“IA tem potencial transformador incrível”, mas só 3% dos trabalhadores nacionais estão “prontos para o futuro”
Country manager da Adecco Portugal diz ao ECO que há mais razões para o otimismo do que para a preocupação em realção ao impacto da IA no trabalho. E apela ao investimento na requalificação.
Apesar do entusiasmo recente em torno da inteligência artificial, cerca de nove em cada dez trabalhadores portugueses estão receosos quanto ao seu futuro no mercado de trabalho, mostra um novo estudo da empresa de recursos humanos Adecco.
Em declarações ao ECO, a country manager para Portugal, Alexandra Andrade, assegura que há mais motivos para estar otimista do que preocupado, mas apela ao investimento urgente na requalificação do capital humano. Até porque a fatia de trabalhadores considerados “preparados para o futuro” ainda é muito magra.
“Acredito firmemente que existem mais razões para otimismo do que preocupação. Vejo esta transformação como uma oportunidade ímpar de crescimento e inovação“, sublinha a responsável, em declarações ao ECO na sequência da divulgação do estudo “Global Workforce of the Future“, que teve por base um inquérito realizado junto de 35 mil trabalhadores em 27 economias, incluindo Portugal.
Na visão de Alexandra Andrade, “a inteligência artificial possui um potencial transformador incrível“, abrindo a porta a um aumento da eficiência e a que os trabalhadores, livres de tarefas repetitivas, possam dedicar-se a funções mais estratégicas e criativas.
Porém, a country manager da Adecco Portugal atira que “é fundamental reconhecer que o impacto da inteligência artificial depende da forma como gerirmos a sua implementação“, sendo que, neste momento, existe uma “preocupação significativa” entre os trabalhadores, realça.
O nosso estudo revela que, apesar do entusiasmo em torno da IA, existe uma preocupação significativa: 93% dos colaboradores em Portugal expressam incertezas sobre a segurança no emprego.
De acordo com o referido estudo, 93% dos trabalhadores em Portugal expressam incertezas quanto a segurança no emprego, valor que está alinhado com a média global.
No entanto, enquanto noutros países a formação dos trabalhadores para estas novas ferramentas tecnológicas já está mais avançada, em Portugal o cenário é diferente. Na China, na Suíça e na Bélgica, 41% dos trabalhadores já receberam formação sobre a aplicação da inteligência artificial no trabalho, mas por cá apenas 14% trabalhadores estão nessa situação, valor que também está abaixo da média global (25%).
A explicar esse desfasamento está, nomeadamente, a dimensão das empresas portuguesas, que “muitas vezes não têm os recursos necessários para investir em formação tecnológica”, mas também a mentalidade empresarial, que “em alguns casos ainda não valoriza adequadamente o desenvolvimento contínuo, identifica Alexandra Andrade.
Formação em inteligência artificial
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Média global de trabalhadores que já fizeram formação nesta área: 25%
Média portuguesa de trabalhadores que já fizeram formação nesta área: 14%
“Além disso, persiste uma ideia de que a inteligência artificial é algo distante ou reservado às grandes corporações, quando, na verdade, é uma ferramenta poderosa acessível a empresas de todos os tamanhos”, acrescenta a gestora.
Além do fosso na formação entre Portugal e os demais países, há a notar que apenas 3% dos trabalhadores que exercem funções por cá são considerados “preparados para o futuro”, segundo o inquérito da Adecco. Ou seja, são adaptáveis e têm as competências tecnológicas necessárias para “prosperar num mercado cada vez mais automatizado”. Globalmente, a média de trabalhadores prontos para o futuro é de 11%.
Estar preparado para o futuro significa ser adaptável, possuir competências tecnológicas e ter uma disposição constante para aprender.
“Estes dados sublinham a necessidade urgente de um investimento adequado em requalificação e na criação de um ambiente seguro para os trabalhadores. Se não fizermos isso, poderemos gerar mais ansiedade do que inovação“, argumenta Alexandra Andrade.
A gestora salienta que também cabe aos próprios trabalhadores serem proativos no seu desenvolvimento pessoal e profissional. “Esta atitude não só contribui para o seu crescimento individual, mas também para a evolução das organizações”, frisa a responsável da Adecco Portugal.
Alexandra Andrade considera ainda que os trabalhadores que estão prontos para o futuro não só aceitam a mudança, como a antecipam e procuram formas de utilizar as novas ferramentas para ser “tornarem mais eficientes e inovadores”.
IA permite poupar uma hora de trabalho por dia
A inteligência artificial não é um tema apenas de futuro. Pelo contrário, já está a ter impacto no trabalho, sendo que o estudo recente da Adecco indica que os empregados já estão a poupar, em média, uma hora por dia, à boleia desta tecnologia.
“Os trabalhadores nos setores da energia, utilities e tecnologia limpa foram os que pouparam mais tempo, 75 minutos por dia, enquanto os do setor aeroespacial e de defesa foram os que apresentaram as menores poupanças, com 52 minutos por dia”, refere o relatório.
E acrescenta: “os trabalhadores na área da tecnologia pouparam, em média, 66 minutos diários, os dos serviços financeiros 57 minutos, e os da indústria transformadora 62 minutos por dia”.
Mas não basta olhar para o tempo poupado. Há que também ver o modo de como estão a ser utilizadas as horas que, entretanto, ficaram livres, com 28% dos trabalhadores inquiridos a afirmarem que as usam para trabalho mais criativo, 26% a dizerem que a inteligência artificial permite-lhes dedicar mais tempo ao pensamento estratégico e 27% a referirem que esta tecnologia ajudou a melhor o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
“No entanto, há indícios de que o tempo poupado graças à inteligência artificial nem sempre é usado de forma produtiva, com 23% dos utilizadores a afirmarem que continuam a lidar com o mesmo volume de trabalho”, alerta o mesmo estudo.
As empresas devem proporcionar formação contínua, assegurando que os colaboradores compreendem como utilizar as ferramentas de IA para gerar valor, em vez de simplesmente redistribuírem o tempo para tarefas operacionais.
Questionada sobre este ponto, a country manager da Adecco Portugal defende que a chave reside “numa gestão eficaz”. “As empresas devem estabelecer diretrizes claras e proporcionar formação contínua, assegurando que os colaboradores compreendem como utilizar as ferramentas para gerar valor, em vez de simplesmente redistribuírem o tempo para tarefas operacionais. Criar uma cultura que valorize atividades de maior impacto é essencial”, observa Alexandra Andrade.
Por outro lado, perante as referidas poupanças de trabalho, a responsável admite que a inteligência artificial pode levar a uma redução da carga horária, embora alerte que a transição para uma semana de trabalho reduzida não depende apenas da adoção de tecnologia, mas também de uma mudança cultural e estrutural nas empresas.
Um dos argumentos que é usado frequentemente contra a redução da semana de trabalho são os baixos níveis de produtividade de que padece a economia nacional. E também nesse ponto a inteligência artificial pode ajudar, assegura a country manger.
Contudo, é preciso (mais uma vez) que a adoção tecnológica seja acompanhada de estratégias de desenvolvimento de competências, assevera a mesma. “Caso contrário, o impacto na produtividade poderá ser limitado. Nunca podemos esquecer que as pessoas estão no centro de tudo“, remata Alexandra Andrade.
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