Michael O’Leary: “Os trabalhadores são livres de fazer greve, nós somos livres de operar voos extra”

O presidente executivo da Ryanair garante que a companhia aérea não violou qualquer lei em Portugal. Acusa o sindicato "composto por tripulantes da TAP" de mentir.

Os tripulantes de cabine da Ryanair fizeram uma greve de três dias que terminou na semana passada. Entre acusações de violação da legislação portuguesa e de desrespeito pelo direito à greve, a companhia aérea irlandesa defende-se dizendo que não violou qualquer lei e que os trabalhadores da lowcost gostam das condições que lhes são oferecidas.

Em entrevista ao ECO, Michael O’Leary, presidente executivo da Ryanair, responde às críticas de forma clara. Violaram a lei? “Nenhuma lei foi violada”. Foram buscar tripulações de outras bases para contrariar a greve? “Não é verdade. Conseguimos operar a maioria dos voos porque os nossos tripulantes portugueses trabalharam normalmente”. A Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) foi impedida de inspecionar a Ryanair nos dias da greve? “Disparate”. Anteveem mais conflitos com os trabalhadores? “O que temos é um sindicato da TAP a contar mentiras”.

A Ryanair foi acusada de não respeitar o direito à greve dos tripulantes de cabine. Como reage a essas acusações?

Completamente falso. Houve várias falsas acusações por parte dos sindicatos. A primeira é que violámos a lei portuguesa, quando é claro que não violámos qualquer lei. A segunda é que não respeitamos os trabalhadores. Respeitamos totalmente o direito à greve destes trabalhadores. O problema do sindicato é que menos de 10% dos trabalhadores fizeram greve. 90% dos nossos tripulantes trabalharam normalmente, razão pela qual cancelámos menos de 20 voos, num total de 200 voos diários que operamos de e para Portugal.

O sindicato convocou greve sem sequer se reunir connosco. Foi uma greve convocada pelo Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), composto por tripulantes da TAP. Convidamo-los a reunirem-se connosco em Dublin e em Lisboa e recusaram-se. Fizeram três dias de greve que não foram bem-sucedidos. Os nossos tripulantes trabalharam normalmente.

Michael O’Leary, presidente executivo da Ryanair, acusa os sindicatos de dizerem mentiras sobre a companhia aérea.Paula Nunes / ECO

Foram buscar tripulações a outras bases fora de Portugal?

Não é verdade. Conseguimos operar a maioria dos voos porque os nossos tripulantes portugueses trabalharam normalmente. Também operámos voos com aviões baseados na Holanda, Reino Unido e Irlanda, porque é isso que as companhias aéreas fazem. Operamos 200 voos por dia de e para Portugal. Desses, 100 partem das bases do Porto, Lisboa, Faro e Ponta Delgada. Os outros 100 voam para Portugal a partir do Reino Unido, Irlanda, Holanda, Itália, França, etc. Tudo o que fizemos foi operar mais voos a partir dessas bases. Isto é perfeitamente legal. Quer gostem ou não, os sindicatos portugueses são parte da União Europeia e uma das chaves da União Europeia é a liberdade do trabalho. Os trabalhadores são livres de fazer greve, mas nós somos livres de operar voos extra em aeronaves baseadas em Portugal ou fora de Portugal, para que não prejudiquemos aqueles que querem visitar Portugal. Nenhuma lei foi violada. Os sindicatos estão a dizer muitas coisas falsas.

O sindicato disse que a Ryanair operou voos vazios a partir de Portugal para ir buscar tripulação a outras bases. Não é verdade?

Não é verdade. Também não é verdade que tenhamos violado a lei. A lei diz que não podemos contratar mais trabalhadores depois de a greve ter sido convocada e pô-los a fazer o trabalho. Não contratámos ninguém. Também diz que não podemos contratar empresas externas para fazer esse trabalho. Também não fizemos isso. Não violámos a lei. O que me desilude é que ninguém na comunicação social portuguesa pergunta aos sindicatos que lei está a ser violada.

Os trabalhadores são livres de fazer greve, mas nós somos livres de operar voos extra em aeronaves baseadas em Portugal ou fora de Portugal.

Michael O'Leary

Presidente executivo da Ryanair

Foram contactados pela ACT?

A ACT teve inspetores nos aeroportos no segundo e terceiro dias de greve.

E conseguiram fazer o seu trabalho? Há relatos de inspetores da ACT que não conseguiram contactar com tripulantes da Ryanair, impedidos pela administração da empresa.

Disparate.

Foram contactados pela ACT?

Eles estiveram nos aeroportos nos dias da greve. Isso é ser contactado pela autoridade? Escrevemos à autoridade, confirmando que não houve quaisquer leis violadas, e pedimos uma reunião à ACT. Os inspetores da ACT não podem entrar nos aviões. Eles não têm de estar a bordo dos aviões, isso é interferir com a segurança.

“Não violámos a lei”, garante Michael O’Leary.Paula Nunes / ECO

Admitem investir menos em Portugal se a turbulência com os trabalhadores se mantiver?

Não me parece. Anunciámos em setembro que iríamos iniciar as negociações com os sindicatos. É inevitável que tenhamos problemas com os sindicatos durante um ou dois anos. O que nos desilude é que o sindicato composto por tripulantes da TAP se recuse a reunir connosco. Qual é o motivo da greve? Querem aumentos salariais? Os tripulantes da Ryanair ganham entre 30 e 40 mil euros por ano. É o dobro do que os enfermeiros portugueses ganham, é o dobro do que os professores portugueses ganham. O sindicato quer que a Ryanair respeite a legislação portuguesa. Os nossos tripulantes não querem contratos portugueses. O salário mínimo na Irlanda é 9,55 euros por hora, é o triplo do que se paga em Portugal. Abonos de família: mais de sete vezes o que se paga em Portugal. Licença parental: é o dobro na Irlanda. Quando a União Europeia alterou a regulação relativa à Segurança Social, em 2012, todos os nosso pilotos e tripulantes portugueses podiam optar, se quisessem, pela Segurança Social portuguesa. Nenhum quis. Porque as provisões irlandesas são melhores.

O que temos é um sindicato da TAP a contar mentiras. Não faz mal. Eles podem contar mentiras, se quiserem. O que devem explicar é porque é que convocaram três dias de greve sem se reunirem com a administração da Ryanair. Já os convidámos para se reunirem connosco no dia 20 de abril e, até agora, não tivemos resposta a esse convite.

O que temos é um sindicato da TAP a contar mentiras. Não faz mal, eles podem contar mentiras se quiserem. O que devem explicar é porque é que convocaram três dias de greve sem se reunirem com a administração da Ryanair.

Michael O'Leary

Presidente executivo da Ryanair

Está preocupado com mais greves noutros sindicatos europeus? Teme uma greve europeia?

Não existe “greve europeia”, isso é ilegal. Os sindicatos têm poder de negociação aqui, em Portugal, não têm o direito de fazer uma greve na Alemanha, e os alemães não têm o direito de fazer uma greve em Portugal. Alguém pode ouvir os nossos tripulantes? Porque é que os três dias de greve não foram bem-sucedidos? Sobretudo, porque os nossos tripulantes e pilotos nas nossas quatro bases em Portugal reconhecem que são bem pagos, estão felizes com o que nós fazemos.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Michael O’Leary: “Os trabalhadores são livres de fazer greve, nós somos livres de operar voos extra”

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião