Dos ingredientes-estrela aos “heróis na cozinha”, conheça as dez tendências do setor agroalimentar para 2024

Num evento que juntou mais de 200 representantes da indústria agroalimentar na Maia, a PortugalFoods apresentou uma análise sobre as dez grandes tendências do setor agroalimentar para este ano.

A PortugalFoods apresentou esta terça-feira as dez grandes tendências do setor agroalimentar para este ano, no âmbito de uma conferência que juntou mais de 200 representantes da indústria agroalimentar portuguesa no auditório do Parque de Ciência e Tecnologia da Maia (TecMaia).

A análise apresentada por Marta Delgado del Río, da Innova Market Insights, mostra que o consumidor atual tem uma atenção redobrada em relação ao que ingere, está atento aos ingredientes presentes nos rótulos das embalagens, procura produtos com benefícios para a saúde e que protejam o ambiente e a natureza. Paralelamente, os alimentos à base de plantas e as águas com sabor começam a ganhar destaque.

“Para assegurarem o seu futuro, os fabricantes da indústria transformadora e as marcas devem capacitar-se para responder ao mercado – e este exige e reage, cada vez mais, a valores e propósitos muito claros, que tornam a missão das empresas mais desafiante. Se o preço ainda faz a diferença, não menos pesam na decisão dos consumidores fatores como a origem dos produtos, a sustentabilidade do processo produtivo, os benefícios para a saúde e os valores defendidos pelas marcas”, aponta a diretora executiva da PortugalFoods.

Para a indústria, acrescenta Deolinda Silva, é um “desígnio crucial ter produtos que sejam competitivos para o consumidor, com qualidade e que transmitam confiança – seja nos novos ingredientes utilizados, seja nas suas iniciativas de sustentabilidade”.

Conheça as dez grandes tendências que vão impactar o setor agroalimentar no curto e médio prazo:

