercados, mas não deverá ser necessário voltar a acionar os mecanismos travão, mais conhecidos por circuit breaker, para evitar quebras superiores a 10%. Esse mecanismo foi acionado esta quinta-feira suspendendo a negociação durante cerca de 30 minutos. A última vez que a bolsa brasileira esteve suspensa para evitar quedas abruptas foi em outubro de 2008, em plena crise do subprime.

As ações que registaram as maiores quebras foram as das empresas públicas, como por exemplo a Eletrobras, que caiu 20,97% (a maior queda do dia), mas o setor financeiro também sofreu fortes perdas por serem títulos com maior liquidez. O Santander fechou a cair 11,5%.

O jornal O Globo dava hoje conta de uma gravação em que o Presidente Michel Temer autorizaria o pagamento de uma mesada a Eduardo Cunha — o antigo presidente do Congresso brasileiro que desencadeou o processo de impeachment de Dilma Rousseff — para este manter silêncio na prisão. Temer veio entretanto garantir que não autorizou nenhum pagamento e que não comprou o silêncio de ninguém. O Supremo Tribunal Federal abriu entretanto um inquérito.

A turbulência não pareceu afetar Wall Street, mas as bolsas europeias ressentiram-se.

De acordo com o jornal Valor Econômico, os traders entendem que o caso pode arrastar-se no tempo, o que traria ainda mais instabilidade aos mercados. Há a expectativa de que os bancos estrangeiros possam cortar a recomendação de investimento em ações brasileiras, adianta ainda.

As reformas estruturais no país também levantam preocupações, com os jornais a anteciparem um adiamento da reforma laboral e da Segurança Social. Os primeiros sinais animadores da economia brasileira — que nos três primeiros meses saiu da recessão após oito trimestres — podem estar em risco. Segundo a estimativa rápida do Banco Central brasileiro, o PIB cresceu 1,1% em cadeia nos primeiros três meses de 2017.

Perante a volatilidade dos mercados, o Tesouro Nacional brasileiro já anunciou que vai realizar leilões extraordinários de dívida pública esta sexta, na segunda e na terça-feira, depois de ter cancelado a operação que estava prevista para esta quinta-feira. A última vez que o Tesouro recorreu a estas operações extraordinárias foi em novembro de 2016.

O mercado está ainda a reequacionar a dimensão do possível corte da taxa diretora (taxa selic). A reunião do comité de política monetária do Banco Central do Brasil deverá ocorrer no final do mês e se inicialmente as expectativas apontavam para um corte de 1,25 pontos na taxa, agora os mercados apontam para uma redução de apenas 0,25 pontos.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Turbulência política afunda bolsa brasileira

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião