Desde 2009 que Portugal não comprava tão poucos bens angolanos. A culpa é do petróleo
Há oito anos que não se comprava tão poucos bens angolanos. Porquê? A quantidade de petróleo bruto importada por Portugal caiu acentuadamente. Nem o aumento do preço de importação compensou.
Chegaram menos 531 milhões de euros de bens angolanos a território nacional em 2017, uma queda de 65,6% face a 2016. A razão é simples: Portugal adquiriu muito menos petróleo a Angola. Num ano em que a relação entre os países se deteriorou, a relação comercial beneficiou as contas portuguesas: o excedente comercial face a Angola — um dos parceiros comerciais tradicionais — mais do que duplicou. Os dados foram revelados esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística.
Fonte: INE e GEE.
As importações com origem em Angola diminuíram o seu peso no comércio internacional de Portugal exterior à União Europeia. De um peso de 6% em 2016, passaram a pesar 1,7% em 2017. Portugal tinha importado 809 milhões de euros em bens angolanos, mas durante o ano passado apenas importou 278 milhões de euros. Ressalve-se que os dados não estão deflacionados, ou seja, não refletem a variação dos preços.
Por outro lado, as empresas nacionais conseguiram exportar mais para Angola. As exportações de bens portugueses para Angola subiram 288 milhões de euros: passaram de 1,5 mil milhões de euros em 2016 para 1,78 mil milhões de euros em 2017. Ainda assim, tendo em conta os últimos dez anos, as exportações para território angolano continuam abaixo da média.
Portugal exporta para Angola principalmente agro-alimentares, máquinas, aparelhos e químicos. Nestas exportações sobressaem-se os vinhos e bebidas alcoólicas, o leite e laticínios, mas também carnes, de crustáceos e algum peixe congelado.
Fonte: INE. GEE.
A queda das importações e a subida das exportações levou o excedente comercial para o lado de Portugal a aumentar 819 milhões de euros. O saldo mais do que duplicou num só ano: passou de 692 milhões de euros para 1,5 mil milhões de euros, regressando aos valores registados de 2012.
“A balança comercial de mercadorias de Portugal com Angola é francamente favorável a Portugal, com um elevado grau de cobertura das importações pelas exportações“, explicava uma análise do Gabinete de Estratégia e Estudos (GEE) do Ministério da Economia sobre o comércio entre Portugal e Angola publicado recentemente e assinado por Walter Anatole Marques.
Segundo a mesma análise, as importações estão “centradas no petróleo”. Desde o pico em 2013 e até 2016 essas importações de bens angolanos, focadas no petróleo, tinham vindo a cair: “Em 2014, face ao ano anterior, ocorreu uma descida significativa em volume, a que se sobrepôs um decréscimo do preço até 2016”.
Ou seja, Portugal importou menos petróleo, mas o montante também caiu porque o preço baixou nos mercados internacionais, como mostra o gráfico do estudo do GEE. E em 2017, ano em que os preços do petróleo recuperaram e isso devia fazer aumentar o montante? O perito do GEE, apenas com os dados até outubro de 2017, já referia que “as importações assentam, em sua grande parte, no grupo dos produtos ‘Energéticos’, que representou 97,1% do total no período em análise de 2016 e 90,8% em 2017″.
“[As importações de produtos energéticos] registaram uma acentuada descida em valor em 2017 (-72,1%), que se ficou a dever essencialmente a uma redução da quantidade de petróleo bruto importada (-78,4%), apesar de um aumento do preço de importação (+31,0%)“, concluía o analista Walter Anatole Marques, tendo em conta os dados do INE até ao momento. Enquanto até outubro de 2016 Portugal tinha importado 701 milhões de euros em produtos energéticos, até outubro de 2017 só tinha importado 195 milhões de euros, uma queda de 72,1%.
O último trimestre não mudou os números. No total do ano, as importações de combustíveis angolanos caíram 67,7%, menos 531 milhões de euros. Lembra-se deste número? Está no início do texto e é exatamente o valor que as importações angolanos, no total, desceram.
A Galp é a principal empresa em Portugal que compra petróleo bruto ao exterior para transformar nas suas refinarias nacionais. Esta variação poderá estar ligada às escolhas da empresa, mas também a outros fatores, nomeadamente à queda da produção da Sonangol — a empresa que explora o petróleo em Angola — face a 2016, o que também reflete o acordo de contração da produção da OPEP.
Além de a quantidade de petróleo angolano importado por Portugal ter descido de forma acentuada, o perito do GEE acrescentou que Portugal não importou “propano liquefeito, que em 2016 atingira um valor de 10,9 milhões de euros”.
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