Incêndios: Quanto já chegou em donativos e quanto ainda virá?

  • Juliana Nogueira Santos
  • 7 Setembro 2017

Aquando da tragédia de Pedrógão Grande, muitas instituições públicas e privadas prometeram doar um montante para o apoio às vítimas. Mas quanto falta ainda chegar?

Em junho, viveram-se momentos dramáticos em Pedrógão Grande, Leiria.EPA/PAULO CUNHA

As dúvidas em torno dos donativos de Pedrógão Grande surgiram quando o presidente da Câmara Municipal de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, afirmou ao jornal i que as três autarquias afetadas pelo incêndio de junho deste ano, que vitimou 64 pessoas, “desconhecem o destino do dinheiro” que foi doado por milhares de portugueses solidários e que teve como destino “dezenas de contas abertas em bancos”.

Seguiu-se a crítica do PSD que, pela voz da vice-presidente, Teresa Morais, exigiu ao Governo que esclarecesse onde estão os donativos privados e qual o seu destino. A resposta mais célere foi a de Marcelo Rebelo de Sousa, que pediu para que a tragédia de Pedrógão Grande não fosse utilizada como arma de arremesso político em vésperas de autárquicas e lembrou que os portugueses tinham o direito de saber o paradeiro dos fundos doados.

O Governo acedeu e divulgou esta terça-feira a lista completa de doadores do Fundo Revita — que conta apenas com 1,9 milhões dos 4,9 milhões de euros que pretendia angariar — trazendo a público o caso de alguns privados que prometeram, em junho, ajudar as vítimas de Pedrógão Grande, mas que ainda não o fizeram. O ECO reuniu assim os montantes prometidos pelas várias instituições, privadas e públicas, e quis saber: quanto é que já chegou ao seu destino final e quanto ainda está por chegar?

BPI + Fundação La Caixa – 147 mil de 1,14 milhões prometidos

O BPI, que passou para as mãos do espanhol La Caixa em fevereiro deste ano, uniu-se com a Fundação La Caixa para contribuir com um milhão de euros a título próprio, criando também uma conta solidária para a qual os portugueses puderam fazer os seus donativos. Nessa conta terão caído 147 mil euros que já foram direcionados para o Fundo Revita. Falta ainda chegar um milhão de euros.

Em declarações ao ECO, fonte oficial do banco afirmou que o protocolo para doação do dinheiro em falta “está a ser finalizado” e “será assinado em breve”. A mesma fonte garantiu que este dinheiro vai ser canalizado para o Fundo Revita.

Seguradoras – 1,5 milhões de 2,5 milhões prometidos

As seguradoras juntaram-se para distribuir 2,5 milhões de euros para para apoiar as vítimas da catástrofe dos incêndios em Pedrógão Grande. Até então, estas já atribuíram compensações diretas próximas de 1,5 milhões de euros ao abrigo deste fundo solidário.

De acordo com a Associação Portuguesa de Seguradoras, as companhias já analisaram processos de 56 das 65 pessoas que morreram no incêndio em Pedrógão, referindo que em todos os casos foi feito um contacto pessoal com os familiares e uma “análise casuística da situação particular de cada um”.

BEI – Zero de 500 mil prometidos

O Banco Europeu de Investimento (BEI) considerou, em junho, “um gesto espontâneo de solidariedade” a doação de 500 mil euros às vitimas do incêndio da região Centro. Assim ficou prometido, mas o dinheiro ainda não chegou.

BCE – 50 mil de 50 mil prometidos

O cheque prometido pelo Banco Central Europeu não foi um dos maiores da lista, mas já chegou. A entidade liderada por Mario Draghi afirmou que iria ajudar na reconstrução das aldeias afetadas pelo incêndio através do donativo de 50 mil euros, numa parceria com o Banco de Portugal. Segundo os dados divulgados pelo Governo, já chegaram ao Fundo Revita 61.818,52 euros provenientes do Banco de Portugal, pelo que 50 mil serão do banco central.

Timor-Leste – Zero de 1,33 milhões prometidos

O secretário de Estado do Conselho de Ministros timorense, Avelino Coelho, afirmou aos jornalistas, em junho, que o Governo teria aprovado um pacote de assistência de 1,33 milhões de euros em ajuda humanitária. Como aconteceu no caso do BEI, ainda não chegou nenhum desse montante, nem ao Fundo Revita, nem às instituições sociais.

Navigator + Altri – 500 mil de um milhão prometido

As papeleiras Navigator e Altri comprometeram-se a doar um milhão de euros para apoiar as vítimas do incêndio em Pedrógão Grande, depois de a exploração intensiva de eucalipto ter sido apontada por alguns como uma das principais justificações do sucedido. As empresas doaram 500 mil euros para o fundo conjunto da Fundação Calouste Gulbenkian, que está a gerir vários donativos.

A outra metade estará destinada a ajudar “na recuperação de encostas, linhas de água e infraestruturas florestais, nas zonas afetadas pelos incêndios, conforme um plano técnico com 12 ações, disponibilizando ainda o apoio especializado das suas equipas”, que ainda não estará a ser aplicado.

