Dívida do Novo Banco dispara. Quem não ajudou à solução está a ganhar 30%
Venda do banco ao Lone Star está iminente depois do sucesso da recompra de dívida. Mas quem rejeitou vender obrigações ao Novo Banco está a ganhar com estratégia. Títulos disparam no mercado.
Quem rejeitou vender as obrigações do Novo Banco na oferta de recompra de dívida levada a cabo nos últimos meses — e concluída no início deste mês — está a ganhar com a valorização dos títulos no mercado. Perante a iminência de venda do banco de transição ao fundo norte-americano Lone Star, o valor dos títulos está a disparar.
Alguns investidores anunciaram desde o primeiro momento que não iriam participar na operação anunciada no final de julho e cujo êxito era crucial para a concretização da venda do Novo Banco ao fundo de investimento americano. Embora esta estratégia pudesse comprometer o futuro do banco, estes credores mantinham a esperança de um final feliz e, nesse cenário, ganhar com a valorização das obrigações. É o que está a acontecer em várias linhas que o banco liderado por António Ramalho não conseguiu absorver.
Por exemplo, a linha de obrigações com cupão de 3,88% a maturar em 2035 conheceu uma apreciação acentuada desde o dia 26 de setembro até hoje. Este movimento ascendente no valor destes títulos no mercado secundário aconteceu justamente um dia depois da notícia de que o fundo obrigacionista Pimco tinha aceitado participar oferta em troca dos depósitos do Novo Banco, abrindo as portas do sucesso da oferta que viria a desbloquear a venda ao Lone Star.
Nesse dia 26 de setembro, a uma semana antes do término da operação, estas obrigações fecharam a sessão a valer 67,485 euros. Estes mesmos títulos estão agora a negociar nos 88,175 euros, uma subida de 30% que reflete o alívio dos investidores com a dissipação de algumas dúvidas acerca do futuro do banco que poderia passar por uma nova resolução ou até mesmo pela liquidação, conforme alertou o Novo Banco no lançamento desta operação de recompra de dívida. Atualmente encontram-se no mercado obrigações desta linha num montante de cerca de 170 milhões de euros.
“As obrigações do Novo Banco estão a valorizar dado que a instituição estará bem melhor depois da venda ao Lone Star”, comenta ao ECO o diretor do fundo alemão Xaia Investment, Jochen Felsenheimer. “Será essa a razão porque as obrigações que continuam no mercado dispararam no dia a seguir ao anúncio dos resultados face ao preço do dia de anúncio da oferta”, refere ainda.
Adiantou ainda que o fundo deixou de ter qualquer exposição a Portugal. “Vai levar algum tempo até voltarmos a investir no país”, frisa este responsável.
Esta linha de obrigações dispara com sucesso da oferta de recompra de dívida
São várias as linhas que continuam a negociar (e a valorizar), mas agora com menor nível de liquidez, depois de o Novo Banco ter garantido 4,74 mil milhões de euros no âmbito da oferta que vai permitir poupanças de pelo menos 500 milhões de euros nas contas do banco e, consequentemente, a injeção de mil milhões de euros da parte do Lone Star.
Era o caso da linha de obrigações com cupão zero e com maturidade em 2052. De acordo com dados da Bloomberg, estes títulos valiam 12,8 euros no final do mês passado e estão agora a ser trocados pelos investidores ao preço de 16,9 euros, 32% acima. Há um total de 390,9 milhões de euros em obrigações desta série.
"As obrigações do Novo Banco estão a valorizar dado que a instituição estará bem melhor depois da venda ao Lonestar. Será essa a razão porque as obrigações que continuam no mercado dispararam no dia a seguir ao anúncio dos resultados face ao preço do dia de anúncio da oferta.”
Estas valorizações acontecem numa altura em que assinatura da venda do banco que estava nas mãos do Fundo de Resolução está iminente. Esta formalização deverá acontecer nos próximos dias, seguindo-se à decisão de Bruxelas de dar luz verde às ajudas estatais na semana passada.
De resto, conforme o ECO revelou em primeira mão, o Lone Star vai proceder a alterações na estrutura de governo do banco português. Nomeadamente, o Novo Banco vai passar a ter um Conselho Geral de Supervisão liderado pelo inglês Byron Haines e composto por três membros indicados pelo fundo e por membros independentes, como o antigo embaixador norte-americano em Portugal, Robert Sherman. António Ramalho vai continuar como CEO.
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