Segundo trimestre acima de 3%. Mário Centeno tem uma bola de cristal?
O segundo trimestre vai a meio. Mas Mário Centeno já prevê um crescimento acima de 3% entre abril e junho. O ministro das Finanças tem uma bola de cristal?
Mário Centeno, ministro das Finanças, já está a contar com um crescimento acima de 2% em 2017. Ainda faltam 37 dias para o segundo trimestre de 2017 terminar. O Instituto Nacional de Estatística (INE) só se vai atrever a fazer uma estimativa preliminar sobre o crescimento económico do segundo trimestre a 14 de agosto. Mas esta quarta-feira, o ministro das Finanças disse à Reuters que já está à espera que o PIB avance “mais de 3%”. Mário Centeno tem uma bola de cristal? Ou está a atirar-se para fora de pé?
Com menos de metade do trimestre ainda por decorrer, os indicadores de mais curto prazo sobre o andamento económico são escassos. Mas Mário Centeno disse à Reuters que, em termos homólogos, o segundo semestre irá registar um crescimento de “mais de 3%, dada a aceleração que estamos a observar.”
É certo que o INE diz que o indicador de clima económico, já disponível até abril, aumentou. E que o Banco de Portugal acrescenta que o indicador coincidente, que serve precisamente para medir o ritmo da atividade económica, arrancou o segundo trimestre ao nível mais elevado dos últimos dez anos: aumentou 2,5%, uma subida considerável. Mas há pouco mais sobre os meses entre abril e junho. Desde logo, porque maio ainda não terminou e junho ainda nem começou.
Assim sendo, faz sentido que o ministro esteja já a prever um ritmo tão acelerado para o crescimento português? “Faz”, responde Rui Constantino, economista-chefe do Santander. “Sim”, corrobora Filipe Garcia, economista do IMF – Informação de Mercados Financeiros. E não é porque o ministro saiba prever o futuro, mas antes porque os indicadores avançados e a matemática assim o indicam. Mais: Rui Constantino adianta ao ECO que o próprio Santander também está a apontar para um crescimento em torno de 3%.
Porquê?
Desde logo, porque o crescimento do primeiro trimestre foi muito forte e porque o período comparável de 2016 foi fraco. “Basta crescer acima de 0,2% em cadeia, para que o crescimento homólogo fique em torno de 3%”, garante o economista. Rui Constantino explica que uma forma de antever o crescimento homólogo de um determinado trimestre é somar ao valor do crescimento homólogo registado no período imediatamente anterior, o crescimento em cadeia esperado. Depois, subtrai-se o valor do crescimento em cadeia registado no período com o qual estamos a comparar.
No caso em análise, quer dizer que somamos a 2,8% — o crescimento homólogo do primeiro trimestre — o valor do crescimento trimestral esperado para o segundo trimestre. Depois, subtraímos 0,2 pontos percentuais, que foi o crescimento em cadeia do segundo trimestre de 2016.
Contas feitas, quer dizer que basta crescer mais de 0,2% entre abril e junho, face aos primeiros três meses deste ano, para que o crescimento homólogo do segundo trimestre de 2017 seja superior a 2,8% — logo, em torno de 3%.
"Mas já agora, vale a pena dizer que no segundo semestre o crescimento abrandará para valores em torno de 2,2%.”
Ora, os poucos indicadores que existem apontam para uma aceleração da atividade neste arranque de trimestre. “Normalmente, há uma boa aderência entre o PIB, os dados do comércio internacional, a produção industrial e o emprego”, diz Filipe Garcia. “Claro que ainda com junho por decorrer é uma previsão arriscada”, reconhece. E dá um exemplo: bastaria que o Porto de Sines paralisasse durante umas semanas, por qualquer razão, para que a projeção fique furada. Mas o que os dados existentes mostram “é que estamos numa trajetória de aceleração”, assegura o economista do IMF.
"Claro que ainda com junho por decorrer é uma previsão arriscada.”
Além disso, lembra Rui Constantino, a Páscoa este ano foi em abril. “A Páscoa é o segundo mês mais forte de consumo privado do ano, a seguir ao Natal”, nota o economista. E em 2016 a Páscoa celebrou-se em março — por isso, o segundo trimestre deste ano vai contar com a ajuda deste efeito na base de comparação.
Do mesmo modo, o modelo de previsão utilizado pelo Santander para projetar o crescimento anual aponta para um segundo trimestre com este nível de atividade. “Mas já agora, vale a pena dizer que no segundo semestre o crescimento abrandará para valores em torno de 2,2%”, avisa Rui Constantino. É que a segunda metade de 2016 correu bem melhor do que a primeira, o que torna mais difícil crescer, em termos comparativos, como o ECO já explicou aqui.
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