Produção destruída pela seca alimentaria 81 milhões de pessoas por dia
As áreas expostas a longos períodos de seca estão sujeitos a consequências nefastas que começam na alimentação e terminam na população, afirma o Banco Mundial.
A produção de alimentos que foi comprometida por falta de água entre os anos de 2001 e 2013 seria suficiente para alimentar 81 milhões de pessoas por dia, algo como a totalidade da população da Alemanha ou da Turquia, segundo dados do Banco Mundial.
Num estudo denominado “Águas Inexploradas: A Nova Economia da Escassez e Variabilidade da Água” um grupo de investigadores chama à atenção para as consequências nefastas de longos períodos de seca que, ao “estarem muitas vezes escondidas”, atingem uma “dimensão chocante” e afetam não só as culturas como as populações.
É claro que, ao contrário do que acontece no seguimento de cheias ou tempestades, as consequências dos períodos de seca são “uma miséria em câmara lenta”, com os efeitos a surgirem lentamente ao longo dos anos. Os alimentos perdem qualidade e nutrientes e os agricultores são obrigados a expandir os campos de cultivo para as florestas circundantes, formando aí um ciclo vicioso.
“Como as florestas atuam como um estabilizador do clima, ajudando a regular as reservas de água, a desflorestação reduz essas reservas e agrava as alterações climáticas”, pode ler-se no estudo. Em termos económicos, os prejuízos para as empresas que estão expostas a longos períodos de seca podem ser quatro vezes maiores do que em caso de cheia, aponta também o Banco Mundial.
Além da produção de alimentos, o próprio desenvolvimento das populações fica comprometido, com o Banco Mundial a afirmar que os problemas causados pelas secas levam a um ciclo vicioso de pobreza e de subdesenvolvimento. As crianças que nasçam em zonas de seca têm mais tendência a crescer com problemas mentais e físicos, subnutridas e com mais propensão a doenças crónicas.
Estes dados surgem numa altura em que Portugal atravessa uma época de seca severa e extrema, verificando-se temperaturas e níveis de humidade anormais para esta altura do ano. Os planos de contingência já foram acionados no mês de julho, com o Governo a apelar à poupança de água por parte das populações.
“Se não levarmos a sério as faltas de água e as tempestades — que as alterações climáticas vão tornar mais frequentes –, poderemos ver a escassez de água a espalhar-se para novas regiões do mundo, aumentando potencialmente os episódios de violência, sofrimento e migração“, alerta Richard Damania, um dos autores do relatório. “Os métodos atuais de gestão de água não estão à altura do desafio. Estas mudanças requerem um portefólio de medidas que tenham em conta incentivos económicos para a gestão da água desde que saí da fonte, passando para a torneira, até voltar à fonte”.
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