As empresas começaram a privilegiar os trabalhadores com competências de IA, ainda que com menos experiência profissional. Nos escritórios de advogados também já é uma competência valorizada.
O mundo do trabalho está em mudança e novos desafios se impõem, como a tecnologia. Um estudo da Microsoft e do LinkedIn revelou que sete em cada dez líderes já estão abertos a privilegiar na hora de recrutar trabalhadores que tenham competências em inteligência artificial (IA), mesmo que tenham menos experiência profissional.
Segundo os dados revelados no “2024 Anual Work Trend Index”, 66% dos líderes asseguram que recusariam contratar um candidato sem competências na área de IA. Já 77% projetam que os candidatos mais jovens e no início de carreira terão mais oportunidades e maiores responsabilidades devido à IA.
Nos escritórios de advogados auscultados pela Advocatus a IA também já é uma competência valorizada e já procuram por parcerias com empresas tecnológicas.
“Na Pérez-Llorca valorizamos que os advogados que se juntam a nós tenham conhecimentos em IA, embora não seja considerado um critério de exclusão no processo de seleção de candidatos”, revelou Eva Delgado, diretora de Recursos Humanos da firma.
A Pérez-Llorca tem implementado um plano de formação específico nesta área que é ministrado a todos os níveis do escritório de forma a garantir que todos os profissionais estão “totalmente preparados”.
“Da mesma forma que temos programas de formação em inglês jurídico, contabilidade, finanças e competências para o processo judicial, na Pérez-Llorca preocupamo-nos em assegurar que os nossos profissionais estão atualizados e preparados na utilização das novas tecnologias e, em particular, da IA”, acrescentou Eva Delgado.
A diretora de Recursos Humanos da Peréz-Llorca sublinhou ainda que o conhecimento e as competências em matéria de IA estão a tornar-se “gradualmente um fator de diferenciação” no setor jurídico e que, por isso, as empresas, as universidades e os próprios advogados estão “conscientes” da necessidade de se formarem para enfrentar os diferentes desafios tecnológicos.
Também na SRS Legal a evolução da tecnologia em torno da IA e da data science em geral está na “mira” do escritório. “Esta preocupação também está presente na hora de selecionar, desenvolver e capacitar os colaboradores da firma”, explicou o diretor-geral Rodrigo Ascensão.
“Consideramos que as soluções de IA serão produzidas por empresas tecnológicas de quem queremos ser parceiros, capazes de escolher as melhores soluções e de capacitar os nossos colaboradores a tirarem o maior partido, sempre dentro de limites de proteção de dados e confidencialidade”, notou.
Rodrigo Ascensão revelou ainda que pretendem “enriquecer” a estrutura com utilizadores ativos de ferramentas que permitam um maior grau de automação das tarefas de menor valor acrescentado. “A estratégia passa por adotar as soluções de mercado que melhor sirvam este fim”, disse.
“Nos últimos 12 meses, introduzimos três soluções de IA/Automação que ajudam os advogados a ter mais tempo para as tarefas de maior valor acrescentado. Em paralelo, temos um programa de formação e acompanhamento dos advogados na adoção das ferramentas, que na verdade só acrescentam valor para a SRS e para os clientes se forem bem utilizadas”, explicou o diretor-geral.
Das ferramentas de IA à segurança da firma
No que toca à especificidade de ferramentas de IA que valorizam nos profissionais essas podem ser bastantes diversificadas. Por exemplo, na Pérez-Llorca as ferramentas mais valorizadas pelos profissionais são as que podem ser adaptadas às necessidades do ambiente jurídico espanhol e europeu. “Em particular, no domínio da investigação jurídica, estas ferramentas podem acelerar significativamente o processo de pesquisa e análise de informações relevantes, incluindo regulamentos, doutrina e jurisprudência, proporcionando aos advogados uma base sólida e atualizada para o desenvolvimento dos seus argumentos e estratégias jurídicas”, revelou Marisa Delgado, diretora de Gestão de Conhecimento da Pérez-Llorca.
Marisa Delgado explicou ainda que a capacidade de análise documental permite uma análise “exaustiva” e “rigorosa” de contratos e outros documentos jurídicos, otimizando a sua revisão, e que, da mesma forma, a capacidade de tratar e analisar grandes volumes de dados “facilita a identificação eficiente de riscos e oportunidades”.
“Naturalmente, é essencial que estas ferramentas garantam elevados níveis de segurança e proteção de dados, o que é crucial no tratamento de informações confidenciais dos clientes”, reforçou a diretora de Gestão de Conhecimento da Pérez-Llorca.
Por outro lado, na SRS Legal utilizam ferramentas de auxílio à produção de minutas de contratos, uma ferramenta de automação do registo de horas produzidas e tecnologia cada vez “mais potente” na gestão trabalhos de due diligence.
“Em contrapartida, para fins de produção de trabalho jurídico, não é permitida a utilização de ferramentas de open AI. Queremos participar desta vaga imparável de inovação, mas assegurando os altos padrões de qualidade do trabalho jurídico produzido na SRS Legal, bem como a confidencialidade e proteção dos dados da SRS e dos nossos clientes”, explicou Rodrigo Ascensão.
IA beneficia firmas de advogados
Uma coisa é certa, os escritórios de advogados podem beneficiar com a utilização de ferramentas de IA, seja através do aumento da eficiência ou até da automatização de tarefas.
“Estamos já hoje a beneficiar, nós e os nossos clientes, de uma maior eficácia e automação das tarefas de menor valor acrescentado, permitindo que os advogados se concentrem em tarefas mais complexas. Esta evolução vai necessariamente beneficiar os nossos clientes que, cada vez mais, beneficiam de uma maior produtividade por hora produzida por cada advogado”, notou Rodrigo Ascensão.
Também Marisa Delgado considera que os escritórios de advogados podem assim beneficiar das ferramentas de IA, “aumentando a eficiência, automatizando tarefas simples e repetitivas, e permitindo que os advogados se concentrem em trabalho mais complexo e estratégico”.
“No entanto, é importante notar que as ferramentas de IA não substituem os advogados, mas complementam-nos. Por exemplo, a IA pode efetuar uma análise preliminar de contratos e outros documentos jurídicos, identificando cláusulas importantes e riscos potenciais, mas a interpretação final e a tomada de decisões caberão sempre ao advogado”, concluiu.
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Na hora de contratar, firmas de advogados valorizam competências de IA
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