Depois da S&P, hoje é a vez de a Fitch tirar o país do lixo? Analistas acreditam
A Fitch deverá retirar o rating da dívida portuguesa do nível de "lixo". Mas os analistas consideram que o mercado já descontou a decisão e, por isso, juros não deverão registar grandes descidas.
Todos os caminhos vão dar à Fitch esta sexta-feira. A agência de notação financeira atualiza do rating de Portugal mais ao final do dia e restam poucas dúvidas no mercado: o país vai sair do “lixo”. O que é que isso significa? Muito e pouco ao mesmo tempo.
“Neste momento, tudo aponta para isso [para a subida do rating]. Não há nenhum motivo que justifique uma decisão diferente”, refere Filipe Silva, gestor do Banco Carregosa ao ECO. “A Fitch não é obrigada, mas Portugal reúne todas as condições para que se faça essa melhoria do rating. No último relatório a agência disse que era no rácio da dívida sobre o PIB onde se encontrava o maior risco do país. Temos estado numa fase de amortizações de dívida que tem um custo mais elevado e a rotação que o IGCP tem feito tem sido com taxas mais baixas. Temos tudo a favor. E não vejo motivo para o qual a Fitch não possa subir“, precisou Filipe Silva.
Keith Wade, economista-chefe da gestora Schroders, também tem poucas dúvidas em relação a um final feliz: “Devido aos progressos tem vindo a realizar no crescimento económico, na inflação, no défice orçamental, parece que há uma boa probabilidade de Portugal sair do nível de ‘lixo’“.
"Devido aos progressos tem vindo a realizar no crescimento económico, na inflação, no défice orçamental, parece que há uma boa probabilidade de Portugal sair do nível de ‘lixo’.”
Assim, se tudo correr como está previsto pelos analistas, a Fitch acompanhará (com alguns meses de atraso) a decisão da outra grande agência de rating mundial, a Standard & Poor’s, que em setembro colocou as obrigações portuguesas num nível de investimento de qualidade.
O que significa?
São vários os trunfos que Portugal apresenta para se “candidatar” a uma subida do rating pela Fitch. A economia portuguesa está a dar bons sinais: cresce e vai continuar a crescer nos próximos anos, de acordo com as estimativas oficiais. Isso vai ajudar melhorar as dinâmicas do défice e da dívida pública. Neste cenário, a acontecer uma surpresa do lado da agência esta sexta-feira, ela será negativa.
Na verdade, há algum tempo que o mercado vem antecipando uma decisão nesse sentido. E por isso uma melhoria do rating da Fitch vai significar muito e pouco simultaneamente.
“Será um impacto positivo, mas sempre limitado nos mercados. Muita gente está a fazer um movimento na antecipação para não ficarem à espera da notícia”, nota Filipe Silva. “Até porque hoje em dia, com o BCE a ser um grande comprador, o mercado já não apresenta a liquidez de dívida soberana como tinha no passado. Acredito que o grande estreitamento do spreads da dívida já tenha passado”, frisa.
"Será um impacto positivo, mas sempre limitado nos mercados. Muita gente está a fazer um movimento na antecipação para não ficarem à espera da notícia. Até porque hoje em dia, com o BCE a ser um grande comprador, o mercado já não apresenta a liquidez de dívida soberana como tinha no passado. Acredito que o grande estreitamento do spreads da dívida já tenha passado.”
Filipe Silva referia-se aos diferenciais entre os juros das obrigações portuguesas e alemãs, o chamado prémio de risco que os investidores cobram para deter dívida portuguesa em vez de um ativo seguro como a dívida germânica. Esta diferença encurtou nas últimas semanas para mínimos de mais de dois anos. Só este ano o risco caiu para metade.
Risco de Portugal em queda desde o início do ano
Fonte: Bloomberg
Grandes fundos à espreita
Ainda que o potencial para a dívida portuguesa possa estar a esgotar-se, sair do “lixo” é sempre um grande acontecimento. Não só porque isso é o reflexo de um melhor momento do país, mas também porque vai trazer de volta grandes fundos de investimento internacionais que estiveram ausentes durante todo este tempo em que a dívida portuguesa era muito perigosa para quem a detinha.
Isto mesmo realçou Keith Wade. “Uma saída de ‘lixo’ para uma categoria de investimento de qualidade representa uma grande diferença para muitos fundos de investimento, incluindo a Schroders”, realçou.
“Muitos clientes preocupam-se com a preservação do capital e por isso não querem investimentos muito arriscados. Mas os fundamentais de Portugal estão a mudar e a dívida portuguesa é agora um ativo mais seguro”, assegura. Palavra do economista-chefe de uma das maiores gestoras de ativos do mundo.
"Muitos clientes preocupam-se com a preservação do capital e por isso não querem investimentos muito arriscados. Mas os fundamentais de Portugal estão a mudar e a dívida portuguesa é agora um ativo mais seguro.”
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