Lisboa vai ter restaurante para dar formação a sem-abrigo
A Câmara de Lisboa vai reabilitar um edifício para o transformar num restaurante onde sem-abrigo vão ter formação para facilitar a sua inserção no mercado de trabalho. É o projeto "Restaura-te".
A Câmara de Lisboa vai criar em 2018 um restaurante na Rua de São José para formar pessoas em condição de sem-abrigo, que são 2.051 na cidade, e inseri-las no mercado de trabalho, foi anunciado esta segunda-feira. Dirigido a sem-abrigo “que tenham a situação já estabilizada, recuperada”, o projeto envolve a criação de um restaurante comum, com “um cardápio”, mas no qual as pessoas a atender “tiveram uma história de rua ou de dependência”, explicou o vereador dos Direitos Sociais da autarquia, João Afonso.
“Lá atrás, estará alguém que orienta todo o serviço de mesa e de cozinha”, contando com “o apoio das outras pessoas que estarão a receber formação”, precisou o autarca. Apontando que a área da restauração é “uma das maiores áreas de empregabilidade na cidade”, João Afonso indicou que o objetivo é que estes sem-abrigo consigam empregos em restaurantes e empresas de ‘catering’, com as quais a Câmara de Lisboa vai fazer parcerias.
João Afonso falava aos jornalistas na sede da Associação dos Albergues Noturnos, em Lisboa, à margem da apresentação pública das atividades do Núcleo de Planeamento, Intervenção e Acompanhamento a Sem-Abrigo (NPISA), criado em janeiro de 2015. É no âmbito do NPISA que surge o projeto “Restaura-te”. Sem indicar o financiamento do projeto, João Afonso garantiu que estará a funcionar “o mais depressa possível”, o que estimou ser no próximo ano.
Tem de tudo – acompanhamento psicológico, ocupação do dia, programas de capitação social e profissional -, e a ideia é assegurar a integração de 125 pessoas.
Em causa está um espaço na Rua de São José, “que já está infraestruturado”, e que será reabilitado pela Câmara de Lisboa. Além deste projeto, o NPISA prevê a criação de outras respostas de inserção diurna, como a criação de um centro ocupacional para pessoas sem-abrigo. “Tem de tudo – acompanhamento psicológico, ocupação do dia, programas de capitação social e profissional -, e a ideia é assegurar a integração de 125 pessoas”, assinalou João Afonso.
O NPISA é composto pela comissão tripartida da Rede Social de Lisboa (Câmara Municipal, Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e Segurança Social) e instituições de solidariedade, num total de 25 parceiros. Os envolvidos alocam recursos, nomeadamente humanos (que funcionam como gestores de casos), e dão respostas ao nível do atendimento, da atuação e do acolhimento.
Atualmente existem 31 gestores de caso, isto é, profissionais que trabalham com a população sem-abrigo. Segundo um diagnóstico datado de janeiro a maio deste ano, através de questionários feitos por estes gestores de caso aos sem-abrigo com quem trabalham, existem 2.051 pessoas nesta situação em Lisboa, das quais 85% são homens.
Destas pessoas, 334 vivem nas ruas (essencialmente no centro e zona histórica) ou em abrigos de emergência e 1.717 residem em alojamentos temporários (como quartos, centros de acolhimento ou apartamentos partilhados). Em 2015, quando o NPISA foi criado, eram 1.982 pessoas em condição de sem-abrigo e 629 viviam nas ruas.
Falando sobre estes números, João Afonso vincou que estão a “ser dadas melhores respostas”, o que levou à diminuição do número de sem-abrigo que pernoitam nas ruas. Ainda assim, o vereador admitiu que “as pessoas terão sempre problemas – no emprego, com a família, de dependências, e, por isso, haverá sempre pessoas em situação de sem-abrigo”.
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