Bruxelas prevê crescimento mais moderado do emprego em Portugal no próximo ano
Com a economia a abrandar, Bruxelas antecipa que o crescimento do emprego em Portugal deverá ser mais moderado no final de 2023 e ao longo de 2024 do que até aqui. Prevê estabilização do desemprego.
Apesar dos desafios, o mercado de trabalho português continua robusto. O adjetivo é da Comissão Europeia, que antecipa, contudo, que o crescimento do emprego deverá ser mais moderado em 2024 do que até aqui, uma vez que projeta que a atividade económica vai desacelerar no próximo ano.
“Prevê-se que o crescimento do emprego abrande. Em linha com a projeção de desaceleração da economia e com a moderação do turismo e dos serviços intensivos em trabalho, o crescimento do emprego deverá enfraquecer no final de 2023 e em 2024“, sublinha Bruxelas, no último relatório de supervisão pós-programa de assistência financeira, que foi divulgado esta semana.
Os dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatística já tinham deixado sinais nesse sentido. Depois de ter subido durante cinco meses consecutivos, a taxa de emprego estabilizou no final da primavera em 64,5%. Em agosto, ainda avançou 0,1 pontos percentuais para 64,6%, mas a tendência inverteu-se em setembro.
Ou seja, há dois meses que a taxa de emprego tem recuado, ainda que as quebras tenham sido, por agora, ligeiras (0,1 pontos percentuais em cada mês).
Como tem evoluído a taxa de emprego?
Fonte: INE
Por outro lado, a Comissão Europeia prevê que o desemprego em Portugal deverá estabilizar em 2024. Nas previsões de outono conhecidas no mês passado, Bruxelas indicava que esperava que o desemprego português se situe em 6,5% tanto em 2023 como em 2024.
Ora, também o Governo de António Costa está a apontar para estabilidade no desemprego — neste caso, prevê que a taxa se mantenha em 6,7% neste e no próximo ano –, mas os últimos meses têm sido de aumentos. E há economistas que já admitem novas subidas, tendo em conta os efeitos da escalada dos juros, mas também dos conflitos em curso no globo (na Ucrânia e no Médio Oriente).
Ainda assim, tanto Bruxelas como esses economistas não emitem, pelo menos para já, sinais de alarme acerca do mercado de trabalho luso. Os especialistas defendem mesmo que o risco de rutura desse “dique”, nas palavras do Governo e do Banco de Portugal, não é significativo.
A este cenário, no relatório divulgado esta semana, a Comissão Europeia acrescenta que no próximo ano a procura no mercado de trabalho deverá abrandar e que a migração deverá suportar a oferta de mãos, embora alguns setores continuem provavelmente a enfrentar condições de recrutamento tensas e pressões nos salários.
A propósito, numa audição parlamentar recente, a ministra do Trabalho deu nota de que Portugal atingiu até agosto um recorde de trabalhadores estrangeiros a descontar para a Segurança Social. Em causa estão 720 mil indivíduos, sendo que o Governo tem defendido que a imigração é vital não só para dar as mãos necessárias aos empregadores, mas também para a sustentabilidade da Segurança Social.
Emprego e salários deverão mitigar impacto dos juros no consumo interno
A economia portuguesa deverá, sim, abrandar no próximo ano, mas Bruxelas já está a apontar para uma “recuperação gradual” ao longo de 2024, à boleia do consumo interno e do comércio internacional.
E no que diz respeito ao consumo doméstico, o mercado de trabalho terá um papel relevante. “O aumento dos salários reais e do emprego deverá compensar o impacto negativo da subida das taxas de juro“, sublinha a Comissão Europeia.
Ainda assim, o relatório de supervisão pós-programa de assistência financeira não deixa de alertar que a recente criação de empregos em Portugal tem sido alimentada por “fatores temporários” relacionados com o turismo e com setor com competências mais exigentes. Por exemplo, “uma grande fatia dos empregos criados no verão foram contratos temporários“, assinala Bruxelas.
Os economistas ouvidos pelo ECO têm deixado ainda um outro alerta: a crise política (resultante da antecipação das eleições legislativas para 10 de março, na sequência de demissão do primeiro-ministro) poderá resfriar as intenções de contratação, o que, consequentemente, prejudicaria o potencial efeito do emprego no consumo interno.
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