55% dos estágios apoiados pelo IEFP terminam em contratos de trabalho
Em três anos e meio, foram apoiados mais de 71 mil estágios pelo IEFP, dos quais 55% terminaram com contratos de trabalho. Balanço é avançado ao ECO, no mês em que o Governo decidiu rever o programa.
Um “passeio” rápido pelas páginas que agregam as ofertas de emprego disponíveis em Portugal deixa perceber que há várias oportunidades de estágios. Mas já se perguntou quantas delas acabam em contratações? Os dados avançados ao ECO pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) mostram que 55% dos estágios apoiados desde 2021 resultaram em contratos de trabalho. Em causa estão mais de 39 mil trabalhadores em três anos e meio.
“Considerando o número de estágios concluídos no âmbito do programa Ativar.pt, em média, 55% dos estagiários são contratados pela entidade logo após a conclusão do estágio, o que corresponde a 39.088 estagiários colocados na mesma entidade de realização do estágio, face a um total de 71.499 estágios concluídos. Estes são dados de 2021 ao primeiro semestre de 2024″, adianta fonte oficial do IEFP, numa resposta enviada ao ECO.
Ativar.pt em números (de 2021 a junho de 2024)
71.499 estágios apoiados concluídos
39.088 estagiários colocados na mesma entidade de realização do estágio
O programa Ativar.pt, convém explicar, foi criada pelo Governo anterior em substituição do programa de estágios profissionais até aí em vigor, com o objetivo de promover a criação de postos de trabalho.
Ao abrigo deste programa, têm sido apoiados estágios com a duração de nove meses, estando prevista a atribuição de uma bolsa que varia em função do nível de qualificações do estagiário (entre 662 euros e 1.273 euros).
Além disso, as entidades empregadoras que, após este programa, celebrem um contrato sem termo com o estagiário têm tido direito a um prémio equivalente a duas vezes a retribuição base mensal oferecida ao novo trabalhador, até ao limite de 2.546,30 euros.
Desde 2021, 17.064 contratos de trabalho mereceram este prémio, de acordo com o IEFP. Ou seja, ainda que o instituto indique ao ECO que não tem dados sobre o tipo de contrato oferecido aos estagiários que foram integrados nas empresas após o estágio, este número de contratos “premiados” permite perceber que, pelo menos, 44% foram vínculos permanentes.
Foram apoiados 17.064 contratos no âmbito do Prémio ao Emprego, destinado às entidades que celebrem com o estagiário um contrato de trabalho sem termo, no prazo máximo de 20 dias úteis a contar da data de conclusão do estágio.
Quanto aos setores onde mais estágios foram convertidos em contratos de trabalho, as atividades de consultoria, científicas, técnicas e similares destacam-se, com 9.478 colocados na entidade após o fim do estágio. É o corresponde a quase um quarto de todos os estágios apoiados que terminaram em contratos.
No topo da tabela, estão também o setor do comércio (por grosso e a retalho, reparação de veículos automóveis e motociclos), com 5.747 colocados (o correspondente a 14,7% dos estágios convertidos em contratos), as atividades de informação e comunicação, com 5.345 colocados (13,7%), e as indústrias transformadoras, com 4.927 colocados (12,6%).
Já na educação pouco mais de mil estágios transformaram-se em contratos de trabalho, como mostra a tabela abaixo, que foi enviada pelo IEFP ao ECO.
Estes dados são particularmente pertinentes, considerando que recentemente, para estimular o emprego jovem, o Governo aprovou uma reformulação dos programas de apoio aos estágios.
Nas palavras da ministra do Trabalho, Maria do Rosário Palma Ramalho, “contrariamente ao que sucedia“, os apoios aos estágios profissionais passam a ser dirigidos a jovens que têm, pelo menos, o ensino secundário ou pós-secundário concluído.
“Significa que a medida é mais estreita do ponto de vida do âmbito da aplicação, mas é também mais eficaz”, explicou a governante. Além disso, passam a ser apoiados estágios com a duração de seis meses, e não de nove meses como até aqui.
E para os jovens “mais talentosos, que costumam ‘fugir’ do país à procura de melhores condições de vida e de trabalho”, passa a estar disponível uma bolsa que cobrirá 65% do valor dos estágios profissionais com duração de seis meses, com os seguintes montantes: 1.120 euros para licenciados, 1.222 euros para mestrados e 1.324 euros para doutorados.
Tais valores representam um reforço de cerca de 100 euros face ao que estava em vigor com o já referido Ativar.pt (hoje os licenciados recebem 1.018,52 euros, os mestrados 1.120,37 euros e os doutorados 1.273,15 euros).
O desemprego registado no mercado de trabalho global tem estado próximo de mínimos históricos, mas no que diz respeito aos jovens há motivos para preocupação, conforme já realçou a ministra do Trabalho.
Hoje os estágios estão muito voltados para o ensino superior. Grande parte dos apoios está a ser canalizada para jovens já com o ensino superior. Provavelmente, teremos de ser mais abrangentes.
Os economistas ouvidos pelo ECO tinham recomendado, perante este cenário, nomeadamente, um reforço dos estágios, mas no sentido inverso do escolhido pelo Governo. Os especialistas apelaram a que o foco dos estágios fosse alargado, em vez de se centrar tanto nos jovens com qualificações superiores. Isto de modo a não deixar para trás aqueles que não prosseguem estudo.
Estágios são porta de entrada nas empresas
Com ou sem apoio do IEFP, os estágios não são uma novidade para as empresas portuguesas, sendo cada vez mais vistos comum uma forma de atrair talento, numa altura em que escasseiam mãos. Há quem se queixe, contudo, dos prazos de resposta do IEFP, preferindo dispensar os apoios já mencionados.
