Juro da emissão a dez anos pode ser o mais baixo de sempre

  • Rita Atalaia
  • 8 Novembro 2017

Com as taxas em queda acentuada, Portugal vai ao mercado para se financiar a dez anos. Apesar dos juros nos mercados estarem em mínimos de 2015, o custo da emissão pode ser o mais baixo de sempre.

Não é a primeira vez que Portugal vê os juros da dívida baixarem dos 2% no prazo a dez anos, mas o país deverá conseguir financiar-se pela primeira vez com uma taxa abaixo deste patamar num leilão de obrigações do Tesouro (OT). A meta são 1.250 milhões de euros, montante que, tendo em conta as taxas no mercado secundário, poderá ser obtido com o juro mais baixo de sempre.

A taxa a dez anos esteve abaixo dos 2% no mercado secundário em fevereiro de 2015, mas dessa vez o país não aproveitou o bom momento para se financiar — o Banco Central Europeu (BCE) estava a preparar-se para arrancar com as compras de dívida. Realizou um leilão a dez anos nesse mês, mas a taxa obtida por 1.500 milhões acabou por ficar em 2,0411%, o nível mais baixo até agora para esta maturidade, segundo dados do IGCP. Contudo, agora deverá pagar ainda menos. Com os investidores a exigirem um juro de 1,93% na sessão anterior ao leilão, o IGCP prepara-se para um custo mínimo histórico.

Juros a dez anos abaixo dos 2%

O juro do leilão de OT a dez anos representará uma poupança expressiva face aos últimos leilões que a agência liderada por Cristina Casalinho tem realizado nesta maturidade. A última operação a dez anos realizada este ano foi no mês passado, a 13 de outubro, antes da apresentação da proposta de Orçamento do Estado (OE). Foram emitidos 750 milhões de euros em obrigações do Tesouro com maturidade em 2027, pelos quais o país aceitou pagar uma taxa de 2,327%.

"O mercado de dívida do euro está a negociar como se não houvesse amanhã (…) Não é uma história exclusiva de Portugal, mas o país está claramente a beneficiar do apetite pelo risco e do BCE.”

Christoph Rieger

Responsável pela estratégia do Commerzbank

Em outubro, mesmo sem conhecerem o OE, os investidores premiavam já a dívida nacional em resultado da decisão surpreendente da Standard & Poor’s (S&P) de retirar a notação do país de lixo — subiu o rating mesmo sem antes colocar a perspetiva em positivo. A revisão do rating levou a uma queda acentuada das taxas de juro nos mercados (transversal às diferentes maturidades), tendência que se tem mantido, levando as taxas a caírem para níveis de 2015 — no prazo a cinco anos está em mínimo histórico.

O comportamento positivo dos juros da dívida nacional não é um exclusivo. “O mercado de dívida do euro está a negociar como se não houvesse amanhã”, diz Christoph Rieger, responsável pela estratégia do Commerzbank. “Não é uma história exclusiva de Portugal, mas o país está claramente a beneficiar do apetite pelo risco e do BCE”, refere o analista à Bloomberg.

As taxas exigidas pelos investidores aos diferentes país do euro têm vindo a deslizar, depois de o BCE ter anunciado que vai cortar o valor das compras mensais de dívida soberana para metade, mas decidiu prolongar o programa até pelo menos setembro do próximo ano, sendo que irá reinvestir o valor dos títulos que entretanto forem atingindo a maturidade. Ou seja, continuará a haver uma elevada pressão compradora no mercado de dívida da Zona Euro. O BCE tem 30 mil milhões da divida nacional.

Portugal tem, contudo, sido mais beneficiado — o diferencial de juros face à Alemanha está em 157 pontos base, sendo que no caso de Espanha está muito perto de 50 pontos –, com muitos investidores a premiarem o esforço do Governo em reduzir o elevado nível de endividamento. “Isto é o resultado da condução da política orçamental em Portugal, da capacidade que temos tido em reduzir a dívida”, disse Mário Centeno em reação à queda da taxa a dez anos para um nível inferior a 2%.

A dívida pública atingiu um novo recorde em agosto acima dos 250 mil milhões de euros (mais de 130% do PIB), mas caiu em setembro — e vai dar um trambolhão em outubro. O Governo estima que no final do ano o rácio da dívida vai descer para 125,7% do PIB. E no próximo ano há nova descida: o endividamento público cai para 123,5%, tendência que tem sido valorizada pelas agências de rating e, claro, pelos investidores, muitos deles a procurarem posicionar-se para a entrada de Portugal nos cabazes de dívida globais.

"Temos estado otimistas em relação a Portugal durante praticamente todo o ano.”

Mohit Kumar

Responsável pela estratégia de taxas de juro do Crédit Agricole

A “possibilidade da inclusão [da dívida portuguesa] nos principais índices” até janeiro é também “elevada”, o que poderá ajudar a um alívio adicional nos juros da dívida, comenta o analista do Commerzbank. Isto se a Fitch subir a notação, remata. Depois de a DBRS ter decidido manter, na semana passada, a notação em BBB (baixo), um nível de investimento, as atenções estão centradas no que fará a Fitch em dezembro. Com a S&P e a Fitch, Portugal entra no radar de ainda mais grandes investidores.

“Temos estado otimistas em relação a Portugal durante praticamente todo o ano”, diz Mohit Kumar, responsável pela estratégia de taxas de juro do Crédit Agricole, em declarações à Bloomberg. “Continuo a adotar posições longas”, ou seja, a apostar na valorização dos títulos de dívida portuguesa, o que se traduzirá, a acontecer, numa continuação da queda dos juros no mercado.

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