Américo Amorim, um dos últimos industriais portugueses
O empresário morreu esta quinta-feira, com 82 anos. Para trás fica um legado que vai da cortiça ao imobiliário, do turismo à energia, passando pelo setor financeiro. O seu desaparecimento é lamentado.
Américo Amorim, 82 anos de idade, o empresário mais rico de Portugal, mas sobretudo um dos grandes industriais/ empresário do país. Um “homem de visão” que entrou no setor corticeiro no início dos anos 50 através da Amorim & Irmãos, a empresa da família Amorim que se dedicava à cortiça. Passo a passo construiu uma grande empresa e fez da Corticeira Amorim a líder mundial na área. Apesar de ser conhecido como o rei da cortiça, o império de Américo Amorim não se ficou por aqui.
Natural de Mozelos, pai de três filhas (Paula, Marta e Luísa), o empresário construiu um grupo económico que vai desde o imobiliário, ao sistema financeiro, passando pela energia e pelo turismo. No total, Amorim chegou a ter mais de 200 empresas sob a sua tutela.
O funeral realiza-se este sábado, às 10h30, no Mosteiro de Grijó, no Concelho de Vila Nova de Gaia. No mesmo local realiza-se o velório esta sexta-feira entre as 13h00 e as 22h00.
O ECO faz-lhe uma súmula das reações à morte de um dos maiores industriais portugueses.
Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República
“Américo Amorim atravessou, com a sua carreira empresarial, mais de meio século de vida portuguesa. Empreendedor, determinado, persistente e, muitas vezes, visionário, marcou, de modo inabalável, setores da vida económica, como o da cortiça, e culminou o seu percurso com posição decisiva no domínio petrolífero”, pode ler-se no site da presidência. “O Presidente da República apresenta à sua Família sentidos pêsames institucionais e pessoais.”
Ferreira de Oliveira, ex-presidente da Galp
“O Sr. Américo Amorim é uma personalidade ímpar da economia, com um sentido de negócio difícil de igualar e com uma capacidade de trabalho difícil de encontrar. Deixa obra feita e a obra fala por ele próprio”.
Manuel Violas, presidente do grupo Solverde
“O Sr. Américo Amorim fazia parte daquela geração — a que também pertencia o meu pai –, foram pessoas ímpares e fizeram muito pelo país. Serão sempre recordados como grandes empresários e grandes empreendedores”.
Isabel Furtado, CEO da TMG Automotive
“Américo Amorim é insubstituível, como ele há poucos no país. Era um homem de grande caráter. É uma perda enorme não só para a família como para o país. Mas fica a obra.”
José Alexandre Oliveira, presidente da Riopele
“Não convivi muito com o Sr. Américo Amorim, mas acho que é um dos grandes industriais e empresários que este país tem. É uma pessoa que foi sempre de uma frontalidade muito grande e isso é um valor enorme. Marcou muito, é uma pena a sua partida. Eu diria que é um dos últimos industriais portugueses, é um exemplo para a minha geração.”
Ângelo Correia, empresário
“Apresentam-no muitas vezes como o homem mais rico de Portugal. Eu apresentá-lo-ia como o maior capitão da indústria portuguesa. Foi um homem que se iniciou através da cortiça, deixou uma enorme produção, uma enorme organização que ainda hoje sobrevive e bem. A maior indústria de cortiça em Portugal é dele. O que Américo Amorim nos deixa é uma obra concreta, criou emprego, riqueza, força, poder, para ele, mas poder para Portugal. Portugal deve-lhe muito, deve honrar a sua memória e acima de tudo perceber que, como ele, valeu a pena lutar para criar uma imagem de capacidade, solidariedade nacional e de importância do nosso próprio país”, declarações recolhidas pela TVI24.
Mira Amaral, ex-presidente do BIC
“Portugal e a economia portuguesa perdeu um grande empresário, um dos maiores empresários portugueses. Tomáramos nós que o país tivesse ou tenha vários ‘Américos Amorins’ que criem riqueza, emprego e promovam o nosso desenvolvimento económico – industrial. Perdi um grande amigo, mas o país perdeu um grande empresário. Conheci Américo Amorim nos anos 70, era eu um quadro do Banco de Fomento Nacional. Conheci-o já ele era o chamado rei da cortiça. Em termos pessoais, passou para o setor imobiliário, bancário e finalmente da energia. Como ministro do Trabalho e sobretudo como ministro da Indústria e Energia tive uma grande interação com ele e continuei a apreciar muito a sua visão estratégica, a sua clarividência, o seu pragmatismo, o extraordinário faro para os negócios e sobretudo o volume de informação sobre todas as áreas de atividade de que dispunha. A Galp era a menina dos seus olhos. Quando abandonou a função de chairman da Galp para a filha senti que era já um passar de testemunho à nova geração e que estava a sair dos comandos da vida empresarial. Soube, com grande tristeza e amargura, os últimos tempos difíceis que estava a viver”, declarações recolhidas pela RTP3.