Por exemplo, a MC (dona do Continente) já vai na 39.ª edição do seu programa de estágios profissionais, explica fonte oficial ao ECO. A retalhista oferece também estágios curriculares ao longo do ano, para aproximar os alunos do mundo do trabalho. E dispõe ainda de um programa mais virado para os meses do verão.
“Todos os nossos programas para trainees têm uma bolsa associada. O valor dependerá sempre da sua tipologia”, detalha a MC, que diz “não estar dependente de apoios externos como os do IEFP“, mas admite que, sempre que possível, “estabelece parcerias”.
Quanto à conversão dos estágios em contratos, fonte oficial atira: “todos os nossos programas são perspetivados como porta de entrada para as gerações mais jovens, e são diversos os casos em que os nossos trainees preenchem lugares nas equipas da MC”.
Noutro setor, a Mota-Engil vai mais longe: “uma parte importante dos estagiários que integraram a primeira edição do programa (ou seja, há 15 anos) assumem hoje posições de direção de topo, de gestão de áreas ou contratos de complexidade elevada”, adianta Luís Monteiro, diretor corporativo de recursos humanos da construtora.
No caso desta empresa, o programa de estágios arrancou em 2009 e irá para a sua 11.ª edição já em outubro. Em média, são disponibilizadas 200 vagas por ano, sendo que este ano estão abertos cerca de 270 lugares, conforme já escreveu o ECO.
Desses estágios, cerca de 90% terminam em contratos de trabalho, assinala o responsável, que adianta que a Mota-Engil recorre ao apoio do IEFP “sempre que é exequível”. “No entanto, dada a amplitude do programa, timings de resposta e requisitos definidos pelo IEFP, nem sempre tem sido possível recorrermos a este apoio“, ressalva Luís Monteiro, para o qual os estágios servem para “atrair e preparar a futura geração de líderes“.
No entanto, dada a amplitude do programa, timings de resposta e requisitos definidos pelo IEFP, nem sempre tem sido possível recorrermos a este apoio.
Da construção para o turismo, a coordenadora de recursos humanos do Vila Galé, Joana Ferreira, explica que, por ano, são abertas 250 a 300 vagas de estágios, que têm diversas tipologias: tanto há oportunidades para os que estão a começar a jornada no mundo do trabalho (tem a duração de um a três meses e chega com uma bolsa de 400 euros mensais), como para recém-licenciados que têm a ambição de estar próximos das lideranças (dura um ano e está associado a uma bolsa de 800 euros mensais).
A responsável explica que, por vezes, o Vila Galé recorre aos apoios do IEFP, “mas a maioria dos estágios são estabelecidos através de protocolos com estabelecimentos de ensino“. “O tempo de resposta do IEFP nem sempre é tão célere quanto o que precisamos e, por vezes, os candidatos acabam por aceitar outras propostas. Esta condicionante faz com que não consigamos recorrer ao apoio tantas vezes quanto gostaríamos”, sublinha, ecoando o comentário da Mota-Engil.
Já no setor financeiro, a diretora de recursos humanos do BNP Paribas Portugal, Sylvie Le Pottier, conta que, por ano, são acolhidos, em média 450 estagiários, sendo o apoio do IEFP “apenas residual” (1%). Adianta também que 67,5% dos seus estágios são convertidos em contratos de trabalho permanentes. “É uma forma de encontrar talento. De facto, o crescimento do BNP Paribas em Portugal tem permitido converter os estágios em contratação permanente, oferecendo perspetivas de carreira às pessoas, desde o primeiro momento”, salienta a responsável.
É uma forma de encontrar talento. De facto, o crescimento do BNP Paribas em Portugal tem permitido converter os estágios em contratação permanente, oferecendo perspetivas de carreira às pessoas, desde o primeiro momento.
Da banca para a farmacêutica, fonte oficial da AstraZeneca revela que, por ano, esta empresa abre, em média, dez a 20 vagas de estágios em Portugal, sem apoio do IEFP.
“No ano passado, 67% dos nossos estagiários ficaram a trabalhar na AstraZeneca”, adianta a gigante, para a qual “o estágio permite a atração de talento jovem, a inovação e a diversidade de pensamento“. “Fazemos sempre questão que os estagiários façam parte de projetos importantes e tenham autonomia”, revela fonte oficial.
Já na tecnologia, a gestora das operações de pessoas da Critical Manufacturing, Liliana Macedo, destaca o programa de estágios de verão desta empresa, que arrancou em 2013. Este ano, além das vagas na área de engenharia informática, pela primeira vez também há oportunidades no departamento de marketing, destaca.
Regra geral, estes estágios não têm em vista a contratação dos jovens, mas Liliana Macedo lembra que já houve situações de “alunos que se destacaram bastante pelas suas capacidades técnicas, resolução de problemas, capacidade de integração e trabalho em equipa, e que foram integrados de imediato, em regime de trabalho parcial, permitindo aliar os estudos” ao trabalho.
Num outro setor, o direito, a sociedade Dower Law Firm, pela voz do sócio Miguel Cunha Machado, avança ao ECO que abre 14 vagas de estágio por ano, sendo uma “excelente forma de identificar e desenvolver o talento”. “A título exemplificativo, uma das estagiárias de verão do ano de 2023 foi integrada na Dower Law Firm, encontrando-se a realizar o estágio da Ordem dos Advogados, precisamente no departamento de Direito Laboral”, conta o advogado.
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