É o novo projeto de quatro conhecidos portugueses. São 5.000 metros quadrados de espaço em Lisboa para juntar empresas a artesãos, num ambiente de criatividade. Bem-vindos ao LACS.
O que tem um programador a ver com um oleiro? Ambos vão poder interagir num ambiente de partilha de ideias no novo cluster criativo da capital portuguesa. Onde outrora eram os balneários e a cantina dos trabalhadores do porto de Lisboa, um edifício junto ao rio que estava desocupado há 20 anos, no Cais Rocha Conde de Óbidos (Santos), quatro sócios acabam de lançar o LACS (Lisbon Art Center & Studios), um espaço para empresas que se queiram ver embrenhadas num ambiente totalmente voltado para a criatividade.
Um desses sócios é Filipe de Botton, conhecido empresário português e chairman da Logoplaste. Em conjunto com João Raimundo (Montepio), Gustavo Brito (Paris-Sete) e Miguel Rodrigues (Ductos Group), investiu neste prédio abandonado qualquer coisa como três milhões de euros, num complexo trabalho de requalificação e desenvolvimento. A concessão está garantida por um período mínimo de dez anos e a ideia, explicou Filipe de Botton, é criar “a maior comunidade criativa” do país, que junte “a arte a fazer coisas diferentes em Portugal”. O projeto arranca esta quinta-feira.
“Um dia, estávamos a almoçar aqui num restaurante bem perto, em cima do mar e olhámos para este prédio. O Miguel Rodrigues e o Gustavo Brito já tinham olhado para ele com calma. Estava desocupado há 20 anos. Era os vestiários do pessoal que trabalhava aqui no porto de Lisboa. Dissemos: porque não? E fomos à guerra, fomos à luta e conseguiu-se este prédio”, contou o empresário ao ECO. “Vamos ter aqui mais de 550 pessoas a trabalhar”, sublinhou.
Há muito empreendedorismo menos conhecido, que é chamado o empreendedorismo de indústria mais tradicional, dos têxteis, do calçado, que existe por esse país fora e que não tem tanto palco.
Quando o ECO visitou o LACS, a azáfama era total para que tudo estivesse pronto para o dia do arranque. O som das obras fazia o contraste com aquele que se imagina que venha a ser a música de cada dia quando o LACS estiver a operar em pleno: telemóveis a tocar, conversa aqui e ali, dedos a bater fervorosamente em teclados.
Veja o vídeo com imagens do interior e dos preparativos:
Primeiros inquilinos e a geladaria Santini
Para já, EDP Inovação e Rock in Rio são os primeiros a usufruir do novo espaço. Mas, segundo apurou o ECO, poderá estar na calha a entrada de uma “tecnológica de moda de luxo” e uma fabricante de automóveis mais tradicional. Filipe de Botton escusou-se a revelar quais.
O que tem o LACS de diferente? Para começar, são centenas de espaços que deverão juntar os artesãos mais tradicionais, como carpinteiros e oleiros, aos artesãos das novas tecnologias, como programadores e empreendedores no geral. É, aliás, esse “enfoque” nas artes que Filipe de Botton acredita que fará do LACS um espaço diferente do que já existe por aí: “Faz parte do caderno de encargos que nos propusemos à APL [Administração do Porto de Lisboa], que é transformar o LACS num centro de artes”, detalhou o empresário.
E o que é isso? É “pôr em contacto artistas de diversas proveniências, de diversas geografias, com diferentes finalidades, para conseguir, dessa amálgama, fazer coisas diferentes”. Contas feitas, o grande objetivo acaba por mesmo por ser trazer para Portugal um novo conceito de espaço de incubação de empresas e co-working: “Um centro e uma visão completamente diferente do que queremos que seja o próximo Portugal”, atirou Filipe de Botton.
O LACS contará com receção, salão de eventos e um terraço de fazer inveja, aberto ao público. O topo do edifício oferece uma vista privilegiada sobre a cidade de Lisboa e mais: permite espreitar a doca seca do porto de Lisboa, onde os navios atracam e o tanque é esvaziado. Segundo a promoção que está a ser feita, o espaço “tem mais de 300 janelas” e um total de 5.000 m2 divididos em cinco pisos. Há também galeria de arte, espaço para a prática de ioga, entre outros detalhes.
“Com a abertura do LACS, são também inaugurados o LACS Cafetaria e o LACS Rooftop Restaurante Bar”, lê-se na informação enviada ao ECO. Esta quinta-feira dá-se apenas a entrada dos primeiros inquilinos e a inauguração deverá ser feita algures nas próximas semanas. Mas há ainda outra grande novidade: o LACS terá aquela que deverá ser a oitava geladaria Santini. Estará estrategicamente posicionada junto à ciclovia que une Santos a Belém, apurou o ECO. Fonte disse ainda que os promotores encontram-se apenas a aguardar que o porto de Lisboa ceda oficialmente as autorizações necessárias.
O que é importante é que nós, portugueses, ganhemos a consciência de que somos tão bons do que os não portugueses. E isso prova-se lá fora. Qualquer português a trabalhar é tão bom e, muitas vezes, muito melhor do que os autóctones.
Em conversa com o ECO, Filipe de Botton aproveitou para fazer um convite aos empreendedores portugueses: “O convite que fazemos a todos é fazer acontecer. O que é importante é que nós, portugueses, ganhemos consciência de que somos tão bons como os não portugueses. E isso prova-se lá fora. Qualquer português a trabalhar é tão bom e, muitas vezes, muito melhor do que os autóctones. É [preciso] ganharmos essa convicção, esse nacionalismo positivo, para dar, de facto, uma nova imagem a Portugal”, disse.
“É extraordinário o que já existe em Portugal, neste momento, em termos de empreendedorismo. Há muito empreendedorismo menos conhecido, que é chamado o empreendedorismo de indústria mais tradicional, dos têxteis, do calçado, que existe por esse país fora e que não tem tanto palco. Não é tão trendy, não é tão sexy falar dessa indústria mais tradicional como das tecnológicas que hoje em dia estão mais na moda”, continuou o promotor do LACS.
É também nesse contexto que surge o LACS. Porque o “Portugal que hoje começamos a sentir” que existe “tem muito a ver com uma nova geração de portugueses mais bem formados, mais bem-educados, mais cosmopolitas, que estão a revolucionar o nosso país”, garantiu o empresário. Palavra de quem sabe do que está a falar.
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Nasceu o LACS. Quer ser “a maior comunidade criativa” do país
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