Caixa Geral de Depósitos – 2,6 milhões da conta solidária

A conta solidária “Caixa Unidos por Pedrógão Grande” foi aberta logo após a catástrofe de junho e, segundo fonte oficial do banco, angariou 2.650.975,60 euros. Ao ECO, a mesma fonte garantiu que a totalidade do dinheiro também foi entregue à Fundação Calouste Gulbenkian. Fonte oficial confirmou ao ECO esta parceria, mas reconhece que o dinheiro ainda não foi aplicado. A monitorização por parte da instituição vai prosseguir até essa aplicação.

Grupo Montepio – 253 mil de 250 mil prometidos

A Associação Mutualista Montepio, a Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) e a Fundação Montepio garantiram às redações que iam canalizar “250 mil euros de apoio a vítimas dos incêndios no distrito de Leiria”. Esses milhares já entraram no Fundo Revita, acrescentando-lhe ainda 3.626,49 euros.

A CEMG anunciou também, em junho, “a disponibilização imediata de duas linhas de apoio financeiro, uma para particulares e outra para empresas da zona centro do país, que permita acelerar a reconstrução e retoma rápida da atividade económica”.

Novo Banco – 191 mil de crowdfunding

A promessa do Novo Banco após o incêndio foi a da criação de uma plataforma de crowdfunding que ia juntar os 50 mil euros que a instituição bancária liderada por António Ramalho ia doar em nome próprio e os donativos de particulares. Assim, o Novo Banco garante que já entregou à Cáritas Diocesana de Coimbra o montante total de 191.568 euros. A responsabilidade pelos critérios de afetação e distribuição dos donativos foi transferida para a instituição social.

BCP – 424 mil da conta solidária

Tal como a maioria dos seus pares, Nuno Amado decidiu abrir uma conta solidária para angariar fundos de apoio. Nesta foram depositados 424.485,73 euros que foram canalizados diretamente para o Fundo Revita. O BCP é assim o segundo maior doador financeiro do Fundo de Apoio às Populações e à Revitalização das Áreas Afetadas pelos incêndios ocorridos em junho de 2017.

Crédito Agrícola – 218 mil de 100 mil prometidos

O Crédito Agrícola, cujo presidente executivo integra também o Conselho Fiscal da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), também recolheu donativos através de uma conta solidária CA, tendo prometido doar 50 mil euros em nome próprio. A instituição bancária liderada por Licínio Pina acabou por entregar 218.110 euros à UMP.

Santander Totta – 500 mil de 500 mil prometidos

Seguindo os outros bancos, o Santander Totta abriu uma conta solidária, avançando com uma verba de 500 mil euros em nome próprio. No Fundo Revita entraram os 500 mil prometidos, enquanto o total que chegou à conta solidária — 73.480 euros, segundo fonte oficial do banco — “foi dividido em partes iguais pela Cruz Vermelha Portuguesa e pela União das Misericórdias Portuguesas.” O Santander Totta é assim a instituição que, até agora, mais doou para o Fundo.

SIC – 852,4 mil das campanhas

A estação de televisão do grupo Impresa disse ter angariado, entre campanhas da SIC e SIC Esperança, 854.864,70 euros. “Este valor resulta de uma combinação de chamadas para a linha solidária SIC, 800.299,12 euros, doações diretas para a conta da SIC Esperança, 11.926,67 euros e de 10% das receitas provenientes da venda das publicações semanais do grupo Impresa na terceira semana de junho, 42.598 euros”, adianta fonte oficial da Sic Esperança.

Contactada pelo ECO, a empresa adiantou ainda que, “enquanto braço da responsabilidade social do grupo Impresa, [a SIC Esperança] será responsável pela implementação e monitorização da verba angariada, à semelhança do que já fez em centenas de projetos”. “Este valor será aplicado na reconstrução de casas de primeira habitação e respetivo recheio nos três concelhos mais afetados: Pedrógão Grande, Castanheira de Pêra e Figueiró dos Vinhos. A primeira obra de reconstrução arrancará na próxima segunda-feira, 11 de setembro, no concelho de Figueiró dos Vinhos, e na semana de 18 de setembro avançam outras cinco nos concelhos de Pedrógão Grande e Castanheira de Pêra”. Seguir-se-ão outras numa fase posterior.

RTP – 1,32 milhões das campanhas

Após ter sido chamada à responsabilidade pelo primeiro-ministro, que afirmou que “só a RTP pode explicar o que que fez com o dinheiro” da campanha de solidariedade “Unidos por Pedrógão”, a RTP garantiu que o dinheiro proveniente da linha solidária, bem como as receitas do concerto solidário já foi entregue à Santa Casa da Misericórdia de Pedrógão Grande e à União das Misericórdias Portuguesas.

Assim, os 134.283,60 euros angariados por telefone, numa parceria com a MEO, reverteram para a Santa Casa da Misericórdia de Pedrógão Grande, tendo já sido utilizados para recuperar casas de primeira habitação. Por outro lado, os 1.190.047,72 euros angariados no concerto solidário que juntou as três estações de televisão e foi promovido pela Sons em Trânsito reverteram para a UMP.

(Notícia atualizada a 7 de setembro com informação adicional fornecida pelas empresas).

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