Novo Banco está assim tão mal? Fomos comparar com os outros bancos
Até ao Novo Banco, o setor financeiro preparava-se para ter lucros. Mas o banco teve prejuízos recorde com as elevadas imparidades. Aumentou depósitos, mas os resultados operacionais deterioraram-se.
A Caixa Geral de Depósitos (CGD), o Santander Totta, o BCP e o BPI já recuperaram da crise. Apresentaram todos lucros, mas o saldo do setor financeiro nacional voltou a ser negativo. Os grandes bancos portugueses, no seu conjunto, perderam mais de 700 milhões de euros no ano passado, mas só por causa de uma única instituição: o Novo Banco. Teve prejuízos recorde. As elevadas imparidades afundaram as contas do banco, mas terão sido as únicas culpadas pelo mau desempenho?
O banco criado após a resolução do Banco Espírito Santo teve os maiores prejuízos da sua breve história, contabilizando perdas de 1,4 mil milhões de euros. São já 13 trimestres — dos 14 que tem de vida — de resultados negativos para a instituição liderada por António Ramalho. Um desempenho que se justifica pelas elevadas imparidades que têm sido registadas num processo de limpeza de balanço. Essas imparidades atingiram o valor de 2.057 milhões de euros.
E olhando para o desempenho operacional do Novo Banco, como é que este se compara com o do setor? Desde o produto bancário à margem financeira, os números mostram uma evolução negativa. Apenas nos depósitos dos clientes o Novo Banco consegue brilhar, também com a ajuda do chamado LME, o mecanismo a que o banco recorreu para conseguir a almofada que lhe abriu a porta à venda ao Lone Star.
Lucros caem. Imparidades aumentam
O Novo Banco apresentou prejuízos recorde de 1.395 milhões de euros, num período em que todos os grandes bancos conseguiram ganhar dinheiro. Este desempenho, o pior de sempre, justifica-se pelas elevadas imparidades registadas no processo de limpeza de balanço.
Bancos estão a recuperar… à exceção do Novo Banco
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Se em 2015 foram registadas 1.057,9 milhões em imparidades, no ano seguinte este valor subiu para 1.374,7 milhões de euros. Um esforço que continuou em 2017. No ano passado, o banco reconheceu 2.057 milhões de euros em imparidades, sendo que o fundo norte-americano tomou conta do banco só em outubro.
O valor de imparidades reconhecidas nas contas por parte do Novo Banco representa perto de dois terços do total das imparidades registadas pelo setor. A CGD e o BCP registaram mais de 600 milhões de euros, cada um.
Produto bancário cai. Margem financeira derrapa
O produto bancário comercial do Novo Banco, onde se incluem a margem financeira, as comissões relativas a serviços bancários, os resultados das operações financeiras, os rendimentos de instrumentos de capital e outros proveitos de exploração, foram de 719,4 milhões de euros no ano passado, em comparação com 791,6 milhões no ano anterior. É uma queda de 9% quando se comparam os dois períodos, o que mostra a degradação da atividade do banco.
Mas não foi o único banco a registar uma queda do produto. O BPI e Totta acompanharam, mas não o banco estatal. A CGD apresentou no ano passado um crescimento expressivo do produto bancário: 38,09% para 1.965 milhões de euros.
Na apresentação dos resultados do Novo Banco, o presidente da instituição financeira, António Ramalho, afirmou que esta queda se deveu à desalavancagem da atividade de crédito. Isto levou a uma redução da margem financeira, que não foi compensada por um aumento das comissões cobradas pela instituição.
A diferença entre juros cobrados em créditos e juros pagos em depósitos situou-se nos 397,57 milhões de euros — tinha sido de 514,48 milhões no ano anterior.
Depósitos… mas poucos créditos
A diminuição da concessão de crédito é uma tendência transversal ao setor bancário, não sendo uma característica única do Novo Banco. Mas, no caso desta instituição financeira, a queda dos créditos — de 33,75 mil milhões para 31,42 mil milhões de euros no ano passado — reflete também o esforço de limpeza das imparidades, tal como aconteceu na CGD e BCP. A exceção à regra é o BPI, mas também o banco liderado por Vieira Monteiro. O Santander Totta, agora já com o Popular totalmente integrado, registou um aumento de 25%, beneficiando exatamente dessa compra.
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"O banco, como o conhecem, só existe há seis meses.”
Foi esta diminuição do créditos e o aumento dos depósitos no Novo Banco que levou a uma redução do rácio de transformação para 88%, em comparação com os anteriores 110%. São já três os bancos portugueses com este rácio abaixo de 100%. Além do Novo Banco, há a CGD e o BCP. Foi, explicou Ramalho, uma necessidade, para o Novo Banco se libertar de maus créditos e poder, a partir de agora, ter um rácio suficientemente baixo de base para procurar novos clientes (leia-se financiamentos).
Recursos recuam. Mas LME ajuda depósitos
Os recursos dos clientes, onde se incluem os depósitos, seguros e outros produtos, também recuaram no Novo Banco — só a CGD registou também uma quebra, enquanto o Totta aumentou-os com o Popular. Passaram de 39,6 mil milhões para 39,15 mil milhões de euros. Isto reflete a desconsolidação do GNB Vida. O ramo segurador do Novo Banco foi colocado à venda no ano passado, tendo neste momento apenas um interessado: a Global Bankers, que oferece 250 milhões.
Os depósitos do Novo Banco, esses, subiram 4,1 mil milhões de euros. Ou seja, mais 16,1% do que no ano anterior. Mas é preciso ter em conta que, deste montante, 1,8 mil milhões resultam da operação de Liability Management Exercise, ou LME na sigla em inglês, quando o banco recomprou mais de 4,7 mil milhões de euros em obrigações, garantindo um reforço dos rácios de capital e cumprindo uma das principais condições para que se concretizasse a venda do Novo Banco ao Lone Star. Muito desses obrigacionistas converteram, nessa operação, os seus produtos de dívida em depósitos.
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