Galp Energia
“É com profundo pesar que lamentamos o falecimento do Senhor Américo Amorim, anterior presidente do conselho de administração da Galp. O senhor Américo Amorim ficará para sempre como referência e um líder ímpar, que acreditou e se dedicou pessoalmente a garantir uma visão e um futuro próprio para o projeto da Galp. Foi um homem de exceção, a quem o país deve uma capacidade invulgar de empreendedorismo que projetou Portugal no mundo. Reconhecendo e agradecendo o seu exemplo, determinação e visão singulares, a Galp presta-lhe o merecido elogio e a sentida homenagem, dirigindo sinceros sentimentos aos seus familiares e amigos. (reação transmitida por comunicado pela petrolífera nacional)”, refere o comunicado da Galp.
António Saraiva, presidente da CIP
“Américo Amorim deixa um legado e obra feita, um grupo económico sólido. Reconhecido internacionalmente, colocou Portugal no mapa da cortiça. Era um empreendedor nato e de uma fibra rara. Um grande empresário como outros que o país devia ter e que nos deixa o legado de alguém que acreditava, que ia atrás do sonho, que concretizava e criava riqueza. Tinha uma visão não direi de fora de tempo, mas que antecipava esse mesmo tempo. Antecipava métodos. Esta diversificação de produtos e de mercados, de não colocar os ovos todos no mesmo cesto que depois viemos todos a desenvolver, em técnicas de marketing, mas que ele já desenvolvia de maneira intuitiva. Registo um episódio que tivemos na Galp em que ele mostrava muita curiosidade pelo futuro próximo. Estávamos no programa de ajustamento e Américo Amorim tinha uma visão própria, crítico em relação a algumas tomadas de decisão políticas, sempre uma pessoa com convicções e inquieto. Era muito critico em relação a alguma falta de visão dos nossos políticos relativamente ao modelo de desenvolvimento do nosso país”, declarações recolhidas pela RTP3.
Silva Peneda, ex-presidente do Conselho Económico e Social (CES)
“Além de um grande amigo meu, era um homem notável, além de de ser um grande empresário, isso toda a gente reconhece, era um homem de paixões. Era um homem extremamente apaixonado naquilo em que se metia e depois era um homem que estava bem em qualquer lado. Costumava dizer que quem tem origem modesta está bem em qualquer lado. Tanto estava bem num ambiente muito aristocrático como estava muito bem num simples restaurante, “numa tasca com um grupo de amigos”. Ele dizia “quando se foi educado (…) pelo trabalho, tem-se toda a liberdade”. Hoje já recordo com muita saudade a perda de um homem notável em termos de país e para mim um velho e grande amigo”, declarações recolhidas pela RTP3.
Associação Empresarial de Portugal (AEP)
“No momento em que toma conhecimento da morte de Américo Amorim, a AEP presta a sua sentida homenagem a uma figura incontornável da vida empresarial portuguesa. Américo Amorim deixa um exemplo de inequívoco empreendedorismo, no plano nacional e internacional, ao se ter tornado o empresário com a principal produtora e exportadora de cortiça do mundo. Enquanto dirigente associativo, a AEP recorda o período entre 1990 e 2008, durante o qual foi vice-presidente desta Associação, tendo sido, como era seu timbre, uma voz ativa na defesa intransigente dos interesses das empresas e da economia nacional. A AEP apresenta as mais sentidas condolências à sua família e amigos, bem como aos órgãos sociais do Grupo Amorim”. (reação transmitida pela AEP através de comunicado).
João Rui Ferreira, presidente da Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR)
“Deixou-nos a maior referência da indústria da cortiça. Via oportunidades onde, durante muito tempo, outros só viam dificuldades, e ousou ir mais além, catapultando o setor para o lugar cimeiro que hoje ocupa e olhando sempre para o mundo como espaço de afirmação da cortiça. Américo Amorim deve ser lembrado pelo caráter visionário e empreendedor com que conquistou um lugar ímpar na história desta fileira e poderá continuar a inspirar o meio empresarial, tendo em conta que um dos seus lemas era que o futuro começa todos os dias e há sempre alguém capaz de descobrir novas oportunidades. É com esse espírito que o devemos recordar”, declarações recolhidas pela Lusa.
Isabel dos Santos, empresária
“Triste perda, Américo Amorim grande capitão da indústria, com paixão pela criação de valor, riqueza, emprego e homem de força e energia”, declaração da empresária angolana no Twitter. “Américo Amorim, um grande capitão da indústria, um homem com paixão pela criação de valor, riqueza, emprego e constante empreendedor de projetos”, escreveu Isabel dos Santos na sua conta pessoal no Instagram.
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Associação Industrial Portuguesa (AIP)
“A AIP lamenta a morte do Senhor Comendador Américo Amorim, uma das maiores referências da classe empresarial portuguesa. A capacidade empresarial e de gestão, o risco, a solidez do grupo que criou, a forma discreta como se posicionou na vida empresarial, constituem valores que deverão ser enaltecidos e reconhecidos por todos”. (reação transmitida pela AIP através de comunicado).
(Notícia atualizada às 14h24)
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