Quatro anos depois, Stilwell renova liderança numa EDP cada vez mais renovável
Os últimos quatro anos foram de crescimento, mas também de alguns obstáculos para a EDP, que foi reforçando a aposta nas renováveis enquanto lidava com uma pandemia, uma crise energética e secas.
Miguel Stilwell de Andrade, oficialmente na liderança da EDP desde o início de 2021, prepara-se para terminar um mandato no qual se deparou com uma pandemia e uma crise energética, mas no qual ainda assim a empresa cresceu, sobretudo apoiada no negócio de energias renováveis, que cada vez mais se impõe entre as atividades do grupo.
Esta quarta-feira, na Assembleia Geral de Acionistas, o Conselho de Administração Executivo é reeleito quase inalterado, com Stilwell à cabeça e, a seu lado, Vera Pinto Pereira, Ana Paula Marques, Rui Teixeira e Pedro Vasconcelos, depois de Miguel Setas ter abdicado dos comandos da EDP Brasil no ano passado. Pela frente, têm o desafio de multiplicar a capacidade renovável da EDP e terminar a geração a carvão, trilhando um caminho mais verde, numa altura em que o contexto de preços não é o mais favorável para o setor das energias limpas.
Foi em janeiro de 2021 que, após um período de transição na liderança da elétrica portuguesa, Miguel Stilwell de Andrade foi nomeado CEO do grupo EDP e da EDP Renováveis. Stilwell de Andrade, que anteriormente tinha a seu cargo as Finanças do grupo, estava desde o mês de julho do ano anterior na liderança, mas como CEO interino. Foi-lhe atribuído esse papel na sequência do afastamento da anterior gestão, encabeçada por António Mexia, na EDP, e João Manso Neto, na EDP Renováveis. Um afastamento ditado pelas suspeitas de que eram alvo no âmbito de um processo judicial, conhecido como Caso EDP.
O novo capítulo que se abriu, no qual Stillwell acumulou as funções de líder da EDP e da respetiva subsidiária de energias limpas, refletiu “o peso crescente da EDPR dentro do Grupo EDP e as expetativas de crescimento existentes, que serão cruciais para o futuro desenvolvimento do grupo”, lia-se num comunicado emitido à data. Outro elemento que passou a ser comum na liderança de ambas as empresas do grupo foi Rui Teixeira, que assumiu a pasta das Finanças.
“Somos, com orgulho, uma das empresas de energia mais sustentáveis do mundo, com mais de 85% da nossa energia gerada a partir de fontes renováveis. E queremos ir mais longe – deixar totalmente a geração a carvão até 2025, ser totalmente verdes até 2030, e atingir a neutralidade carbónica até 2040”, destaca-se na mensagem que o CEO deixou na apresentação dos últimos resultados, relativos a 2023.
"Somos, com orgulho, uma das empresas de energia mais sustentáveis do mundo, com mais de 85% da nossa energia gerada a partir de fontes renováveis. E queremos ir mais longe – deixar totalmente a geração a carvão até 2025, ser totalmente verdes até 2030, e atingir a neutralidade carbónica até 2040”
O grupo EDP tem várias áreas de negócio. Além da geração de energia, que assenta de momento, sobretudo, em energias renováveis, atua também como comercializadora e é ainda detentora de redes elétricas. No entanto, as energias renováveis têm ganho tanto protagonismo que, numa chamada com analistas a propósito da apresentação de resultados da subsidiária EDP Renováveis, Stilwell admitiu que é frequentemente discutida a hipótese de combinar a EDP com a EDP Renováveis numa única entidade, embora considere que, neste momento, não estão reunidas condições para que tal movimento aconteça.
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O segmento renovável é de facto aquele que tem mais expressão nas receitas da EDP (ver gráfico). O primeiro mandato de Stilwell terminou com uma subida abrupta nos lucros, de 40% em 2023, embora o ano anterior a subida tenha sido muito ligeira e em 2021 se tenha registado mesmo uma quebra. Já o investimento tem vindo a subir consistentemente, e a dívida líquida tem-no acompanhado nos últimos dois anos, depois de ter descido ao nível mais baixo em 14 anos.
O “adeus” ao carvão e “olá” a renováveis em novos mercados
O ano de 2020 ficou marcado não só pela nomeação de Stilwell como CEO interino, mas também pela decisão da EDP de antecipar o processo de encerramento das centrais a carvão na Península Ibérica. E foi em julho que anunciou ter chegado a acordo para a compra da espanhola Viesgo, por 2,7 mil milhões de euros, acompanhada da emissão de mil milhões de euros em novas ações.
O ano seguinte abriu com um marco histórico a nível nacional: a central térmica de Sines deixou de produzir eletricidade a carvão, depois de 35 anos de atividade. Pouco depois, em fevereiro, a energética comprometeu-se a libertar-se da geração a carvão, até 2025, e tornar-se 100% verde até 2030. Um mês depois, o conselho de administração aprovou um aumento de capital da EDP Renováveis de 1,5 mil milhões de euros.
