Empregadores mais otimistas. Quase 4 em cada 10 querem contratar mais trabalhadores no próximo trimestre
Com verão à porta, cenário político mais estável e inflação a abrandar, empregadores nacionais estão agora mais otimistas. Transportes, logística e automóvel têm maiores intenções de contração.
Os empregadores portugueses estão mais abertos a contratar trabalhadores, agora que o verão se aproxima, a inflação está a abrandar e o país já não está tem um Governo em gestão corrente. De acordo com a análise da empresa de recursos humanos ManpowerGroup, a que o ECO teve acesso em primeira mão, 37% dos empregadores nacionais antecipam aumentar as suas equipas no próximo trimestre.
“No terceiro trimestre deste ano, as empresas portuguesas mantêm as intenções de contratação otimistas, com a projeção para a criação líquida de emprego a fixar-se nos 18%, um aumento de sete pontos percentuais face ao último trimestre”, explica o ManpowerGroup, no “Employment Outlook Survey”.
A projeção para a criação líquida de emprego é um indicador equivalente à diferença entre a percentagem de empregadores que planeiam contratar e aquelas que antecipam reduções dos níveis de pessoal.
De olhos no terceiro trimestre, 37% dos empregadores portugueses preveem aumentar as suas equipas e 19% estão a contar com uma redução, o que resulta na tal projeção de criação líquida de emprego de 18%.
Para o segundo trimestre, 33% tinham apontado para um aumento das contratações de pessoal, o que significa que, entretanto, houve um reforço das intenções de recrutamento.
A explicar essa evolução está, em primeiro lugar, a aproximação do verão, destaca o diretor-geral do ManpowerGroup Portugal. “A sazonalidade do turismo típica desta altura do ano tem um impacto significativo. Portugal continua a depender bastante das atividades de turismo, que são particularmente solicitadas durante este período, exigindo um reforço nas contratações“, explicita Rui Teixeira.
O responsável realça também que “muitas empresas têm em setembro o kick-off das suas atividades comerciais, já em preparação da época de final do ano, o que impacta também nas intenções de contratação para este trimestre”.
Ter um Governo definido traz uma sensação de maior segurança, tanto para os empresários como para os consumidores.
Mas o otimismo não é apenas causado pelo estio. Rui Teixeira salienta que outro fator “é o cenário atual de menor instabilidade política“, embora o país não esteja num momento de “estabilidade absoluta”. “Ter um Governo definido traz uma sensação de maior segurança, tanto para os empresários como para os consumidores”, sublinha o diretor-geral.
Além disso, a economia europeia, depois de um momento gerador de preocupações, está agora a dar “os primeiros indicadores positivos e sinais de recuperação“. “Ainda nesta linha, a evolução positiva da inflação já dava sinais de um possível um alívio na política monetária do Banco Central Europeu. Este, naturalmente, é um fator que também vem contribuir de forma relevante para um ambiente económico mais favorável e uma maior confiança nos empregadores”, assinala Rui Teixeira.
Transportes, logística e automóvel em destaque
Os empregadores nacionais estão mais otimistas, mas o sentimento não é exatamente o mesmo em todos os setores. De acordo com a análise do ManpowerGroup, são as empresas do setor dos transportes, logística e automóvel a apresentar as intenções de contratação mais otimistas, seguindo-se o setor dos bens e serviços de consumo.
Em contraste, os setores de tecnologias de informação e dos serviços de comunicação têm projeções de criação líquida de emprego menos otimistas.
O setor tecnológico, regra geral, brilha nas perspetivas de emprego, mas Rui Teixeira reconhece que é um facto que “tem vindo a abrandar o seu crescimento desde há dois trimestres”. “No entanto, este ainda apresenta uma projeção robusta, fixando-se nos 17%, com 42% dos empregadores deste setor a planear aumentar as suas equipas face a 25% a pretender reduzi-las”, realça o especialista em recursos humanos.
Há vários fatores a explicar este arrefecimento das tecnologias, segundo o diretor-geral. Primeiro, a necessidade de recalibrar as equipas, depois dos picos de recrutamento vividos durante a pandemia. Depois, o encarecimento do capital no setor tecnológico, com o aumento da inflação e das taxas de juro.
E, por fim, o impacto da automatização e da inteligência artificial. “As empresas estão a apoiar-se cada vez mais neste tipo de ferramentas e na automação para obter mais eficiência e inovação, o que tem resultado frequentemente numa redução ou numa redefinição das necessidades de talento“, observa Rui Teixeira.
Quanto à distribuição da projeção de criação líquida de emprego por regiões, o sul apresenta perspetivas mais fortes, seguindo-se o Grande Porto. “A região do Centro (+6%) revela um ligeiro abrandamento face ao segundo trimestre (menos um ponto percentual), sendo também a região com a maior descida face ao terceiro trimestre de 2023“, é realçado no estudo.
Portugal ainda abaixo da média global
No âmbito do “Employment Outlook Survey”, o ManpowerGroup não estuda apenas o mercado português — questiona 40.347 empregadores de 42 países. Em termos globais, os empregadores (à semelhança dos portugueses) estão também mais abertos a contratar no terceiro trimestre, do que estavam nos três meses anteriores.
No entanto, a média portuguesa continua abaixo da média global: 42% dos empregadores globais estão abertos a aumentar as equipas contra os tais 37% portugueses.
No contexto português, a verdade é que não somos um país suficientemente autónomo para estar constantemente à frente da aceleração e da desaceleração.
“No contexto português, a verdade é que não somos um país suficientemente autónomo para estar constantemente à frente da aceleração e da desaceleração. Portugal acaba por acompanhar, de uma maneira geral, o movimento das economias, fenómeno associado ao nosso conservadorismo e natural dependência dos mercados externos, tais como o resto da Europa e a América”, explica Rui Teixeira.
A nível global, o diretor-geral avisa que há também alertas aos quais dar atenção: as tensões geopolíticas na Ucrânia e no Médio Oriente continuam a exercer pressão sobre os custos e as cadeias de abastecimento, os custos laborais elevados pesam sobre as decisões dos empregadores, e muitas das grandes economias estão a abrandar.
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