O Estado injetou quase quatro mil milhões de euros na Caixa, em 2016. Paulo Macedo quer que o banco público gere lucros para devolver o dinheiro aos contribuintes.
Nunca ninguém perguntou a Paulo Macedo quando é que a Caixa Geral de Depósitos deve começar a devolver os quatro mil milhões de euros que recebeu do Estado em 2016, no âmbito do plano de recapitalização. Mas é objetivo do banco público continuar a dar lucro — como deu em 2017 — e a dar dividendos aos contribuintes no futuro.
Em entrevista ao ECO24, Paulo Macedo disse que o regresso aos lucros um ano antes do previsto não foi obra de “varinha mágica”, mas antes o resultado do trabalho conjunto entre administração, diretores e trabalhadores.
Com a recapitalização, espera-se que a Caixa devolva em dividendos ao próprio Estado esse esforço dos contribuintes. Antecipou em um ano os lucros face ao que estava no plano. É possível antecipar aquilo que é a distribuição de dividendos ao Estado?
É a primeira pessoa que me faz essa pergunta. Nunca ninguém perguntou quando é que se devolve o dinheiro ao Estado e aos contribuintes.
Mas quer devolver?
Como contribuinte, é o que esperaria. Só há uma razão para não haver devolução do dinheiro aos contribuintes: se houver mais exigências de capital. Os bancos precisaram de uma parte dos aumentos de capital para fazer face a prejuízos. Outra parte dos aumentos de capital foi necessária apenas por questões regulamentares. Foi necessário ter muito mais capital. Há uma parte do capital que todos os bancos precisaram para fazer face aos novos requisitos regulatórios. Nesse sentido, se houver novos requisitos regulatórios, a Caixa, para manter a sua atividade e a sua relevância, tem de ter esse capital. Caso contrário, a Caixa deve gerar os resultados para poder devolver no futuro esse dinheiro aos contribuintes.
Mas é expectável que em 2018 apresente resultados para que em 2019 possa começar a devolver esse dinheiro aos contribuintes?
Essa é uma questão com o acionista e que não está prevista no plano. O plano estratégico prevê rentabilidades acima de 5%, o que não é nada de especial, prevendo em 2020 uma rentabilidade de 9%, o que já é bastante significativo. Isto quer dizer que a Caixa vai ter de gerar resultados positivos de centenas de milhões de lucros por ano. Se não gerar, estará abaixo daquilo que são as condições do plano e daquilo que é exigido em termos do que foi acordado entre o Estado e a União Europeia.
Como passou de prejuízos a lucros um ano antes do planeado? Há uma varinha mágica ou é um novo tipo de gestão?
Varinha mágica não há de certeza. Há um trabalho conjunto do conselho de administração, dos diretores da Caixa e dos seus colaboradores. Mas há, de facto, diferenças. Desde logo, temos um plano estratégico claríssimo. É conhecido. Há um rumo muito claro em termos de atividade nacional e de racionalização em algumas operações no exterior. Há um assumir do emagrecimento da estrutura, ao mesmo tempo em que há uma ambição de manter uma posição muito relevante no mercado nacional, nomeadamente junto das famílias, onde somos líderes de mercado, mas também junto das empresas.
"Varinha mágica não há de certeza. Há um trabalho conjunto do conselho de administração, dos diretores da Caixa e dos seus colaboradores. Mas há, de facto, diferenças. Desde logo, temos um plano estratégico claríssimo.”
Mas isso é uma quadratura do círculo.
Não é propriamente uma quadratura do círculo. A Caixa tem coisas que não estavam bem e precisavam de ser melhoradas, mas há coisas que a Caixa tinha muito bem. A Caixa é uma marca formidável. A Caixa tem o apreço da generalidade dos portugueses. As pessoas gostam da Caixa. Tem também uma proximidade, uma expressão geográfica e tem também a confiança dos portugueses ao longo de décadas, de mais de um século. Portanto, a oportunidade de poder construir sobre isso é uma vantagem.
O problema da Caixa tem sido o elevado montante de malparado, crédito que foi concedido sem garantia em alguns casos ou que a economia perdeu. O que fez a Caixa para reduzir o malparado em 2017 num montante de 2,7 mil milhões de euros?
Uma das condições para o aumento de capital da Caixa não ser considerado uma ajuda de Estado, foi fazer esse aumento nas mesmas condições de um investidor privado. Houve a necessidade de rever um conjunto de ativos e de acautelar que este novo capital não fosse diluído e que as imparidades estivessem corretas. Isso foi feito e ficou registado a 31 de dezembro de 2016. Houve uma parte que foi subjacente à própria recapitalização e com um registo significativo de imparidades.
"A Caixa tem coisas que não estavam bem e precisavam de ser melhoradas, mas há coisas que a Caixa tinha muito bem. A Caixa é uma marca formidável.”
Não foi excessivo logo aí? A Caixa não registou mais imparidades do que aquelas que necessitava?
A Caixa registou menos imparidades do que aquelas que o mercado estava à espera e do que tinha sido anunciado, teve um resultado negativo menor do que aquele que estava estimado e, por consequência disso, teve um aumento de capital do Estado menor do que estava previsto. A Caixa fez logo um ajustamento de início para que não fossem necessárias imparidades tão elevadas e não fosse necessário ter um resultado negativo tão elevado.
Agora, há uma coisa que é certa: o resultado da Caixa depende fortemente do desempenho da economia portuguesa. O maior banco português depende das condições das famílias e das empresas portuguesas. Há um benefício claro para a Caixa como para os outros bancos e para a generalidade dos agentes económicos: temos um maior crescimento económico do que estava previsto há 14 meses e as previsões de então eram mesmo muito diferentes.
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