Beira Interior: as portas para a Europa

  • Filipe S. Fernandes
  • 14 Agosto 2017

As regiões do interior em volta do eixo da Guarda-Covilhã-Castelo Branco ganham uma centralidade quando vistas a partir de uma perspetiva ibérica e são a entrada do Atlântico para a Europa.

Foi no eixo da Guarda-Covilhã-Castelo Branco, tendo a Serra da Estrela como esteio, que nasceu o grupo Natura IMB Hotels. Tudo começou nos anos 1990, quando a família Manuel Brancal, da Covilhã — que tem uma fábrica têxtil de lanifícios e uma rede de lojas de fios para tricotar, Tricots Brancal — decidiu apostar no imobiliário e no turismo.

O primeiro investimento foi num country club, o Clube de Campo da Covilhã, seguindo-se o Covilhã Parque Hotel, na altura uma residencial, o Hotel de Turismo da Covilhã, com uma zona de spa, o Hotel Vanguarda e Hotel Lusitânia na Guarda, e o H2otel, hotel de montanha construído de raiz, com área termal integrada, tendo a concessão das Termas de Unhais da Serra. Hoje a sua oferta atinge um total de 470 quartos. Mas como refere Luís Veiga, administrador grupo Natura IMB Hotels, “de alguma forma temos uma oferta segmentada e produtos diferenciadores, como é o caso do H2Otel, Puralã e Lusitânia”.

O grupo Brancal fatura cerca de 16,5 milhões de euros com as lãs, as lojas, o imobiliário e o turismo, que vale cerca de 60% das receitas. Com o crescimento, o grupo adaptou-se ao aumento do turismo e as novas tendências de procura, com o investimento no hotel temático como Pura Lã, na Covilhã, ou com a aposta no turismo de saúde e bem-estar que é o H2otel de Unhais de Serra.

A Beira Interior é marcada pela diversidade geográfica sustentada no relevo, hidrografia, clima, biogeografia, assim como nas marcas da história, da cultura e das sociedades tradicionais com as serras da Cordilheira Central, com os territórios da Serra da Estrela e das Beiras.

A região é marcada pelas baixas densidade populacional e taxa de natalidade, elevados índices de envelhecimento, falta de oferta de emprego de qualidade e fraco empreendedorismo, o PIB per capita em termos de paridade de poder de compra é, em média, inferior a 75%, a que se acrescenta o abandono de terras agrícolas, situações de encravamento e periferização, e situações de risco ambiental relacionadas com os incêndios florestais. Nestes territórios de baixa densidade, os recursos humanos disponíveis em alguns concelhos são escassos, o que limita o desenvolvimento no futuro e diminui a atratividade de investimentos produtivos, que exige recursos humanos disponíveis.

O sistema urbano da Beira Interior é polarizado pelas cidades da Guarda/ Covilhã/ Fundão/ Castelo Branco), com importantes posições no contexto transfronteiriço. Este eixo centraliza uma fatia importante da base de emprego do interior. A população empregada com ensino superior está nas cidades médias, nomeadamente, Guarda, Covilhã, Belmonte, Fundão e Castelo Branco, que acabam por polarizar as áreas rurais envolventes. As cidades da Guarda e de Castelo Branco sobressaem pelas funções administrativas e industriais, Covilhã pela oferta de ensino universitário e pela tradição industrial têxtil, Fundão pela produção local de excelência e Belmonte pela indústria têxtil.

A poente da Serra da Estrela surge o eixo Oliveira do Hospital-Seia-Gouveia, que tem um importante papel de consolidação de um espaço intersticial. Desenvolve ligações de proximidade sobretudo com a cidade de Viseu e relações funcionais preferencialmente com a cidade de Coimbra. A distribuição geográfica do emprego público realça a estrutura do sistema urbano regional, evidenciando-se a estrutura policêntrica: uma forte relevância do emprego público na Guarda, Covilhã e Castelo Branco, que também concentram as atividades terciárias.

Acessibilidades

Um dos principais fatores de crescimento desta região está nas acessibilidades. Recentemente, foi anunciada a adjudicação ainda em 2017 da reabilitação do troço da linha da Beira Baixa, da Covilhã até à Guarda: “Será reabilitada, reativada, eletrificada e modernizada. Este troço está fechado à quase uma década que foi uma década de interrupção da projeção internacional da Beira Baixa e da região atravessada pelo troço. O investimento será de 90 milhões de euros, e vai ser o maior investimento ferroviário da última década” referiu Pedro Marques, ministro do Planeamento e das Infraestruturas em maio deste ano.

A centralidade da região no espaço ibérico, como mostra a ligação da A25 entre Aveiro e Vilar Formoso com passagem pela Guarda, e as ligações entre Lisboa e Madrid, poderão ser reforçadas com a ligação através da fronteira das Termas de Monfortinho, onde do lado espanhol está concluída a autoestrada de utilização gratuita até Madrid para o que basta a conclusão da A23 entre Castelo Branco e fronteira, por via do IC31. Mas este investimento de ligação da A23 com Espanha terá de ser feita de acordo com os espanhóis e poderá demorar algum tempo. A introdução das portagens dificultou a mobilidade embora exista uma política de redução das portagens para as classes de transporte de mercadorias e pesados.

Como se assinala em Portugal ao Centro, obra dirigida por José Manuel Félix Ribeiro que estuda a região Centro do país, “Castelo Branco tende cada vez mais para o litoral e para a metrópole de Lisboa, enquanto a Guarda pende para ocidente e interliga-se com o Douro e Espanha”, acrescentando que “os Itinerários Principais longitudinais e transversais (Aveiro-Viseu¬-Guarda) conferem elevadas acessibilidades aos principais centros urbanos da Região Centro nas direções Norte-Sul e Este-Oeste, que complementados com as ligações capilares, compõem vastas zonas de acesso às respetivas capitais de distrito em menos de 20 ou 40 minutos. As maiores lacunas situam-se nos eixos de Coimbra e Leiria a Castelo Branco e Guarda, Pinhal Interior e Serra da Estrela (a Cordilheira Central exerce inevitavelmente influência nesta situação), em que aqueles tempos de acesso podem ascender a mais de 1 hora e 20 minutos ou 1 hora e 40 minutos, consoante a tara dos transportes.

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