Famílias mais ricas do Norte gastam mais que as de Lisboa

  • Margarida Peixoto
  • 23 Julho 2017

A região Norte do país é a que apresenta maior desigualdade na despesa. Na Madeira é onde a desigualdade nos gastos é mais baixa.

As famílias mais ricas da região Norte gastam mais por ano do que as mais ricas do resto do país. Comparando com Lisboa, por exemplo, a diferença é de 4%. Mas o mesmo já não acontece com as mais pobres, o que coloca o Norte como a região portuguesa mais desigual. Os dados foram revelados esta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

35.019 euros: foi este o gasto médio anual dos agregados familiares 20% mais ricos, da região Norte — isto é, os que estão colocados no quinto quintil de rendimento total. Este nível de despesa é o mais elevado entre todas as regiões portuguesas no período entre março de 2015 e março de 2016. Mesmo comparando com a área metropolitana de Lisboa, a região do país onde a média de rendimento líquido é mais alta (assumindo dados de 2014, os mais recentes que o INE disponibiliza, verifica-se que está 19% acima da média) e onde viver custa mais 232 euros do que no resto do país. Em Lisboa, a despesa média anual das famílias mais ricas foi de 33.685 euros.

Os dados do INE permitem ver que os gastos médios dos mais ricos do Norte representam quase o dobro (1,7 vezes) da média de Portugal inteiro, cuja despesa foi de 20.363 euros.

Contudo, o mesmo não acontece nas famílias 20% mais pobres. No primeiro quintil de rendimento da região Norte, as despesas médias foram de 11.720 euros — menos 1,3% do que os mais pobres de Lisboa. Feitas as contas, verifica-se que o Norte é a região mais desigual do país no que toca aos níveis de despesa, onde os mais ricos gastam três vezes mais do que os mais pobres. Na área metropolitana de Lisboa a diferença é ligeiramente mais baixa, com os mais ricos a gastarem 2,8 vezes mais do que os mais pobres — que é o mesmo que dizer que os gastos dos 20% mais pobres são 35,3% dos gastos dos mais ricos.

O próximo gráfico mostra a distribuição da despesa das famílias, por níveis de rendimento total e por região. Pode selecionar apenas as regiões que quiser comparar, clicando sobre a legenda do gráfico.

Quanto gastam as famílias?

Fonte: INE

Os dados mostram também que as famílias mais pobres da Madeira apresentam, ainda assim, níveis de despesa mais elevados do que a média de Portugal para aquele nível de rendimento. O facto de o salário mínimo na Madeira ser mais elevado do que o registado no continente — 570 mensais, contra 557 euros — poderá ajudar a explicar este facto. A Madeira é também das regiões onde o rendimento médio total líquido é mais elevado: 22.793 euros anuais, o terceiro mais elevado do país, atrás de Lisboa e dos Açores.

Comparando as despesas das famílias mais pobres da Madeira, com os gastos das mais ricas, verifica-se que esta é a região onde a desigualdade é menor.

Qual é a região com menor desigualdade na despesa?

Fonte: INE

Ainda assim, esta medida de desigualdade da despesa pode ser enganadora. O inquérito do INE mostra que as zonas mais urbanizadas são as que têm um nível de rendimento médio líquido anual mais elevado: a diferença é de 7,2%. Já nas zonas predominantemente rurais, o rendimento médio anual fica 22,2% abaixo da média nacional.

Também os indicadores de pobreza mostram que as ilhas são das regiões mais pobres do país: em 2014, 27,5% da população dos Açores, e 21,6% da população da Madeira, estava em risco de pobreza. A média do país era de 15,9% — um número que conta com uma ajuda muito significativa dos rendimentos não monetários (como por exemplo, viver numa casa pela qual não se paga renda). Excluindo este tipo de rendimentos, a população em risco de pobreza em Portugal sobe para 19,1%.

O próximo gráfico mostra quão pobres são os mais pobres, e quão ricos são os ricos, em comparação com a média nacional.

Como se distribuem os rendimentos?

Fonte: INE

Os dados do INE permitem ainda ver os perfis de despesa das famílias com filhos e sem filhos. Os números mostram que os agregados com crianças a cargo gastam 44% mais do que os restantes. A estrutura da despesa é semelhante, à exceção dos gastos com ensino: as famílias com filhos gastam cerca de oito vezes mais com este tipo de bens e serviços do que as restantes.

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