Mário Silva: “A mobilidade elétrica é irreversível”
Iniciativa da Efacec denominada Plug in Tomorrow reuniu universidades, construtores automóveis e autarquias para discutir o futuro da mobilidade elétrica, setor onda a empresa é pioneira.
O desafio está lançado. A investigadora da Universidade do Texas e da Faculdade de Engenharia do Porto, Helena Braga desafiou a Efacec a “transportar” para a indústria o trabalho científico que tem desenvolvido ao nível das baterias sólidas, capazes de armazenar muito mais energia do que as de ião de lítio, com uma vida mais longa, mais seguras e menos poluentes.
Em declarações ao ECO, à margem do Plug-in Tomorrow, espaço de debate sobre o futuro da mobilidade elétrica, que se realizou na tarde desta segunda-feira, depois da inauguração da nova unidade de mobilidade elétrica da Efacec, e que contou com a presença da empresária Isabel dos Santos, Helena Braga deixou claro que o “scale up tem de ser feito pela indústria“.
Nesse sentido, acrescenta “a indústria portuguesa tem todas as condições para o fazer, bem como a Universidade Portuguesa tem capacidade para gerar ideias. A indústria portuguesa tem as portas abertas para fazer do pequenino grande.”
Mas do que fala esta investigadora do Texas? Helena Braga responde. “Trata-se de um novo eletrólito, que é diferente do atuais. Os atuais são líquidos, o nosso é sólido e tem características diferentes que possibilitam cargas de baterias mais longas”. Baterias usadas, no dia-a-dia, que podem render mais, que são mais baratas e que são seguras, que é o “fundamental”.
“Estas características permitem que os carros sejam mais leves, porque o maior peso dos carros elétricos vem sobretudo das baterias“, detalha.
A investigadora dá ainda o exemplo dos carros da Tesla, que “têm 70 mil baterias que estão num invólucro de ácido inox, cada uma delas pesadíssima. Ora, essa parte pode ser retirada e podemos dispor de mais bateiras ou maiores no mesmo espaço que tínhamos antes e, assim ter um carro muito mais autosuficiente”.
Apesar do desafio lançado à Efacec, Helena Braga admite que “já existem indústrias americanas a querer desenvolver estas baterias”. Mas adianta: “Gostava muito que fosse uma empresa portuguesa, ainda por cima, uma empresa que já é pioneira nesta área”.
As novas baterias podem ainda “aplicar-se na rede elétrica, até em associação com os painéis fotovoltaicos“, explica. Apesar de não ter respondido ao desafio da investigadora, Mário Leite Silva, presidente do conselho de administração da Efacec, reconhece que “a mobilidade elétrica é uma realidade irreversível”.
O homem forte de Isabel dos Santos em Portugal enalteceu o trabalho dos colaboradores do grupo que contribuíram para “reinventar um grupo e a ambição de ser uma referência à escala mundial no setor da energia”.
O exemplo da PSA
O construtor automóvel PSA está também a apostar na mobilidade elétrica. Jorge Teixeira Magalhães, diretor de comunicação do grupo, diz que, “seja por imposição política ou por necessidade das cidades restringirem a circulação automóvel, a eletrificação está aí”.
A necessidade de mobilidade dos clientes, que já não passa pela posse de veículos, esteve inclusivamente na origem do construtor francês ter apostado numa nova marca, a free2move. Jorge Teixeira Magalhães acrescenta que, “por via do novo serviço de mobilidade conseguimos mais 1,5 milhões de clientes, que até agora não tinham qualquer contacto connosco”. Foi, de resto, o serviço de mobilidade que fez o grupo PSA regressar aos Estados Unidos.
O diretor da PSA disse ainda que, até 2020, mais de metade da gama de automóveis do grupo será eletrificado e que, até 2025, espera que toda a gama esteja eletrificada.
Já sobre os veículos autónomos, um aspeto muito falado durante todo o dia — depois de a própria Isabel dos Santos na cerimónia de inauguração da fábrica, ter dito que “no mundo de amanhã, os carros não terão volantes, nem depósitos de combustíveis” –, Jorge Magalhães deixou a nota de que o grupo já tem várias dezenas de carros autonómos.”O veículo autónomo é uma realidade. Já temos várias dezenas”, admitiu.
A mobilidade das cidades: o caso do Porto
Coube a Filipe Aráujo, vice-presidente da Câmara do Porto e com o pelouro da inovação e do ambiente, explicar o que tem sido feito na cidade.
Filipe Araújo disse que a introdução de veículos elétricos e sobretudo dos carros autónomos exige que a planificação das cidades tem que ser alterada.
Para o vice-presidente de Rui Moreira, a mobilidade elétrica ajuda a resolver alguns problemas nas cidades, como o da redução do ruído e das emissões de dióxido de carbono, a que se junta ainda o conforto da utilização, mas obriga “a mudanças estruturais”. Apesar de reconhecer que 90% da frota da autarquia podia ser eletrificada, Filipe Araújo diz que esta percentagem “não ultrapassa os 70%”.
A Câmara do Porto tem atualmente 70% de carros elétricos e híbridos plug-in, com a poupança da autarquia a atingir em combustíveis os 600 mil euros anuais.
Entre os problemas apontadas por FIlipe Araújo destacam-se a falta de infraestruturas para poder carregar 70 a 80 carros todos aos mesmo tempo, apesar de dizer que acredita que dentro de pouco tempo será fácil carregar 40 a 50 carros em simultâneo.
Filipe Araújo referiu ainda que o setor público tem que dar o exemplo. E, nesse sentido, a cidade do Porto, para além do Metro vai passar a contar, dentro em breve, com 15 autocarros elétricos.
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