Dívida de muito longo prazo vai custar… muito pouco a Portugal
Portugal tenta arrecadar até 1.250 milhões de euros em obrigações a dez anos e 28 anos. E deverá beneficiar das condições do mercado para conseguir financiar-se ao preço mais baixo de sempre.
A turbulência que atingiu os mercados em fevereiro parece estar ultrapassada e Portugal deverá aproveitar as condições mais favoráveis para se financiar esta quarta-feira com dívida de muito longo prazo à taxa mais baixa de sempre. Analistas veem o Tesouro a pagar um juro à volta de 2,8%. Mas o custo final vai resultar sobretudo da dimensão da operação.
Portugal tenta colocar esta quarta-feira obrigações que vencem em 2045 (com prazo de 28 anos). Adicionalmente, o IGCP lança um leilão de obrigações a dez anos. O objetivo passa por levantar um montante que pode ir até 1.250 milhões de euros.
Atualmente, a yield implícita nos títulos a 28 anos transaciona perto dos 2,8%. É um preço razoável para Portugal? “Parece-me um valor ajustado”, refere ao ECO o analista chefe do Danske Bank, Jens Peter Sørensen.
Ciaran O’Hagan, diretor de estratégia de dívida do Société Générale, concorda com o seu colega, mas sublinha que o montante também importa: “A dimensão do leilão será um fator-chave para o preço. Se a procura for robusta, haverá mais obrigações. Se a procura for fraca, teremos menos obrigações colocadas. Em qualquer um dos casos, os títulos deverão ser vendidos a preços muito próximos dos verificados no mercado”, explica.
Resultados dos leilões com maturidade em 2045
Fonte: IGCP
Em julho do ano passado, o IGCP utilizou esta linha de 2045 para colocar 360 milhões de euros, tendo pago uma taxa de juro de 3,977%, inferior à de 2016 — uma redução que se explica também porque a maturidade dos títulos era inferior em 2017 — mas superior à taxa de 2015. Se conseguir uma taxa de 2,8% será a mais baixa de sempre neste prazo.
Desta vez, tudo aponta para que se registe uma forte baixa no juro, em mais de um ponto percentual (100 pontos base) em menos de ano. E nem a concorrência de Espanha, que vai ao mercado esta quinta-feira para emitir dívida a 30 anos — pretende levantar até 5,5 mil milhões em vários prazos –, vai afetar um bom resultado português.
A dimensão do leilão será um fator chave para o preço. Se a procura for robusta, haverá mais obrigações. Se a procura for fraca, teremos menos obrigações colocadas. Em qualquer um dos casos, os títulos deverão ser vendidos a preços muito próximos dos preços do mercado.
“Não penso que a dimensão do leilão espanhol seja suficientemente grande para afastar compradores. E vale a pena referir que os operadores estão sempre disponíveis para comprar”, lembra O’Hagan.
Para Sørensen, com “os investidores relutantes em comprar obrigações italianas tendo em conta a incerteza política que resultou da eleição, há forte apetite por títulos de longo prazo tanto em Espanha como em Portugal”.
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