OCDE defende reconhecimento de competências e elogia Novas Oportunidades

  • Cristina Oliveira da Silva
  • 21 Setembro 2017

Diretor para o Emprego, Trabalho e Assuntos Sociais da OCDE defende a implementação da reforma a tempo parcial, que permitiria aos trabalhadores mais velhos passar conhecimento aos mais novos.

O reconhecimento de competências que os trabalhadores adquiriram no mercado de trabalho é um “desafio importante” e Portugal até foi um “modelo” neste ponto. Quem o diz é o Diretor para o Emprego, Trabalho e Assuntos Sociais da OCDE, que elogia o programa Novas Oportunidades e defende iniciativas como esta.

“Pessoas em Portugal, e noutros países, com 30 anos de experiência de trabalho podem ter um nível baixo de qualificações” escolares, “mas têm 30 anos de experiência de trabalho — e isso agora é completamente reconhecido”, frisou Stefano Scarpetta em declarações ao ECO, no âmbito da conferência da UNECE subordinada ao tema do envelhecimento.

"Pessoas em Portugal, e noutros países, com 30 anos de experiência de trabalho podem ter um nível baixo de qualificações [escolares], mas têm 30 anos de experiência de trabalho — e isso agora é completamente reconhecido.”

Stefano Scarpetta

Diretor da OCDE para o Emprego, Trabalho e Assuntos Sociais

O diretor da OCDE recordou então o antigo programa Novas Oportunidades, concretizado no Governo de José Sócrates, que providenciava “oportunidades de formação aos trabalhadores” e também permitia o reconhecimento de competências que foram ganhas ao longo de anos de trabalho.

Quer isso dizer que o país deve apostar noutro programa similar? “Acho que é importante, muitos países estão a considerar isso: formação para as competências que precisam de ser adquiridas, mas também como forma de reconhecer o que os trabalhadores conseguem fazer”, afirmou Scarpetta. E isto “vai permitir ao empregador ter melhor perceção do potencial que os trabalhadores mais velhos podem trazer à empresa”, bem como facilitar a mobilidade entre tarefas, indicou ainda.

O diretor da OCDE também apoia a implementação da reforma a tempo parcial, uma ideia que já consta do programa do Governo e que estava até prevista para este ano. Agora, volta ao debate público. O perito entende que é importante utilizar o conhecimento que os trabalhadores mais velhos acumularam para orientar os mais jovens. “Em França, por exemplo, há um programa em que as empresas podem contratar um jovem e reduzir o horário do trabalhador mais velho e este vai passar algum tempo a orientar a pessoa mais nova,” exemplifica.

"Em França, por exemplo, há um programa em que as empresas podem contratar um jovem e reduzir o horário do trabalhador mais velho e este vai passar algum tempo a orientar a pessoa mais nova.”

Stefano Scarpetta

Diretor da OCDE para o Emprego, Trabalho e Assuntos Sociais

Num cenário em que a esperança média de vida aumenta, é preciso promover o “emprego e a empregabilidade dos trabalhadores mais velhos”, diz Scarpetta. É importante “trabalhar no lado da procura”, ou seja, “com os empregadores”, diz. O diretor da OCDE nota que há agora um debate em torno do ajustamento salarial face à antiguidade, salientando que muitas vezes os “salários aumentam só porque a pessoa está empregada mais um ano”, o que pode ser um desincentivo à retenção de quadros, já que a empresa poderá preferir substituir este trabalhador “por um jovem que custe menos”. Por isso, “ter um ajustamento no salário que tenha em conta a produtividade é importante”, salienta.

Scarpetta diz-se “moderadamente otimista” quanto à evolução do desemprego na Europa e, nesse contexto, também em Portugal. Questionado sobre as reversões de medidas operadas pelo atual Governo, o diretor da OCDE salientou que muitas das iniciativas levadas a cabo pelo anterior Executivo mantêm-se mas acrescenta que é importante considerar o impacto das reformas e fazer ajustamentos se necessário. A OCDE entende que as reformas do mercado de trabalho do anterior Governo permitiram conter o aumento do desemprego e contribuíram para a criação de emprego. “Agora, num melhor ambiente macroeconómico, é importante avaliar o impacto das reformas anteriores e fazer mudanças”, mas apenas se necessário.

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