• Entrevista por:
  • Cristina Oliveira da Silva

Jorge Barrero: No futuro distante, talvez “não tenhamos de trabalhar para receber um rendimento”

A Cimeira COTEC Europa aborda, na quarta-feira, o tema do trabalho 4.0. O diretor-geral da COTEC Espanha, Jorge Barrero, defende que a "tecnologia é uma caixa de ferramentas ao serviço da humanidade".

Não se sabe ainda como é que o avanço da tecnologia vai afetar o emprego no médio prazo mas talvez seja possível, “no futuro distante”, encontrar modelos de sociedade onde não seja possível trabalhar para receber um rendimento, diz o diretor-geral da COTEC Espanha.

Em respostas enviadas por escrito ao ECO, Jorge Barrero diz esperar que a Cimeira COTEC Europa — que tem lugar esta quarta-feira, no Palácio Nacional de Mafra — seja um “ponto de viragem” e coloque o tema na agenda política e dos líderes empresariais e sindicais. “O desafio envolve todos”, remata.

Acredita que a tecnologia vai criar oportunidades de emprego ou destruir postos de trabalho?

A tecnologia é uma caixa de ferramentas ao serviço da humanidade. Desde que a usemos, substitui-nos sempre em tarefas e origina oportunidades. Na História, e em particular desde a primeira revolução industrial, o emprego numa escala global continuou a crescer. Nesta nova etapa, a mudança é mais profunda e radical devido à chegada de tecnologias muito mais sofisticadas, e não sabemos com certeza como vai afetar a quantidade e qualidade do emprego no médio prazo; o que sabemos é que a mudança tecnológica não ocorre espontaneamente nem na direção mais justa e inclusiva possível e por isso precisamos de liderança política e pacto social.

A tecnologia vai substituir completamente o trabalho humano? Quando?

Não o vai fazer nas próximas décadas; talvez no futuro distante encontremos modelos de sociedade onde não tenhamos de trabalhar para receber um rendimento, mas imagino um mundo onde continuaremos a ter atividade muito diversa e talvez até mais intensa, porque a automação de tarefas pesadas e perigosas vai permitir que nos foquemos naquilo que nos faz felizes e onde o “toque humano” traz valor.

O uso crescente de tecnologia pode pôr em perigo a Segurança Social e regimes fiscais?

Temos de rever todos os mecanismos e instituições desenvolvidos para a sociedade industrial, porque estamos prestes a ultrapassá-la.

Empresas e trabalhadores estão preparados para estes desenvolvimentos?

Certamente que não, mas nós excedemos em larga escala as máquinas em termos de flexibilidade e adaptabilidade para mudar. Os nossos cérebros são os mesmos que os dos homens do Neolítico e com este ‘hardware’ avançámos muito. Estou otimista.

Como podem as empresas suavizar esta transição entre a tecnologia e o trabalho humano?

Esperamos que a Cimeira COTEC Europa seja um ponto de viragem nos nossos países e coloque o assunto na agenda política, mas também na agenda dos líderes empresariais e sindicais. O desafio envolve todos.

Deveria a UE estar já a discutir uma espécie de rendimento universal para responder a este problema?

Devemos estar abertos a todos os tipos de ideia, mas não haverá uma solução feita à medida de todos. Devemos estar sempre a preparar as nossas sociedades para a mudança e inovação — incluindo políticas.

Tendo em conta o elevado nível de desemprego em Espanha, entende que o uso crescente de tecnologia vai agravar o problema, sobretudo no que diz respeito ao desemprego jovem?

O desenvolvimento da economia digital é precisamente uma grande oportunidade para criar emprego entre os jovens mais bem treinados e adaptados. Por outro lado, um mundo mais tecnológico vai conduzir a uma sociedade a envelhecer e com mais tempo livre, no qual setores como a saúde e turismo, nos quais Espanha é um ponto de referência, vai gerar milhões de empregos.

A tecnologia vai empurrar mais trabalhadores para a reforma, pressionando o sistema público espanhol?

A tecnologia vai fazer-nos viver mais tempo e com mais qualidade. As pessoas que trabalham em coisas que lhes interessam e que gozam de boa saúde normalmente não pensam muito na reforma. Tendo em conta que estamos a pensar em cenários, estou a apostar nesse. No entanto, o desafio das pensões tem mais a ver com demografia do que com tecnologia e em última análise depende do modelo de sociedade no qual escolhemos viver. Há muitos futuros possíveis. A decisão é política e em democracia somos todos parte dessa decisão.

  • Cristina Oliveira da Silva
  • Redatora

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