Juros de Portugal iguais a Espanha? Mourinho Félix acredita
O secretário de Estado Adjunto e das Finanças acredita que Fitch e Moody's vão seguir a S&P, tirando Portugal de "lixo". A subida do rating vai baixar as taxas para o nível de Espanha. Vai?
Portugal tem visto os juros da dívida caírem desde que saiu de lixo numa das três grandes agências de rating. A Standard & Poor’s surpreendeu os investidores, sendo que Mourinho Félix acredita que em breve haverá novas mexidas na classificação da dívida nacional por parte das restantes agências, estando a aguardar para “ver o que acontece” em Portugal. Novas subidas de rating irão, espera o secretário de Estado Adjunto e das Finanças, atirar os juros do país para baixo dos de Itália e para o nível dos de Espanha. Mas pode não ser assim tão fácil.
Ricardo Mourinho Félix diz, em entrevista à Reuters, que “quer a Moody’s, quer a Fitch, estão à espera de ver o que acontece nos próximos dois meses em Portugal”. “Este período, também lhes permite ver o que acontece ao saldo orçamental para este ano e terem mais certeza sobre a evolução da economia portuguesa e a nível europeu”, acrescenta, notando que “uma vez aprovado o Orçamento e concluída a venda do Novo Banco, acho que há condições para a Moody’s e a Fitch seguirem a S&P”.
É perante esta expectativa que, diz o secretário de Estado Adjunto e das Finanças, há margem para que os juros da dívida nacional continuem a cair, encolhendo-se o diferencial face a outros países do euro. “Todos estes efeitos criam margem para uma compressão adicional dos spreads. Neste momento, o spread que temos face a Itália está abaixo dos 30 pontos base já, e portanto, estamos quase próximo de Itália, mas não ainda de Espanha, cujo spread é significativo”.
“Quando tivermos três agências em investment grade, podemos ter um nível de spread mais próximo do que é a taxa [a dez anos] da economia espanhola”, disse à Reuters, vincando que Portugal tem condições de crescimento semelhantes a Espanha. “Significa ter um spread negativo para Itália, se nos aproximarmos das taxas de juro de Espanha”, destaca. Atualmente, a taxa a dez anos de Portugal está nos 2,378% — recua 4,1 pontos base para mínimos de quase dois anos –, enquanto a de Itália está nos 2,102%. A taxa de Espanha está em 1,614%.
Todos estes efeitos criam margem para uma compressão adicional dos spreads. Neste momento, o spread que temos face a Itália está abaixo dos 30 pontos base já, e portanto, estamos quase próximo de Itália, mas não ainda de Espanha, cujo spread é significativo.
Quando a S&P tirou Portugal de lixo, as yields da dívida portuguesa afundaram, reduzindo-se de forma expressiva o diferencial face a outros países, apesar do alerta de Mário Centeno, o ministro das Finanças: “a dívida permanece a quarta maior do mundo”. Assim que o país obtiver o selo de qualidade também junto das outras agências de notação financeira existe margem para que a tendência de queda dos juros se acentue. Contudo, o diferencial face a Espanha é ainda elevado: 72 pontos base, exigindo uma compressão de spreads que poderá não ser assim tão fácil de alcançar.
“Para a entrada nos índices de governos é necessário que pelo menos duas agências de rating tenham Portugal em investment grade e normalmente as que contam são a S&P e a Moody’s. Vamos ter de esperar pela decisão de ambas”, explicou Cristina Casalinho, a presidente do IGCP, após a decisão da S&P. “Com a entrada nos índices de obrigações de governos europeus, os fundos de gestão passiva, que neste momento não compram obrigações do Tesouro, passam a adquiri-las [de forma automática]”, mas há dúvidas sobre a manutenção da pressão compradora do Banco Central Europeu (BCE).
A entrada para estes índices pode acontecer quando o BCE estiver preparado para sinalizar o fim dos estímulos, o que “pode complicar ainda mais” a vida aos investidores, nota Lyn Graham-Taylor. Ou seja, o BCE começar a comprar menos dívida aos países — o investimento em dívida portuguesa está em mínimos. O analista do Rabobank refere que estimam que “o BCE comece a diminuir o programa em janeiro, exatamente quando a dívida do país pode voltar a ser integrada nos índices de obrigações com qualidade”. Assim, Mario Draghi é o “elefante na sala”.
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