  1. Ingredientes-estrela: Os ingredientes são o fator decisivo na escolha dos consumidores na hora da compra, com a proteína a ser o mais procurado. Cerca de um terço dos consumidores, em todo o mundo, dizem que procuram sempre informação sobre os ingredientes presentes nos rótulos das embalagens. Cerca de 42% dos inquiridos referem que a “proteína” é o ingrediente mais relevante, visto como essencial para uma melhor gestão do corpo e do peso. Esta procura do ingrediente essencial – que a indústria deve comunicar abertamente nas embalagens e na promoção dos produtos – é geracional: se as novas gerações procuram proteína e minerais, as mais velhas querem produtos com vitaminas, fibras ou Ómega-3.
  2. Nutrir a natureza. Os consumidores pretendem que as marcas sejam mais pró-ativas e vão além do “chavão” da sustentabilidade. Querem garantias de que estão a tomar ações concretas que protejam o ambiente e a natureza e, por isso, procuram produtos que usem menos água, protejam as florestas ou utilizem apenas energias renováveis no seu processo produtivo. A implementação de bioengenharia e de tecnologia para criação de variedades mais adaptadas, que necessitem de menos recursos e promovam uma agricultura de precisão que seja mais “amiga do ambiente”, é apreciada, da mesma forma que afirmações da utilização de agricultura regenerativa ou biodinâmica são extremamente positivas para os consumidores.
  3. Priorizar a prevenção. Mais de um terço dos consumidores pretende ser pró-ativo na gestão da sua saúde, mostrando, antes de mais, preocupações com a gestão do peso, mas também com a saúde do coração, dos ossos e das articulações. A indústria, por isso, deve procurar conhecer ao máximo os seus públicos-alvo e definir as mensagens de acordo com as principais preocupações de saúde que cada um demonstra.
  4. Produtos de origem vegetal. Esta tendência, apontada já em 2023, os alimentos à base de plantas sobem claramente de posição na lista de tendências: se, antes, era apenas pensado para o nicho vegan, há espaço para alargar a base de consumidores, uma vez que estes começam a ver nestes produtos uma forma de diversificarem a sua dieta. Mais de metade dos consumidores expressam também o desejo de experimentar versões plant based de culinária tradicional e local, com a indústria a responder com a oferta de refeições prontas em formatos acessíveis e simples – incluindo, por exemplo, finger food, snacks, mas também refeições principais.
  5. Local torna-se global. Os consumidores estão abertos a novas experiências. Mais de dois terços dos inquiridos dizem-se disponíveis para experimentar e incluir nas refeições do dia-a-dia sabores do mundo. E metade dos mais jovens querem mesmo provar e cozinhar refeições de zonas distantes do planeta. No entanto, a preocupação com o ambiente e com os produtos locais mantém-se. Os clientes preferem produtos produzidos nos seus próprios países, valorizando quem apresenta essas opções, mesmo para pratos tradicionais de outras geografias.
  6. Heróis na cozinha. Durante a pandemia, muitos consumidores puderam dedicar mais tempo à cozinha e a criatividade culinária floresceu. Aproveitaram para consumir produtos mais saudáveis e, ao mesmo tempo, que lhes permitissem economizar no custo das refeições. Com a inflação crescente, essa tendência mantém-se no pós-pandemia, seja pelas marmitas saudáveis e económicas, seja por “a casa” se ter tornado num espaço mais acolhedor, onde se convive e se partilha a paixão por produtos, técnicas de cozinha e experiências gastronómicas. As novas tendências passam pelo lançamento de kits com ingredientes para desenvolver determinados tipos de culinária (japonês, coreano, mexicano) ou por produtos pré-confecionados que recriam pratos e bebidas habitualmente consumidos na restauração.
  7. Indulgência saudável. Mais uma vez, uma tendência que junta o melhor de dois mundos num único conceito: os consumidores pretendem que os snacks e aqueles produtos que lhes transmitem conforto – bolachas, produtos de pastelaria, chocolates, gelados, refrigerantes, entre outros – sejam feitos com ingredientes “saudáveis”, adicionando probióticos, prebióticos, antioxidantes, cálcio, fibras naturais; substituindo ou reduzindo açúcares refinados; usando fórmulas e declarações “sem álcool”, etc.
  8. Oceanos de possibilidades. Os oceanos vão ser as quintas do futuro, usando processos produtivos mais sustentáveis, e os produtos de origem marinha vão entrar na alimentação regular. Os lançamentos de alimentos e bebidas com microalgas, por exemplo, aumentaram mais de 42%, em termos acumulados, entre 2020 e 2023. Seja pelo sabor, seja pelo crescimento da dieta vegan, pelas excelentes características nutricionais ou pelas declarações de sustentabilidade, as algas entraram no dia-a-dia dos consumidores.
  9. H2O, diversificar o futuro. Outra das tendências que conjuga saúde e alimentação passa pelo enfoque dos consumidores na hidratação. As bebidas e os ingredientes que antigamente estavam confinados aos desportos e aos ginásios – eletrólitos, isotónicos e bebidas de frutas antioxidantes – saltaram para as prateleiras dos supermercados. A preocupação com o envelhecimento saudável criou um mercado onde águas com adição de nutrientes e as suas características únicas (como, por exemplo, as águas alcalinas) são muito valorizadas pelos consumidores. A necessidade de se manter hidratado fará, igualmente, aumentar o mercado das águas com sabores – já existente –, mas agora mais concentrado em adicionar nutrientes e vitaminas a essa oferta.
  10. Minimizar o ruído. A transparência e a honestidade na informação nutricional são fulcrais para os novos consumidores, numa era de desinformação. Metade refere recear que as marcas os enganem na sua comunicação. Por isso, preferem que as embalagens sejam claras, com um bom conteúdo e sem conteúdos e elementos visuais exagerados.

Para a diretora executiva da PortugalFoods, a indústria nacional e as empresas agroalimentares têm conseguido responder às tendências do mercado. “Estamos orientados para o mercado, muito atentos às tendências mundiais e somos dinâmicos nas respostas e nas soluções que encontramos, resultado da visão consistente que temos tido em matéria de inovação e de desenvolvimento de novos produtos. Apresentamos também características de mercado, ideal para testar conceitos dada a adaptabilidade da indústria e dos consumidores portugueses”, defende.

Deolinda Silva, diretora executiva da PortugalFoodsJoão Pedro Rocha / Dare2Change

“Os consumidores têm absorvido muita informação nos últimos anos e associam produtos de qualidade a determinados ingredientes saudáveis, desde superfrutas, proteínas ou até bactérias amigas para o organismo. Daí que a primeira tendência de mercado para 2024 seja a aposta clara nos ingredientes-estrela, das proteínas às fibras”, remata Marta Delgado del Río, que faz parte da equipa da Innova Market Insights, consultora responsável pelas conclusões das tendências agroalimentares deste ano.

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