Santa Casa quer entrar no Montepio. Onde está o dinheiro e em que é que já investe?
O provedor da Santa Casa já garantiu que a instituição tem outras participações financeiras e frisou que precisa de rentabilizar disponibilidades. O ECO foi ver onde é que a SCML aplica o dinheiro.
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) abriu a porta à possibilidade de entrar no capital do Montepio. A ideia, garantiu o provedor Edmundo Martinho, é aplicar disponibilidades financeiras da instituição e rentabilizá-las, com o objetivo de garantir que a atividade fundamental continua a ter meios para ser financiada. Mas que disponibilidades são essas e como é que Santa Casa as tem rentabilizado?
Para responder a esta questão, o ECO foi passar a pente fino as contas da Santa Casa. O relatório e contas mais recente que está disponível é o de 2016 — o que é normal, já que 2017 ainda agora terminou. Foi com base no documento que consolida as contas da Santa Casa que o ECO tirou uma fotografia aos seus investimentos.
200 milhões em caixa
Desde logo, saltam à vista as tais “disponibilidades financeiras” a que o provedor se referiu no Parlamento, quando deu explicações sobre o racional da potencial operação aos deputados. A Santa Casa tem 118 mil euros em numerário e 197,8 milhões de euros em depósitos. O próximo gráfico mostra como é que os depósitos estão distribuídos.
Fonte: Relatório e Contas 2016
Ações de cotadas na bolsa portuguesa
Sim, a Santa Casa também é acionista de empresas cotadas no PSI-20. A 31 de dezembro de 2016 tinha quase 3,3 milhões de euros em ações da praça portuguesa, um número que representa um reforço muito significativo face à posição do ano anterior (783 mil euros).
Apesar de as ações que detinha em carteira terem desvalorizado 153,3 mil euros, ao longo do ano a SCML adquiriu quase 2,7 milhões de euros em ações.
O próximo gráfico mostra as participações financeiras cotadas detidas a 31 de dezembro de 2016.
Fonte: Relatório e Contas 2016
Mas a instituição não tem só participações financeiras cotadas. Também tem “outros investimentos financeiros estrangeiros” cujo valor — calculado ao custo histórico — atinge quase dois milhões de euros. Em território nacional, tem ainda participações num total de quase 180 mil euros no capital de empresas que também não estão cotadas.
Imóveis geram rendas de 6,5 milhões
A 31 de dezembro, a Santa Casa tinha imóveis avaliados em 294,8 milhões de euros. Aqui incluem-se terrenos e edifícios (ou parcelas de edifícios) cujo objetivo é gerarem rendas. A maior parte destes imóveis são prédios urbanos, mas nem todos estão em condições de habitabilidade. Alguns precisam primeiro de intervenção para depois poderem ser rentabilizados.
De 2015 para 2016 a instituição adquiriu o equivalente a 19,1 milhões de euros e recebeu doações no valor de quase 450 mil euros. Ao longo do ano registou ainda ganhos no valor das propriedades na ordem dos 12,5 milhões e euros e perdas de 9,5 milhões.
O próximo gráfico mostra os rendimentos conseguidos pela Santa Casa com estes imóveis.
Fonte: Relatório e Contas 2016
Apesar dos rendimentos superarem os encargos com conservação e manutenção, importa, ainda assim, notar que em 2016 a Santa Casa gastou cerca de 503 mil euros. Em 2015, os encargos tinham sido em torno de 1,3 milhões de euros.
Fundo Imobiliário com uma carteira de 9,8 milhões
A Santa Casa é dona de 100% das unidades de participação do Fundo Imobiliário Fechado “Santa Casa 2004”. O Fundo já está em fase de liquidação desde dezembro de 2014. Entre 2015 e 2016 foi feita já uma liquidação parcial. Ainda assim, este ainda detém uma carteira de imóveis avaliada em 9,8 milhões de euros.
Ao longo de 2016, parte destes imóveis não esteve arrendada e os rendimentos obtidos (938 mil euros) não foram suficientes para cobrir os gastos (1,9 milhões de euros). Desta forma, o resultado líquido do fundo foi negativo em 961 mil euros.
3,3 milhões de euros em árvores
A Santa Casa não tem só investimentos imobiliários ou financeiros. Do seu ativo fazem parte também montados de sobro (parte para a produção de cortiça, outra parte ainda jovem), pinheiro bravo e eucaliptos. A Santa Casa explora estes ativos, procurando deles extrair rendimentos. Em 2016, registou uma valorização de 576,7 mil euros neste ativo.
O próximo gráfico mostra o valor este “ativo biológico”, como é designado no relatório e contas.
Fonte: Relatório e Contas 2016
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