Esta é a líder do grupo de jovens que estão a mudar o mundo
Ruiva, feminista e nova curadora do grupo de "jovens com potencial" criado pelo Fórum Económico Mundial. Inês Relvas é uma lutadora nata com ideias fixas sobre a igualdade, o trabalho e o futuro.
Neste mundo, há coisas que podemos fazer sozinhos e coisas que só podemos fazer com outra pessoa. As palavras são do japonês Haruki Murakami e fazem parte do livro favorito de Inês Relvas: After Dark (2004). Aos 28 anos, a nova curadora do hub lisboeta do Global Shapers é uma guerreira motivada na luta pela igualdade de géneros e está em recrutamento permanente de novos aliados para essa causa.
“É uma feminista convicta e já converteu todos os homens do grupo“, descreve-a alegremente ao ECO Francisco Silva, adjunto do Secretário de Estado da Saúde e antigo ocupante do cargo que Inês assumiu este ano. Do outro lado do continente europeu, Emmanuele Benati acrescenta: “É uma pessoa muito determinada, apaixonada e envolvida neste tópico. A coragem para ser uma embaixadora ativa desta bandeira, mesmo perante barreiras que se colocam diariamente, é uma das razões pelas quais eu admiro a Inês”. O amigo que a jovem nascida em Guarda arrecadou durante o seu MBA em Sinagpura confessa, com orgulho: “A Inês é imparável”.
Dona de uma vibrante cabeleira ruiva e de um sorriso largo, Inês deposita calma e certeza em cada passo que dá. O caminho que fez para aqui chegar nem sempre foi doce, mas as barreiras pouca eficácia tiveram: antes, deram-lhe asas. “Nem sempre a minha infância foi a mais fácil em termos de bullying e de imagem pessoal”, revela ao ECO. Aos sete anos, percebeu, pela primeira vez, os contornos das perceções desiguais que são colocadas sobre as mulheres e revoltou-se. “Eu cortava o cabelo às barbies. Eu queria que elas fossem diferentes, porque elas eram todas iguais e aquilo incomodava-me”, sublinha com um ar sério.
Não estou disposta a não ver um avanço claro ao longo da minha vida. Portanto, vou continuar a lutar todos os dias.
As comuns dores de crescimento foram, por isso, acompanhadas pelo alerta constante de que, afinal, “o problema era mais grave” do que aquele que, em criança tinha compreendido. “Percebi que há uma disparidade enorme no que é expectável para um homem versus para uma mulher, no tipo de oportunidades e no tipo de pressões sob as quais somos julgados ainda hoje na sociedade”, reforça a jovem formada em gestão pela Universidade Nova de Lisboa (licenciatura), Universidade Católica de Lisboa (mestrado) e INSEAD (MBA).
Relvas diz-se sortuda por nunca ter sentido a desigualdade de forma profunda na pele, mas avança que o machismo não vive só no visível, mas também prolifera no inconsciente: “Era assustador entrar numa sala e ser sistematicamente a única mulher na sala”. Por isso, Inês levanta a bandeira da igualdade o mais alto que pode, para que as gerações seguintes não tenham de enfrentar os mesmos dilemas. “Não estou disposta a não ver um avanço claro ao longo da minha vida. Portanto, vou continuar a lutar todos os dias”, exclama. O Fórum Económico Mundial concluiu que o mundo chegará à igualdade de géneros daqui a 170 anos. “Enquanto puder, vou lutar”, declara a jovem.
Os Repara Félix do mundo empresarial
Em pequenina, os olhos de Inês brilhavam pelos números. “Sempre adorei matemática”. Tanto que chegou a pensar juntar-se ao mundo da bolsa, mas a paixão pelos quebra-cabeças falou mais alto. “Quando cheguei ao secundário, tomei a decisão de enveredar pelo caminho da economia e gestão”, revela, deixando o olhar passear distraidamente pelo passado. Descobrir o universo das consultoras, empresas que “têm na sua génese resolver problemas”, foi, por isso, um passo entusiasmante na vida da curadora do Global Shapers.
No último ano da sua licenciatura, Inês estagiou na Boston Consulting Group, onde ainda trabalha, e percebeu “que era um match óbvio”. Desde então, Relvas continua a dizer com todo o seu fôlego que ama o seu trabalho e, segundo o seu diretor, tem mesmo um futuro brilhante à sua espera: “A Inês pode ser o que ela quiser. Vejo-a em funções de liderança dentro ou fora da consultoria”. Miguel Abecassis elogia a sua responsabilidade social e capacidade analítica, que considera “incomuns”.
