Katainen diz que não foi alvo de lóbi por Barroso. “Bebemos uma cerveja”
A reunião entre o Katainen e o atual chairman da Goldman Sachs "seguiu religiosamente os parâmetros de legalidade aplicáveis", assinala a Comissão Europeia. Barroso sentir-se-á "injustiçado".
O encontro entre Durão Barroso e o comissário europeu Jyrki Katainen decorreu totalmente dentro da legalidade e do código de conduta da Comissão Europeia, assinalou um porta-voz deste órgão esta terça-feira, após revelações de que Barroso teria quebrado o seu compromisso de não fazer lóbi em nome da Goldman Sachs. Tanto Barroso como Katainen rejeitaram que tenha havido lóbi.
A Comissão Europeia esclareceu que o encontro entre Durão Barroso, antigo presidente da Comissão Europeia, e o comissário Katainen aconteceu a 25 de outubro, para discutir questões de comércio e política de defesa. De acordo com as regras, assinalou o porta-voz perante os jornalistas num briefing que decorreu esta terça em Bruxelas, Katainen publicou a informação de que o encontro “com a Goldman Sachs” decorrera na sua agenda. “Esta reunião teve lugar 36 meses depois da saída do antigo presidente”, assinalou o porta-voz. “O vice-presidente Katainen aceitou o encontro e seguiu religiosamente os parâmetros de legalidade aplicáveis”.
Por e-mail, a Comissão Europeia assinalou que o código de conduta da Comissão relativamente aos antigos membros e presidentes descreve que “durante 18 meses após cessar o cargo, os antigos comissários não poderão fazer lóbi ou defender as suas perspetivas junto da Comissão e da sua equipa”. Esse prazo foi largamente ultrapassado, já que a 25 de outubro já tinham decorrido 36 meses desde que Barroso saíra da Comissão.
Em 2016, pouco mais de um ano depois de ter deixado de presidir a Comissão Europeia, Durão Barroso começou a trabalhar com o banco de investimento norte-americano Goldman Sachs, o que não passou sem controvérsia. No entanto, o Comité de Ética Ad-Hoc criado para analisar o caso concluiu que o dirigente não violou regras de ética da União Europeia, com base no “compromisso de Barroso de não fazer lóbi em nome da Goldman Sachs”, numa carta escrita pelo próprio.
Ao Observador, uma fonte próxima de Durão Barroso afirmou que o antigo presidente da Comissão Europeia se sente “injustiçado” e que as acusações de ter feito lóbi são “uma invenção”. A fonte disse ainda: “Ele não fez lóbi nenhum. Encontrou-se com Katainen como se encontra com vários ex-colegas da Comissão Europeia para discutir questões políticas e económicas globais, não para procurar qualquer benefício para o Goldman Sachs International”.
Katainen: “Bebemos uma cerveja”
O vice-presidente da Comissão Europeia Jyrki Katainen rejeitou, em entrevista ao jornal europeu EU Observer, ter sido alvo de lóbi pelo seu “amigo” Durão Barroso. “Somos amigos. Conhecemo-nos há anos”, afirmou o comissário esta terça-feira. Katainen afirmou que Barroso o convidou para tomar um café, enquanto Katainen sugeriu uma cerveja, e que se encontraram num hotel perto da Comissão. “Se alguém estava a fazer lóbi, era eu. Eu é que lhe falei da nossa agenda ambiciosa de comércio e defesa”, acrescentou Katainen.
Questionado pelo jornal sobre a introdução, na sua lista de reuniões, de uma reunião com o grupo Goldman Sachs, e não com Durão Barroso pessoalmente, Katainen disse não saber. “Não sei porque é que isso está lá. Mas fui eu que decidi incluí-lo”, em nome da transparência, afirmou o ex-primeiro-ministro finlandês. Sobre não ter tirado apontamentos do encontro, Katainen disse: “Quando bebo uma cerveja privada com amigos, não tiro apontamentos”.
A entrevista ao EU Observer parece contradizer a carta escrita por Katainen, divulgada também esta terça-feira, em que afirmou que tivera “uma reunião” com “Mr. Barroso da Goldman Sachs”, e que a reunião fora “organizada pelo telefone, pelo [seu] escritório”, a pedido de Barroso. Sobre os apontamentos, escrevera: “Habitualmente não tiro apontamentos em reuniões, e não o fiz nesta reunião”.
Em comunicado, a Goldman Sachs referiu que Barroso “representa a empresa junto de clientes e figuras públicas”, mas que desde o princípio do seu trabalho enquanto chairman que “se recusou a representar a empresa em interações com a União Europeia”. A empresa acrescenta: “Qualquer reunião do tipo é de natureza pessoal, construída ao longo de uma carreira de serviço público”.
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