Guerra comercial? As críticas a Trump vêm dos quatro cantos do mundo
Com Trump a anunciar uma taxação mais pesada das importações de aço e alumínio, o mundo já está a reagir negativamente. Há países que vão responder, outros que temem que o tiro saia pela culatra.
Donald Trump anunciou que as importações de aço e alumínio vão ser taxadas a 25% e 10%, respetivamente, uma medida de apoio aos produtores norte-americanos. “O que tem acontecido nas últimas décadas é vergonhoso. Vergonhoso”, afirmou o presidente.
Trump segue assim o caminho do protecionismo, anunciado desde os tempos em que era apenas candidato à presidência, defendendo que o país tem sido castigado por anos e anos de políticas comerciais injustas. Segundo o presidente, esta é uma proteção aplicada “pela primeira vez em muitos anos” e que se vai manter “por um longo período de tempo”.
O aumento da produção externa, especialmente chinesa, tem levado à diminuição dos preços, o que afetou os produtores norte-americanos e criou uma situação que o Departamento do Comércio diz representar uma ameaça à segurança nacional.
Ainda assim, para os países produtores destes metais não se trata de uma medida de proteção da segurança nacional, mas sim de incumprimento das leis comerciais. As críticas vieram da União Europeia, da Rússia e até do vizinho Canadá.
Europa vai reagir de uma forma “firme”
Logo após terem sido conhecidos estes novos planos, Jean-Claude Juncker anunciou que a União Europeia “vai reagir de forma firme e proporcional para defender os seus interesses”, através da apresentação de contramedidas compatíveis com as regras da Organização Mundial do Comércio, numa tentativa de “reequilibrar a situação”.
"Não vamos ficar de braços cruzados quando a nossa indústria é atacada com medidas injustas.”
Para o presidente da Comissão Europeia, a iniciativa dos EUA parece ser “uma intervenção flagrante para proteger a indústria” norte-americana e “não se basear em justificações ligadas à segurança nacional”, acrescentando que isto “só pode agravar as coisas, em vez de favorecer uma solução”. “Não vamos ficar de braços cruzados quando a nossa indústria é atacada com medidas injustas”, concluiu.
Também em comunicado, a comissária europeia do Comércio, Cecilia Malmstrom, deplorou que estas medidas “vão ter um impacto negativo nas relações transatlânticas e nos mercados mundiais”, uma vez que “vão aumentar os custos e reduzir as escolhas dos consumidores norte-americanos”. Já em entrevista ao Financial Times, Malmstrom disse que Bruxelas vai considerar a possibilidade de impor tarifas de salvaguarda.
Ainda assim, Sigmar Gabriel, ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, pediu à União Europeia, em nome da Alemanha, uma resposta igualmente “firme” à imposição destas taxas, uma vez que põem em causa milhares de postos de trabalho em território europeu.
Em comunicado, Gabriel pede uma reação “de forma firme às taxas aduaneiras punitivas dos Estados Unidos que ameaçam milhares de postos de trabalho na Europa”, acrescentando ainda que o país encara este assunto com “grande inquietação”.
China não quer EUA a “dar o exemplo”
Como maior produtor de aço do planeta, a China apelou a Washington para que “trave” as medidas protecionistas e “respeite as regras” do comércio multilateral, visto que se todos os países seguissem o caminho dos Estados Unidos, “teria um grave impacto na ordem do comércio multilateral”.
"A China pede aos Estados Unidos que travem o recurso a medidas protecionistas e respeitem as regras do comércio multilateral.”
“A China pede aos Estados Unidos que travem o recurso a medidas protecionistas e respeitem as regras do comércio multilateral”, afirmou Hua Chunying, porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros. “Se outros países seguissem o exemplo, teria um grave impacto na ordem do comércio multilateral.”
A porta-voz da diplomacia chinesa afirmou que os EUA oferecem já uma “proteção excessiva” aos seus produtores de aço e alumínio, tendo adotado “mais de uma centena” de medidas contra a importação daqueles produtos. Hua Chunying não mencionou, no entanto, possíveis represálias por parte de Pequim.
Canadá vê feitiço a virar-se contra o feiticeiro
O país vizinho dos EUA é o seu primeiro fornecedor de aço e alumínio, o que leva o Governo canadiano a afirmar-se “surpreendido” por uma decisão que se pode virar contra as empresas dos Estados Unidos.
“Os EUA têm um excedente de dois mil milhões de dólares — 1,6 mil milhões de euros — no comércio do aço com o Canadá”, destacou a ministra dos Negócios Estrangeiros canadiana, Chrystia Freeland. Já o ministro do Comércio etiquetou esta medida como “inaceitável”.
O sindicato norte-americano dos siderúrgicos, ativo tanto nos Estados Unidos como no Canadá, exigiu ainda que os produtores de aço de alumínio canadianos sejam excluídos das novas medidas. “O Canadá não é claramente um dos ‘maus atores’ implicados no comércio injusto e dumping de alumínio e aço para os EUA”, avançou o sindicato.
Kremlin está preocupado
Já o Governo russo exprimiu “preocupação” relativamente a estas novas taxas, acrescentando que as relações comerciais entre Moscovo e Washington vão ser analisadas com atenção. “Trata-se de uma situação que merece uma grande atenção. Várias capitais europeias já exprimiram extrema preocupação em relação à decisão. Nós partilhamos dessa preocupação e vamos analisar com atenção a situação relacionada com as nossas relações comerciais com Washington”, disse aos jornalistas o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Marcelo teme que as medidas “prejudiquem a Europa”
“O crescimento sustentado do país tem sido a preocupação de todos em Portugal. Ele existiu no ano passado, tudo indica que exista este ano e nos anos seguintes. Agora, há realidades que não controlamos“, assumiu, por sua vez, Marcelo Rebelo de Sousa. “Não controlamos o que se vai passar com a política americana de aumentar as taxas sobre as importações de produtos europeus e, portanto, ser mais protecionista. Isso pode prejudicar a Europa”.
Presidente diz que as guerras comerciais são “boas” e “fáceis de ganhar”
Assim que acordou, Trump virou-se para o Twitter para responder às críticas mundiais, afirmando que “quando os países estão a perder”, as guerras comerciais são “boas” e “fáceis de ganhar”. “Por exemplo, quando um país tem em falta 100 mil milhões de dólares connosco e começa a ficar meigo, não fazemos mais negócio com ele“, apontou ainda o presidente.
Tweet from @realDonaldTrump
“Ganhamos em grande. É fácil”, concluiu.
(Notícia atualizada às 12h50 com as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa)
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