Xi Jinping, sem sucessor, ganha poder com mudança da Constituição

A ausência de um sucessor claro, para além de quebrar uma tradição instituída nos últimos 25 anos parece sugerir que o o Presidente se manterá no poder para lá de 2022.

O Partido Comunista chinês quebrou o precedente e revelou o novo Comité Permanente do Politburo sem mencionar um sucessor claro para o Presidente Xi Jinping, que é agora considerado o líder chinês mais poderoso desde Mao Zedong. Um estatuto reforçado pelo facto de o Congresso do partido ter decidido incluir na Constituição o pensamento do secretário-geral “sobre o socialismo com características chinesas para uma nova era”, ou seja, um modelo de desenvolvimento assente nas infraestruturas.

Membros do Comité Permanente do Politburo do Partido Comunista chinês: (da esquerda para a direita) Han Zheng, Wang Huning, Li Zhanshu, Xi Jinping, Presidente chinês, Li Keqiang, Wang Yang e Zhao Leji. Qilai Shen/Bloomberg

 

O gesto simbólico surge no final do congresso, que se prolongou durante uma semana, em Pequim, no qual Xi foi aclamado para liderar a segunda maior economia do mundo para uma “nova era” de poder e influência internacional. A ausência de um sucessor claro, para além de quebrar uma tradição instituída nos últimos 25 anos parece sugerir que o o Presidente se manterá no poder para lá de 2022. Há, contudo, três responsáveis entre os 25 membros do Politburo suficientemente jovens para o poderem suceder e que podem ser promovido a qualquer momento.

Outra das novidades do 19.º Congresso do PC chinês foi a entrada para o Politburo do principal assessor económico e financeiro de Xi, Liu He, e o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Yang Jiechi, um gesto que os analistas entendem como um sinal de que estas questões vão assumir uma maior relevância no seu segundo mandato, mas também que as reformas propostas pelo secretário-geral serão aprovadas com maior facilidade, tendo em conta que o Comité Permanente está agora cheio de aliados de Xi.

Os analistas consideram que o grupo de líderes escolhidos levantam questões sobre o futuro de um sistema de sucessão que tem suportado a transferência de poderes na China. Este sistema criado por Deng Xiaoping poderá ter os dias contados e o país regressar a um modelo assente na personalidade, o que confere mais poder a Xi. Segundo o professor de Ciência Política na Universidade de Boston, Joseph Fewsmith, citado pela Bloomberg, nomear agora um herdeiro enfraqueceria Xi num momento em que este começa a ganhar poder. O professor admite mesmo que Xi venha a disputar três mandatos.

Para Damien Ma, professor e diretor adjunto do Paulson Institute, o resultado do congresso poderá não ter sido inteiramente do agrado de Xi, já que este teve de gastar uma grande parte do seu capital político para conseguir inscrever na Constituição o seu “pensamento”, o que o terá impedido de conseguir trazer para o Politburo todos os aliados que queria. “Ele não gastou necessariamente todo o seu poder para promover todas as pessoas que queria”, disse citado pela Reuters.

A China está a registar um abrandamento económico e Xi espera com a sua política de desenvolvimento das infraestruturas impulsionar esse desempenho. No terceiro trimestre a economia chinesa cresceu 6,8% em termos homólogos, menos 0,1 pontos percentuais que no trimestre anterior. De acordo com o governador do banco central chinês, a expectativa é de que o PIB avance 7% na segunda metade do ano, sobretudo graças às despesas das famílias. Esta é já uma previsão mais otimista porque inicialmente o Governo apontava para um crescimento de 6,5% no conjunto de 2017.

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