Santana Lopes: “Não quero ser banqueiro”
O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa garante que só entrará no capital do Montepio se o risco não for indevido. Santana Lopes pede tempo para analisar o dossier e não aceita pressões.
“Só entramos se o risco estiver bem medido. Se for considerado pesado e intolerável a Santa Casa não entra” no capital do banco Montepio, disse Pedro Santana Lopes. Em entrevista ao “Jornal da Noite” da Sic, o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa garante que não quer ser banqueiro e que não aceita ser pressionado. Se for obrigado a tomar uma decisão contrária à sua avaliação demite-se.
“Não quero ser banqueiro nem ninguém na administração quer ser bancário”, ironiza Pedro Santana Lopes. O provedor garante que é sensível ao argumento de a Santa Casa vir a entrar no capital do Montepio, através da compra de cerca de 10% da posição da Caixa Económica no capital do banco liderado por Félix Morgado, para defender o interesse nacional, mas assegura que nunca o fará se o risco for “intolerável”.
“O interesse nacional tem de implicar que a Santa Casa não está em risco”, sublinha, quando questionado pelo argumento que o governador do Banco de Portugal terá usado para o convencer a entrar no capital do banco, como revelaram o Expresso e o Público este fim de semana. “Se o risco for indevido não entramos”, assegura, garantindo que tem “tido da parte do Governo compreensão” com essa posição.
O interesse nacional tem de implicar que a Santa Casa não está em risco. Se o risco for indevido não entramos.
Mas reconhece que, “como português” não quer que a solução para outro banco seja este “ser engolido por um banco maior”. “Quase deixou de haver bancos portugueses e isso também preocupa o Banco de Portugal.” “Estamos avaliar se há condições para entrar”, acrescentou.
“Só aceitaremos se a participação for feita à medida das nossas capacidades”, acrescentou. Pedro Santana Lopes rejeitou que uma eventual tomada de posição no Montepio venha a custar 140 milhões como avança esta terça feira o Jornal de Negócios (acesso pago), porque isso é pressupor que a Santa Casa iria comprar as unidades de participação da Caixa Económica ao preço de mercado — as unidades de participação dispararam 55%, chegando a um máximo quase desde a estreia no mercado de capitais de 95 cêntimos. “Isso era pressupor que a Santa Casa iria comprar pelo valor que o Montepio quisesse vender”. “A negociação ainda agora teve início”, acrescentou.
E o tempo é um fator de peso neste peso neste dossier. Pedro Santana Lopes pediu tempo para estudar. “Sob stress temporal não o fazemos”, avisou, lembrando que ainda não são conhecidos os resultados das auditorias internas e externas e ainda não forem feitas as due dilligencies.
Mas os recados para “os responsáveis cimeiros” não se ficam por aqui. Reiterando que “a Santa Casa não entra em aventuras” e que muitos falam como se a decisão já estivesse tomada, Pedro Santana Lopes disse que se for obrigado a tomar uma decisão contrária à sua avaliação sai.
“A Santa Casa está a estudar um dossier que as autoridades lhe pediram para analisar. Mas a Santa Casa é uma entidade de direito privado. Se decidir não entrar julgo que não será por isso que o Governo afastará a administração da Santa Casa. Se alguém nos quiser impor uma decisão com a qual não concordamos, obviamente, no meu caso, eu sairia. Nunca vou tomar uma decisão que vá contra a minha consciência”, rematou.
Se decidir não entrar julgo que não será por isso que o Governo afastará a administração da Santa Casa. Se alguém nos quiser impor uma decisão com a qual não concordamos, obviamente, no meu caso, eu sairia.
Mas o processo ainda vai muito no início, garante Pedro Santana Lopes, revelando que ainda nunca se reuniu com Tomás Correia, o presidente da Associação Mutualista Montepio Geral, o principal acionista do Banco Montepio e que, em virtude do buraco superior a 100 milhões de euros que apresentou nas suas contas, está impossibilitado de injetar mais dinheiro no banco. “Abrimos o processo, contratámos os consultores e são eles que nos fazem o trabalho, que depois estudamos. E é com base nisso que decidimos”, explicou o provedor.
Pedro Santana Lopes revelou ainda que, por iniciativa própria, entraria neste negócio — mesmo que não tivesse sido abordado pelo Executivo através do ministro Vieira da Silva –, até porque não é a primeira vez que a Santa Casa tem participações financeira (já teve 10% na Imoleasing a sociedade de leasing da CGD, e participações em seguradoras ligadas ao Montepio como a Lusitania Seguros). Além de que uma boa gestão dos ativos da Santa Casa é não os deixar parados — “nunca as receitas dos jogos e do património foram tão elevadas”, reconhece. E num contexto de baixas taxas de juro esta pode ser uma boa solução, admitiu.
“Temos resultados como nunca tivemos e não vamos dar cabo disso”, garantiu o provedor sublinhado que a não hesita em fazer investimentos nas áreas de ação social e saúde. Já a entrada no capital do Montepio é algo a analisar, com tempo.
Notícia atualizada às 22h09
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Santana Lopes: “Não quero ser banqueiro”
{{ noCommentsLabel }}