“Fuga de talento não é inevitável. Portugal tem tudo para se tornar bom exemplo”, diz especialista em recrutamento executivo
Em entrevista ao ECO, especialista em recrutamento executivo apela a alteração "decisiva e corajosa" das políticas salariais e fiscais em prol da capacidade das empresas portuguesas atraírem talento.
A fuga de talento (também ao nível executivo) “é uma realidade” em Portugal, mas não tem de ser uma inevitabilidade. Quem o diz é Soledade Carvalho Duarte, da Transearch Portugal, consultora dedicada ao recrutamento de quadros de alta direção. Em entrevista ao ECO, defende que o país pode mesmo ser um “bom exemplo” na atração de profissionais, desde que se alterem as políticas salariais e fiscais.
“Neste momento, essa fuga é infelizmente uma realidade, afetando diferentes gerações de lideranças, que olham a sua ida para empresas e mercados estrangeiros como uma escolha quase forçada“, relata a responsável.
Ainda assim, Soledade Carvalho Duarte não atira a toalha ao chão e deixa claro que a fuga de talento é, no seu entender, evitável. “Portugal tem tudo para se tornar um bom exemplo na capacidade para não só evitar a saída de talento, mas também para atrair talento que não se resume aos jovens”, sublinha.
Para que esse cenário se concretize, é preciso, avisa, uma “alteração decisiva e corajosa das políticas salariais e fiscais“. Aliás, a managing partner considera que hoje, apesar de tanto se falar de escassez de profissionais, não falta talento. “Existem, antes, dificuldades conjunturais que dificultam a construção de um pacote de oferta capaz de rivalizar com outros mercados onde esses talentos, nacionais ou não, são igualmente cobiçados”, observa.
Também considerando que as empresas portuguesas atuam cada vez mais num “mundo sem fronteiras por talento a nível global“, a responsável recomenda que esses empregadores preparem “ofertas diferenciadas” e com outras componentes para lá da financeira. Insiste, porém, que é preciso mudar o enquadramento, nomeadamente fiscal, ou as opções das empresas portuguesas continuarão “grandemente diminuídas” face à concorrência internacional.
Quanto ao recrutamento executivo feito atualmente em Portugal, Soledade Carvalho Duarte indica que o mercado é pequeno, a abertura para posições de topo (C-level) não é frequente e “os executivos elegíveis também não abundam”. Pior, continua a predominar a prática do convite direto, o que a responsável critica.
“Não nos parece ‘saudável’, pois não promove a transparência, nem o rigor, nem a isenção na escolha”, defende a managing partner.
Soft skills cada vez mais valorizadas também nos cargos de topo
Os estudos que dizem respeito à globalidade do mercado de trabalho sinalizam que as soft skills – da capacidade de comunicação à empatia – têm conquistado mais importância no recrutamento. E também ao nível executivo tem sido registada essa tendência, confirma a managing partner da Transearch Portugal, em entrevista ao ECO.
“As empresas estão cada vez mais à procura de lideranças com sólidas soft skills, capazes de irem para além das competências tradicionais para o desempenho de um cargo de liderança”, realça Soledade Carvalho Duarte.
Na visão da responsável, lideranças mais conscientes e inteligentes emocionalmente são vantajosas para as empresas, também porque são fundamentais para impulsionar a inovação.
“O líder cujo mandato é inovar, ou impulsionar a inovação, tem de ter a determinação para superar barreiras organizacionais, ir além da retórica sobre mudanças, agregando talentos e competências que pensam de forma diferenciada“, apela.
Em entrevista ao ECO, Solelade Carvalho Duarte destaca, assim, que o “novo líder” tem de ser, tudo somado, “ético, humano, justo e corajoso“. “Capaz de tomar decisões sem medo”, remata.
Em Portugal desde 1986, a Transearch serve hoje clientes de diversos setores e com diferentes dimensões. “De startups a grandes grupos, que movimentos 25 mil milhões de euros em receitas“, segundo Solelade Carvalho Duarte.
Em causa está uma das maiores firmas de recrutamento executivo do mundo. A Transearch escolheu Lisboa como destino da sua conferência anual, que aconteceu recentemente e serviu de mote a esta entrevista.
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