Apesar do enorme sucesso profissional, Inês não abdica de uma vida cheia de outras experiências muito para lá das paredes do escritório. “Acho que somos uma geração que percebeu que o dinheiro não é tudo e não é um símbolo de felicidade”, comenta. Longe dos tetos altos do edífico da BCG no Bairro Alto, a consultora despe o fato, mas nunca o entusiasmo: “Não importa o quão ocupada ou cansada esteja, a Inês diz sempre ‘Sim’ à vida e está ao nosso lado a partilhar memórias que durarão para sempre”, considera Raisa Orlova, colega da jovem durante o semestre de Erasmus em Paris, França.
Companheira de aventuras. É assim que a descrevem os amigos e a irmã. “Em criança, eu cortei a minha franja de uma tesourada só. Ficou tudo torto. A Inês olhou para mim e disse-me ‘faz-me igual'”, recorda em gargalhadas Catarina Relvas. Décadas depois, o espírito mantém-se: “lembro-me com carinho do ano em que fizemos os três dias do Otimus Alive e na altura eu estava a fazer os exames nacionais para entrar outra vez na faculdade. Foi um momento muito especial”.
Perdidos no continente asiático, Emmanuele garante ter encontrado nesta consultora da Boston Consulting Group uma verdadeira caixinha de surpresas. “Estávamos em Laos, no ano novo tailandês, que leva sempre muitas pessoas às ruas, onde se fazem jogos com água. Foi surreal, andar de Tuk Tuk enquanto uma ‘batalha de água’ se desenrolava à nossa volta com centenas de pessoas”, conta o italiano. “Acabámos a viagem a atravessar um rio de elefante. Entre as muitas coisas que eu não esperava da Inês, ser capaz de andar de elefante foi definitivamente uma surpresa”.
Educar para a igualdade
Depois de ter assumido a vice-curadoria do hub lisboeta do Global Shapers, em 2016, Inês Relvas é agora a sua líder. “Gerir o grupo é um bocadinho como gerir uma família disfuncional. Somos todos muito diferentes e ocupados, mas temos um objetivo em comum, que é fazer a diferença e de alguma maneira ter algum tipo de impacto em Portugal”.
Fundado em 2011 pelo presidente executivo do Fórum Económico Mundial, o Global Shapers é uma comunidade composta por jovens com elevado potencial entre os 20 e os 30 anos (e com vontade de melhorar as sociedades em que se inserem) que pretende aproximar a população mais nova dos grandes decisores mundiais, que se reúnem uma vez por ano em Davos.
Na filial portuguesa, dos mais de 25 membros (incluindo o escritor Afonso Reis Cabral, o empreendedor Miguel Santo Amaro, da Uniplaces, e o escultor conhecido como Vhils Alexandre Farto), menos de metade são mulheres. “Desde a criação do grupo, essa tem sido uma preocupação ativa de todos os curadores, homens ou mulheres”, adianta a nova líder. “A grande maioria dos nossos candidatos são ainda homens. Somos se calhar mais proativos a ir à procura de mulheres, quando temos poucas”, acrescenta. Ainda assim, Inês faz um prognóstico positivo do ecossistema português e adianta que “cada vez mais vê mulheres interessadas no mundo do empreendedorismo”.
A grande maioria dos nossos candidatos são ainda homens. Somos se calhar mais proativos a ir à procura de mulheres, quando temos poucas.
Além da luta pela igual representação de géneros no hub lisboeta, Inês tem como meta para o seu mandato “criar um projeto novo e maior em educação”, que complemente os programas escolares em termos de comunicação, soft skills, literacia financeira e coding. “É preciso organização e método para levar estas ideias a bom porto e é por isso que a Inês é ideal para o cargo”, elogia Francisco Silva.
Francisco acredita na “eficiência” de Inês e revela à gargalhada que ela é a “mãezinha do grupo”, mencionando que esse seu dom de moderação vai além do mundo profissional e reflete-se na hashtag #InêsNãoTePreocupesEstamosSóABrincar que povoa as conversas mais aquecidas e descontroladas do grupo.
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