Três anos depois da OPV, CTT regressam à casa de partida. Porquê?
Desilusão do mercado com resultados no primeiro semestre atira ações do correio e banco postal para mínimos históricos.
Cerca de três anos depois da estreia em bolsa e, um ano depois de máximos históricos perto dos 10,50 euros, os CTT estão de regresso à casa de partida. As ações da empresa de correio e banco postal negociaram hoje nos 5,511, um preço abaixo da Oferta Pública de Venda (OPV) realizada em dezembro de 2013, e confirmam que a estrela da bolsa nacional perdeu brilho. Que fatores estão a pressionar a empresa liderada por Francisco Lacerda?
As ações dos CTT valorizaram esta segunda-feira mais de 1%, fechando nos 5,655 euros, um ganho manifestamente insuficiente para cobrir o desempenho negativo em 2016 — perde mais de 36%, o segundo pior desempenho no PSI-20. A empresa apresenta atualmente uma capitalização bolsista de cerca de 850 milhões de euros.
Com a primeira metade do ano a trazer um lucro de 31,7 milhões de euros aos CTT, este resultado que ficou claramente abaixo daquilo que o mercado estava à espera, refletindo as condições adversas em que a empresa encontra em Portugal. Aquando da apresentação destes resultados, a administração liderada por Lacerda anunciou uma revisão em baixa das metas para o resto do ano.
“Os resultados no primeiro semestre de 2016 e as perdas com o projeto bancário justificam a desvalorização do título. Nos primeiros seis meses do ano, assistimos a uma queda de 19,1% face ao mesmo período de 2015”, explica Eduardo Silva, gestor da XTB Portugal. Marisa Cabrita, gestora de ativos da Orey Financial, acrescenta que a “empresa cortou o guidance para o EBITDA recorrente e anunciou esperar uma estabilização das receitas, em vez de crescimento em 2016″.
Foram estas as razões que motivaram, de resto, uma descida em 7,3% do preço-alvo atribuído pelo Caixa BI, numa nota de análise divulgada no início do mês passado. Apesar desta revisão em baixa, um total de nove analistas em 15 continuam a recomendar a compra deste título.
Banco postal penaliza
Com o negócio postal dependente do mercado doméstico, também a atividade bancária dos CTT não ajuda a melhorar a confiança dos investidores. “A fase de juros baixos e a falta de confiança no setor bancário justificam os valores negativos de 10,2 milhões de euros”, referiu Eduardo Silva. “Se excluirmos o projeto bancário o resultado líquido é bastante forte, daí assistirmos ao reforço de posições por parte de investidores como o Norges Bank, cujo foco no médio longo prazo é maior”, precisou o especialista da XTB Portugal.
Também a associação dos CTT ao risco País também está a condicionar a cotação, complementou Marisa Cabrita. “A empresa está muito exposta à evolução das yields portuguesas quer devido à condição de high dividend yield company quer devido à dependência das mesmas no âmbito da atividade bancária”, explica a gestora.
"A empresa está muito exposta à evolução das yields portuguesas quer devido à condição de high dividend yield company quer devido à dependência das mesmas no âmbito da atividade bancária.”
A sessão desta segunda-feira trouxe um alívio da perceção de risco de Portugal da parte dos investidores internacionais — a taxa de juro das obrigações portuguesas registou esta segunda-feira a maior queda em três meses. Ainda assim, este sinal de tréguas surge depois de um agravamento acentuado da desconfiança do mercado nas últimas semanas, perante o relativo desconforto com a decisão da agência DBRS em relação ao rating de Portugal.
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