Lesados do BES manifestam “profunda deceção” com o Ministério Público

Associação de lesados mostrou-se dececionada com o Ministério Público, pois considera que o balanço divulgado pelo DCIAP falha em abordar a questão central: a recuperação do dinheiro perdido.

A ABESD – Associação de Defesa dos Clientes Bancários mostrou-se esta terça-feira “dececionada” com o Ministério Público, após a divulgação do comunicado relativo ao universo GES/BES. A associação de lesados do GES/BES reconhece, contudo, o “extenso” trabalho conduzido pelo órgão no âmbito da investigação ao colapso do BES.

Não podemos deixar de manifestar nossa profunda deceção com o que consideramos uma representação da ineficácia do sistema de justiça português, incapaz de proporcionar uma verdadeira reparação às vítimas deste colapso”, reagiu em comunicado.

Esta segunda-feira à tarde, o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) divulgou um balanço sobre os processos relacionados com o Universo Espírito Santo, estimando que as vantagens criminais apuradas em seis dos setes processos derivados rondam os 18 mil milhões de euros e 211 milhões de dólares americanos.

Apesar do esforço “admirável” e do “detalhe minucioso dos crimes cometidos”, a associação considera que o documento divulgado na tarde desta segunda-feira pelo Ministério Público falha em abordar a questão central para os milhares de lesados e vítimas: a “recuperação do dinheiro perdido com os atos criminosos”.

“Não se faz menção aos termos ‘lesado’ ou ‘vítima’ em todo o documento, o que é particularmente revelador e preocupante, pois parece desconsiderar o impacto humano e financeiro devastador que este esquema teve sobre milhares de pessoas e famílias“, sublinha a direção da ABESD.

A associação lamenta que ao longo dos últimos dez anos não tenha existido nenhuma medida concreta de proteção às vítimas, “o que só reforça a sensação de que o sistema de justiça português, por mais formalista e zeloso que seja, falha em oferecer justiça material”.

“É essencial sublinhar que o Ministério Público não poderia ter realizado todo este trabalho investigativo sem a colaboração e o sacrifício dos lesados, que, afinal, são os verdadeiros donos dos recursos que foram desviados nestes esquemas criminosos. Acreditamos que o Ministério Público, como defensor do Estado de Direito, deveria ser a entidade mais interessada na rápida restituição dos bens aos lesados. Esta falta de ação concreta para proteger e compensar as vítimas questiona a eficácia de um sistema que, embora rigoroso nas suas investigações, mostra-se lento e insuficiente na reparação dos danos”, acrescenta.

Assim, a ABESD apela ao Ministério Público e a todas as entidades envolvidas para que se mobilizem em “torno de soluções que devolvam aos lesados aquilo que lhes foi tirado”. “A justiça não se faz apenas com a punição dos culpados, mas, acima de tudo, com a reparação das vítimas”, concluem.

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