Transição de carreira para a área de Clima e Sustentabilidade: O poder da liderança consciente e da diversidade de competências

  • Sofia Barbeiro e Érica Liberato
  • 6 Junho 2024

As alterações climáticas exigem que as lideranças internas se mobilizem no sentido de acelerar a aquisição de talento ou se tornem promotoras da transição de carreira dos colaboradores que o desejem.

É inegável que o mercado de trabalho procura adaptar-se e aliar-se ao combate das principais crises ambientais: climática, perda de biodiversidade, poluição, entre outras, em todos os setores da economia. Um estudo do Linkedin de 2023, revela que o aumento da procura por competências “verdes” supera o aumento da oferta de mão de obra, revelando uma potencial escassez destas competências no mercado de trabalho. Entre 2022 e 2023, a proporção de talentos “verdes” no mercado de trabalho aumentou cerca de 11,6% nos 26 países examinados, enquanto a proporção de vagas de emprego que exigem pelo menos uma competência “verde” cresceu quase três vezes mais rápido — cerca de 32,2%.

Desta forma, a crescente importância das questões climáticas e de sustentabilidade tem aberto um vasto campo de oportunidades para profissionais de diversas áreas – novas ou não tão novas assim. A transição para uma carreira nessa área não é apenas uma mudança de emprego para uma área que está “na moda”, mas um movimento em direção a um propósito e a contribuição para um impacte positivo maior através do nosso servir.

Por um lado, o surgimento de novos empregos verdes, a necessidade de requalificação em setores associados à transição energética justa e o investimento em novas áreas tecnológicas e digitais associadas à ação climática obrigarão as empresas a reforçar os seus quadros e atrair talento capaz de dar resposta aos desafios ambientais e sociais que enfrentamos. Por exemplo, carbon accounting e sustainable procurement estão entre os cargos com o crescimento mais acelerado nos EUA e na UE. Nesta última, outras profissões incluem o planeamento de ação climática, a educação para a sustentabilidade, a análise de emissões de carbono, e a sustentabilidade corporativa.

Para além disso, o facto de vermos uma aceleração e intensificação ao nível das políticas ambientais na União Europeia levará à necessidade de reforço das equipas capazes de dar resposta às exigências cada vez maiores de compliance e de gestão de risco.

Por outro lado, apesar de não serem geralmente consideradas como empregos verdes, áreas como estratégia corporativa, negociação e gestão de projetos, são altamente relevantes e constituem uma mais-valia para as organizações que ambicionam fortalecer as suas práticas no domínio da sustentabilidade. Os trabalhadores com experiência nesses cargos poderão posicionar-se de forma competitiva para pôr as suas qualificações ao serviço das necessidades de ESG das empresas.

Contudo, para entrar ou transitar para esse mercado de trabalho, não bastam somente conhecimentos técnicos, mas é também necessário desenvolver uma série de soft skills que são diferenciais para o desenvolvimento da carreira e que determinam o sucesso em ações com certo grau de complexidade, como o da sustentabilidade e das alterações climáticas. Falamos de habilidades como:

  • Comunicação Eficaz: Ser capaz de comunicar ideias complexas de maneira clara e persuasiva, tanto para engajar stakeholders internos quanto externos.
  • Empatia: Entender as perspetivas e necessidades de diferentes stakeholders é vital para promover mudanças significativas.
  • Pensamento Crítico e Criativo: Resolver problemas complexos requer capacidade de pensar fora da caixa e propor soluções inovadoras, levando em conta múltiplos fatores e temporalidades.
  • Colaboração: Trabalhar de forma eficaz em equipas multidisciplinares.
  • Adaptabilidade: Ajustar-se rapidamente a mudanças, contextos e a novas informações.
  • Visão sistémica: Integrar diferentes perspetivas e referências, sendo capaz de estabelecer interconexões de forma estratégica.
  • Para além disso, a crise climática é uma das principais preocupações da Geração Z e dos Millennials, que ambicionam fazer parte da solução. Valorizam, por isso, as empresas com compromissos ambientais e sociais claros e tangíveis, fator importante que pode pesar no momento de escolher um potencial empregador.

Mas não basta que as empresas aumentem as suas vagas nas áreas ESG, na esperança de as verem ser preenchidas à medida que uma nova geração de trabalhadores mais capaz e sensibilizada para os temas tenha capacidade para cobrir as necessidades de recursos humanos. A magnitude dos desafios ambientais e sociais e a urgência das alterações climáticas exigem que as próprias lideranças internas se mobilizem no sentido de acelerar essa aquisição de talento ou se tornem promotoras da transição de carreira dos colaboradores que assim o desejam, ampliando a visão de que todas as profissões podem ser postas ao serviço do clima e sustentabilidade.

De um ponto de vista sistémico das organizações, a entrada de profissionais de diferentes formações na sustentabilidade é extremamente benéfica, enfatizando a diversidade de diferentes perspetivas através das contribuições únicas de cada indivíduo para o alcance de soluções criativas para problemas complexos. Afinal, problemas enfrentados em conjunto criam uma cultura de cooperação e confiança.

Na construção dessa multidisciplinaridade de profissionais rumo à uma carreira na área, o desenvolvimento das lideranças conscientes desempenha um papel crucial na transição para a sustentabilidade. São elas que influenciam a criação de oportunidades para as suas equipas obterem conhecimento complementar e incentivam a aplicação do conjunto das suas habilidades para novas áreas de trabalho que estão a surgir.

Uma liderança consciente e responsável é, assim, essencial para catalisar a transformação organizacional necessária para enfrentar os desafios atuais da sustentabilidade. Líderes conscientes têm a capacidade de inspirar as suas equipas e criar uma cultura organizacional robusta. De acordo com Daniel Christian Wahl, em seu livro Lideranças Regenerativas, tais líderes promovem um ambiente onde a inovação e a resiliência são fomentadas através de práticas sustentáveis e regenerativas, além da aptidão de ver a organização como um sistema vivo e dinâmico.

Otto Scharmer, pensador da Teoria U, enfatiza a importância de uma liderança que não apenas responda aos problemas atuais, mas que antecipe e molde o futuro através de uma mudança de paradigma e profunda consciência coletiva. Fritjof Capra também destaca a necessidade da alfabetização ecológica e do design ecológico na maturidade para desenvolver uma consciência ecossistémica e melhores tomadas de decisões em diferentes esferas de uma organização.

Não surpreende, por isso, que a sustentabilidade esteja cada vez mais a ser incorporada ao nível das comissões executivas e dos Conselhos de Administração. Um fenómeno que aponta para a necessidade de incorporar competências diversas por forma a priorizar estratégias de net-positive e o seu potencial impacto nos resultados e na longevidade do negócio.

Nota: esta é a coluna da iniciativa cívica Women in ESG Portugal para o ECO, e por meio deste canal pretendemos trazer conteúdos ligados ao ESG de forma descomplicada para a sociedade, na voz de mulheres, de gerações diferentes, que detêm expertise técnica na área. Para mais informações, aceda ao site: www.winesgpt.com

  • Sofia Barbeiro
  • Gestora de projetos na área de Sustentabilidade
  • Érica Liberato
  • Geógrafa, Especialista em Gestão da Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa

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