Mas nem tudo foram novidades positivas. 2021 terminou com uma quebra de 18% nos lucros, que não passaram dos 657 milhões de euros. Para isto, contribuíram as imparidades associadas ao portefólio de centrais térmicas no mercado ibérico, mas também a subida dos preços grossistas da energia nos mercados internacionais e, por fim, o desempenho abaixo da média das barragens na Península Ibérica.
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A falta de água voltou a ser um assunto em 2022, ano em que os lucros subiram apenas ligeiramente, na sequência da seca extrema vivida em Portugal nos primeiros nove meses do ano, mas também pelo registo de imparidades associadas a centrais térmicas ibéricas e no Brasil.
Foi, contudo, um ano de expansão. Através da parceria com a Engie, sob a insígnia Ocean Winds, a EDP lançou-se na energia eólica offshore na Escócia e nos Estados Unidos, nos primeiros dois meses do ano (para, em dezembro, conseguir novo negócio nos Estados Unidos). Ainda fevereiro não tinha acabado, fechou o acordo para a compra da Sunseap, de Singapura, através da qual se lançou no mercado asiático, na área do solar. Em julho, o braço das renováveis voltou a agarrar novo território, a Alemanha e os Países Baixos, com a aquisição da Kronos Solar.
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No que toca a inovação, destacou-se a inauguração do parque solar flutuante da EDP na barragem do Alqueva, e a produção da sua primeira molécula de hidrogénio verde no Brasil, no âmbito de um projeto-piloto. Por fim, 2022 foi ano de mudar de cara. A EDP lançou uma nova identidade, refrescando a imagem, e abandonando o antigo logótipo vermelho para dar lugar ao azul, verde e roxo.
2023, o ano da grande expansão
Chega 2023, um ano em que a EDP deu um salto nas metas e nos lucros. Esta última rubrica disparou 40% para os 952 milhões de euros. A ajudar, esteve a recuperação na capacidade das barragens em Portugal, que regressaram a níveis em linha com a média histórica, mas também o aumento dos resultados da EDP Brasil.
A recolha de mais receita do outro lado do oceano seguiu-se à oferta pública de aquisição lançada sobre a subsidiária brasileira, a qual passou a ser detida na totalidade pela EDP em agosto. Para financiar esta operação, em março, a EDP fez um aumento de capital de mil milhões. Em paralelo, emitiu a mesma quantia para financiar parcialmente o plano de crescimento da EDP Renováveis. É que março foi também o mês de renovar a ambição, com o lançamento de um novo – e ainda atual – plano estratégico, para o triénio 2023-2026.
Mas, novamente, nem tudo são boas notícias. A pesar negativamente nos resultados da EDP do ano passado estiveram imparidades na central a carvão de Pecém, no Brasil, e nas centrais de ciclo combinado em Portugal, mas também o atraso nos projetos eólicos na Colômbia. Estes últimos contribuíram para uma quebra para metade nos resultados da EDP Renováveis, que também saiu prejudicada pela queda a que se assistiu nos preços da venda da eletricidade no mercado grossista, já longe dos picos de 2022.
2024 começa com o pé esquerdo
No conjunto dos três anos sobre os quais se debruça o plano estratégico, a EDP planeia investir 25 mil milhões de euros, 85% dos quais em energias renováveis, e assim adicionar 4,5 gigawatts de capacidade por ano. Estes compromissos são assumidos numa conjetura desafiante: os preços no mercado grossista da eletricidade, onde produtores vendem a eletricidade aos comercializadores, têm caído a pique desde os máximos de 2022, pressionando o setor renovável, com receitas menos atrativas. Em paralelo, a inflação faz crescer o custo dos projetos, as taxas de juro crescentes prejudicam o custo de financiamento.
Nos mercados, o valor das cotadas do grupo EDP, EDP e EDP Renováveis, tem vindo a decrescer nos últimos quatro anos — cerca de 30% — e sofreu um rombo mais pronunciado no primeiro trimestre deste ano. O grupo, no seu conjunto, perdeu mais de 10 mil milhões de euros em capitalização bolsista no trimestre que acaba de terminar, tal como o ECO analisa mais em pormenor neste artigo.
É este o pano de fundo para a Assembleia Geral de Acionistas que se realiza esta quarta-feira, e na qual se vai votar a eleição de um novo Conselho Geral de Supervisão, com António Lobo Xavier como presidente, e outros itens como a retirada do “Energias de Portugal” do nome da EDP, uma empresa que passou de 19 mercados em 2020 para os 29 nos quais está presente atualmente, e pretende continuar a aumentar a sua pegada global.
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